segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Reflexão #12 - Felicidade Sou

imagem retirada da internet

Ouvir sobre ananda svarupah conduziu-me à reflexão e à escrita destas palavras que inquietam e simultaneamente aquietam o meu coração. Observando-me, observando o que me rodeia, constato, efectivamente, que o que estamos acostumados a chamar de felicidade são migalhas que saciam momentaneamente mas que na verdade não suprem a fome de paz, amor, contentamento, quietude, plenitude. Isso é obra de quem ousa se recusar alimentar de doces e amargas sobras. Poderão estas palavras soar a pretensão quando escutadas no ruído de uma sinfonia mental. Mas se por instantes nos permitirmos ficar em silêncio e escutar a sinfonia do coração, saberemos que se trata da mais pura e bela verdade.
Colocar a responsabilidade de me ver inteiro, pleno e feliz em pessoas, coisas, situações e circunstâncias é como agarrar no passarinho e prendê-lo numa gaiola. Ainda que estimado e alimentado jamais poderá saber o quanto as suas asas batem forte, jamais poderá saber de que formas pode voar, em quantas flores poisar e se nas intempéries pode cantar. Na verdade será mais um ser a desconhecer a sua natureza. E profundamente amargurado, triste e só, se conformará com migalhas, se distrairá com o pequeno baloiço e os esporádicos assobios. Mas nunca a sua natureza deixará de ser e existir e a cada momento que a porta da gaiola se abrir, ele vai querer bater as asas e voar. 
Assim é com o nosso coração… que aparentemente se contenta com os doces da vida desesperando-se com os amargos. Na verdade também ele é um passarinho na gaiola desejando bater as asas e voar, pois liberdade, felicidade é a sua natureza.
Muitas são as vezes que questiono, como dar expressão ao imenso que habita no peito? Como viver a vida tal qual gostaria? E num processo mental já se estrutura, idealiza, projecta e se define um propósito de vida. Mas… algo não bate certo, algo não é suficiente, algo carece por entre os mais belos e brilhantes sorrisos, actos de bondade, obras dignas, prestigiadas e as mil e uma formas de se expressar amor… porque o imenso que habita no peito não tem inicio, não tem fim, não tem forma, espaço, tempo… como pretender que algo ilimitado assuma a forma de uma experiência que é logicamente limitada? Como desejar que corpo e mente sejam hábeis na representação de tal grandiosidade? Como a sua natureza limitada e condicionada pode traduzir o que é livre e ilimitado? Não faz sentido.
Ananda reconhece-se porque sempre presente e por isso o impulso, o desejo, a força interna de querer viver a vida de um determinado jeito, inconformada com as gaiolas, profundamente triste de saber que seus semelhantes se maltratam, se violentam, se destroem de forma atroz.
Ananda reconhece-se no sorriso de uma piada, no abraço da filha que espontaneamente diz “obrigada mamã”, nas lágrimas de saber que mulheres e crianças são brutalmente violentadas, escravizadas, assassinadas.
Ananda dá realidade ao “quarto escuro”, ao desespero de não entender os meus sentimentos, emoções, pensamentos. O quarto é escuro porque ananda é luz e as janelas estão fechadas. Logo que se abram pequenas brechas ele deixará de ser totalmente escuro… e se ousar abrir as janelas completamente entenderei que afinal o quarto é luz. E de coração leve, destemido poderei finalmente apreciar o quarto.

Sónia

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