Decidir que o nosso sádhana ultrapasse as paredes de uma sala de prática requer observação permanente ao que e como sentimos, pensamos, agimos. Questionar e tentar compreender as limitações que roubam um sentimento de plenitude é tudo menos uma perda de tempo, totózisse, e coisa de gente desocupada como ouço algumas vezes. Hoje percebo que não é solução para transcender tais limitações, fugir, fingir, camuflar, esquecer, e optar por "deixar para lá"! Percebo que essas coisas nunca são tarde para se resolverem e compreenderem! Percebo que não se trata de uma mera imaturidade ou de "coisinhas" típicas de uma menina adolescente! Tem factos que precisam mesmo sair daquele "velho baú"...
Desenvolver um estado de plenitude requer uma relação harmoniosa com o seu corpo, com os padrões dos seus pensamentos e sentimentos, requer emoções estáveis e clareza mental. Como se sentir plena quando não se está em paz com o seu corpo? Porque desejamos seios fartos, seios pequenos, seios firmes? Porque olhamos com desdém o nosso nariz que não corresponde ao mentalmente padronizado como belo? Porque dizer que gostava do nariz pequeno, a boca carnuda, os olhos rasgados? Porque surge o complexo, a vergonha e a necessidade de se auto estimar? E quem já prestou atenção de como tudo isto influencia a nossa acção? Agora eu pergunto, é coisa para não se valorizar? É coisa que não merece o tempo necessário para se compreender?
Como se sentir plena quando não se está em paz com a nossa atitude perante a vida, as pessoas, a natureza, o mundo? Porque se deseja o otimismo, o brilho no olhar, o brilho no sorriso, a doçura e amor nas palavras e gestos? Porque se chora, sofre, anseia e desespera?
Agora eu pergunto, é coisa para "deixar para lá"?
Não, não creio!
Olhar e aceitar as nossas "totózisses" é o primeiro passo em direcção à transcendência de um ser egóico, que tende a se identificar com tudo o que a sua mente assimilou ao longo das suas experiências de vida, da cultura, dos princípios e valores transmitidos. Por exemplo, qual a nossa relação com o nu? De onde vem a vergonha e constrangimento? Se tivéssemos nascido numa qualquer tribo Indígena certamente teríamos outra relação com o nosso corpo. Talvez olhássemos para ele não apenas como algo capaz de seduzir, atrair e dar prazer mas como algo que é divino e inteligente! E aí pouco importavam os seios pequenos ou nariz grande (risos)!
Viver no ciclo vicioso, fechar os olhos à nossa realidade e compensar frustrações é caminhar com um sorriso forçado, aparente auto estima e segurança, em direcção à doença, ao cansaço! É deitar fora a oportunidade que a vida nos dá de sentir e perceber algo que existe dentro de nós, que se encontra fechado pela chave da ignorância.