imagem retirada da internet
Quando estamos emocionalmente envolvidos numa trama, a mente
assume com muita força a existência dos heróis, os vilões, os malfeitores, os
benfeitores e por aí vai. Dependendo do personagem que mais nos alicia,
procuraremos no mundo interno e externo a energia que o alimente, pois sem ele
comprometo a identidade que criei, o papel, o propósito de viver e por aí vai.
Com toda a lógica e de forma bem inconsciente, coloco-me num jogo de
dependência que naturalmente é frágil e volátil. Em momentos de grandes perdas
e com uma mente não preparada para o tranco, é quase instinto de sobrevivência
procurar o fôlego, a mão que nos ajude a descobrir uma nova força, motivação
para seguir em frente. Quando presos na roda da vida, no samsara, como falamos
na tradição védica e também no budismo, é muito natural procurar a situação que
tape aparentemente o buraco que uma perda nos traz. Então, será muito excitante
novas relações, novas experiências, novas amizades, novos projectos, novas
dinâmicas e elas estarão super ampliadas pela natural carência e necessidades
humanas. Dependendo do universo mental de cada um, veremos as mais diversas
formas de se apresentar diante do mundo, pessoas, vida. Quando procuramos por
autoconhecimento não procuramos fugir da limitação e condicionamento humano,
senão ganhar a consciência de tal, a maestria na acção para se relacionar com o
fenómeno e o entendimento de que a natureza fundamental do individuo é livre
diante desse processo. Quando isso ocorre, estamos na descoberta da fonte de
energia vital que nos dá a mão para nos retirar de um jogo de dependência,
manipulação, vitimização e etc. Ao conectar-se com essa realidade, estamos a
ter oportunidade de ver com clareza onde nos emaranhamos, de onde nos queremos desenvencilhar,
como podemos fazer diferente, a descobrir prazeres e desejos mais profundos que
nos dão a força necessária para ir largando velhos padrões e tendências. Profundamente,
quando nos colocamos diante deste compromisso em crescer, amadurecer, descobrir
o real propósito da vida, estamos numa relação intima com nós mesmos que não se
opõe a nenhum outro tipo de relação. De verdade, quando procuro relacionar-me
intimamente e com maturidade com um outro, estou a desejar tê-la comigo mesmo.
Quando assim é, nenhuma interacção é superficial e sempre convida a um
agradecimento. As experiências deixam de ter o drama fatídico para passarem a
ser o material de estudo que nos ajudam a posicionar diante do que gosto, não
gosto, quero e não quero, preciso ou não. Escutar isso com presença e amor é oferecer
aos demais a integridade e dignidade que toda e qualquer relação deve ter.
HarihOm
Sónia A.