quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Yoga? Yamas de Patanjali? Porquê?

                                                                  imagem retirada da internet 

Quando lemos os sutras de Patanjali observamos que Yoga foi sistematizado em oito partes, chamado de ashtanga Yoga. A sua obra é uma espécie de manual prático que nos auxilia e nos conduz na direcção de um estilo de vida favorável ao entendimento da nossa natureza essencial que é ananda, ou seja, felicidade e plenitude. Então, quando nos dirigimos a uma determinada sala de prática de yoga e olhamos à nossa volta tapetes estendidos e pessoas a fazer as mais elaboradas posturas físicas, contracções abdominais, respirações, a vocalizar sons e palavras “estranhas”, sentados, imóveis por largo período de tempo, etc, julgamos e resumimos yoga àquelas actividades. Com facilidade dizemos, eu pratico yoga.
Em todo o caso a prática de yoga, uma vida de yoga é bem mais profunda do que aquilo que nos traz um certo nível de satisfação, bem-estar, equilíbrio, saúde e felicidade. É necessário entender-se fundamentalmente, além actividades, além si mesmo e para isso a mente precisa de estar qualificada, preparada. Então, os oito passos que Patanjali propõe cumprem esse propósito, aquietar a mente para o autoconhecimento.
Interessantemente, o primeiro passo, a primeira prática que Patanjali apresenta é Yama.
Yama é uma palavra em sânscrito que significa abstinência, como podemos ler nos Sutras de Patanjali. Mas abster-se do quê? Qual o intuito?
Efectivamente sem atender a este primeiro passo, Yoga não brilha em nós, na nossa vida e tampouco nos leva ao vislumbre, entendimento claro e objectivo do ser livre, simples, espontâneo e feliz que somos. Naturalmente amoroso e compassivo. No máximo caminharemos num corpo esbelto, saudável, forte e cheio de energia, com uma mente focada, objectiva, cheios de planos, acumulando grandes feitos e realizações, com um estilo de vida “zen”, mas com um coração insaciável que não reconhece a sua natureza e à qual não pode fugir.
Patanjali diz-nos que violência, roubo, ganância, possessividade com pessoas, objectos, ausência de verdade, de harmonia entre pensamento, palavra e acção, distancia-nos da nossa natureza livre e amorosa. E que portanto nos condicionam e nos causam dor e sofrimento.
Apesar de Patanjali escrever e lembrar quais os princípios, de forma inata nós os sabemos. De facto trata-se de valores humanos que não se aprendem, que vibram naturalmente em cada um de nós. Para saber isso basta parar um pouco e questionar sentimentos e emoções quando alguém me agride com actos e palavras, quando alguém mente ou me rouba, como me sinto sufocada em querer realizar tudo o que desejo, tudo o que anseio, como é triste a minha suposta felicidade depender do amor de outro, de coisas, de situações. Esta realidade está aí para nós a podermos analisar, abraçar e acolher. Talvez ainda camuflada em grandes ilusões, expectativas, mentiras, medos, etc,  mas  a vibrar em cada lágrima de raiva, ódio, mágoa e desespero, em cada corrida contra o tempo e aparente sucesso.
Yamas são alicerces na construção de uma vida de yoga que se traduzem numa atitude favorável para que a minha mente seja capaz de entender quem sou eu.
De nada adianta a habilidade de executar magníficas e exuberantes posturas de yoga, de nada adianta escrever amor, falar amor, de nada adianta uma mente clara, objectiva, determinada, focada, de nada adianta o conhecimento de tradições, de nomes, conceitos, se não reconheço a humanidade e sensibilidade em mim. Então, a proposta de Patanjali inicia-se assim… cultivar princípios e valores que vão ao encontro da minha natureza essencial e que permite à mente atingir uma paz relativa, que contribuiu para ser capaz de vislumbrar o que sou, aqui, agora, sempre presente, imutável e eterno.   
Como disse o Swami Sai Baba, primeiro ser de coração, segundo ser de cabeça e terceiro ser de mãos.

Om

Sónia.

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