imagem retirada da internet
Iniciei
a prática de yoga com maior compromisso e profundidade após o nascimento da
minha filha e através de uma formação intensiva em asthanga vinyasa yoga. Expor
o meu corpo, mente ao método iniciou um processo de escuta, observação,
trazendo à superfície padrões de pensar, sentir, agir e com isso os abençoados
conflitos internos que me fizeram chegar até aqui e me impulsionam na busca
pelo entendimento de quem sou. Essa é uma longa jornada que nos espreme para
dar lugar ao néctar que nos habita. Desengane-se aquele que acha que é no
conforto, segurança, controle, conveniência que se apresenta para nós. Usando
lógica e raciocínio talvez tampouco houvessem mestres, tradições, obras
sagradas, métodos, terapias e tudo mais, se afinal a vida e o entendimento do
seu propósito fosse assim tão fácil e no primeiro virar de esquina. Não… talvez
isso agrade os nossos sentidos, a covardia da nossa mente e o apego à
identidade que carregamos. É tão subtil que até mesmo posso construir a imagem
do tal professor, do iluminado, do grande conhecedor de todas as coisas ou até
mesmo a imagem do descontraído que deixa a vida fluir, que é muito seguro de si
e das suas convicções e que usufrui a vida com a dança que mais gosta, insensível
à percepção daquela que mais precisa.
Tenho-me
exposto a várias experiências, entrado em contacto com vários professores,
grupos e constato que o que faz a diferença neste universo de yoga,
autoconhecimento, espiritualidade é a capacidade de doar amor desinteressadamente
e com a maestria de fazer do aluno um ser digno, integro pelo reconhecimento da
sua natureza fundamental. Esse processo é tão profundo, inteligente, minucioso,
preciso tal qual uma cirurgia, que de facto é muito raro e uma bênção quando
presenteados com tal. Vestir um papel de professor e aluno requer um
compromisso interno que exige de nós a capacidade de colocar fora de jogo por
instantes, os nossos desejos, as nossas fantasias, as nossas carências para ser
capaz de dar força ao outro de se descobrir por si mesmo. Por essa razão se diz
que essa relação é tão intima, sagrada e para lá do que nos convém, do que nos
dá prazer. Tarde ou cedo, esgotar-se-á e a pressa de viver, saborear roubará a
oportunidade de saber o que isso é de verdade. Saber esse, que um corpo e
coração reconhece numa paz inabalável, numa firmeza gentil, amorosa, compassiva
que tudo acolhe, ampara.
Podemos
passar a vida no ponto socorro a levar o soro necessário para se sentir melhor,
com mais ânimo. O corpo e a mente aparentemente mais fortes porque as dependências
são alimentadas mas logo, logo o soro acaba e o que resta é a dor da
dependência que precisa ser compreendida na sua origem e raiz. Para tal, não
são as palavras bonitas, os sorrisos rasgados, as belas imagens, as deliciosas
experiências ou o acumulo de conhecimentos. É o compromisso interno, é o desejo
de querer descobrir a força criativa da vida, a força vital por detrás da
ignorância relativamente a sexualidade, segurança, sobrevivência, amor, raiva,
inveja, ciúme, vingança, competição e a própria prática de yoga, métodos,
meditação, técnicas de respiração e etc.
É o
compromisso de saber que yoga, energias e as mais variadas terapias são meros
pontos de socorro que desempenham um papel importante, mas que por si só não
respondem à força maior que nos habita e que por essa razão nos coloca num
conjunto de dinâmicas que esgotem todas as tentativas frustradas.
Porque
necessitamos de levar o corpo físico à performance de 6 ou 7 series de posturas
propostas, por exemplo, no método do ashtanga? O que está efetivamente por
detrás desse método, dessa proposta? E se por qualquer motivo ficar incapacitado
de praticar? E se com todas as condições eu praticar, alcançar uma condição física
aberta para percecionar energia, força, vitalidade e ainda assim sentir um
vazio dentro de mim, que preciso compensar com mais e mais técnica,
conhecimento, acreditando ser Deus ao invés de sentir Deus? E o que é isso de
sentir Deus?
Tenho
observado que é esse entendimento profundo que inspira neste meu processo e
colocar-me diante das dificuldades, experiências as ferramentas necessárias
para clarear a mente, direcionar os passos, escolhas, decisões e sobretudo
descobrir o calor de um coração que nutre, alimenta este corpo, esta mente para
que assim se possa doar, livremente, diante dos demais.
Talvez
seja esta a prosperidade, abundância da vida…
Jaya
Mahalakshmi!
HarihOm
Sónia
Andrade.