Quando
lemos os sutras de Patanjali observamos que Yoga foi sistematizado em oito
partes, chamado de ashtanga Yoga. A sua obra é uma espécie de manual prático
que nos auxilia e nos conduz na direcção de um estilo de vida favorável ao
entendimento da nossa natureza essencial que é ananda, ou seja, felicidade e
plenitude. Então, quando nos dirigimos a uma determinada sala de prática de
yoga e olhamos à nossa volta tapetes estendidos e pessoas a fazer as mais
elaboradas posturas físicas, contracções abdominais, respirações, a vocalizar sons
e palavras “estranhas”, sentados, imóveis por largo período de tempo, etc,
julgamos e resumimos yoga àquelas actividades. Com facilidade dizemos, eu
pratico yoga.
Em todo
o caso a prática de yoga, uma vida de yoga é bem mais profunda do que aquilo
que nos traz um certo nível de satisfação, bem-estar, equilíbrio, saúde e
felicidade. É necessário entender-se fundamentalmente, além actividades, além
si mesmo e para isso a mente precisa de estar qualificada, preparada. Então, os
oito passos que Patanjali propõe cumprem esse propósito, aquietar a mente para
o autoconhecimento.
Interessantemente,
o primeiro passo, a primeira prática que Patanjali apresenta é Yama.
Yama
é uma palavra em sânscrito que significa abstinência, como podemos ler nos
Sutras de Patanjali. Mas abster-se do quê? Qual o intuito?
Efectivamente
sem atender a este primeiro passo, Yoga não brilha em nós, na nossa vida e tampouco
nos leva ao vislumbre, entendimento claro e objectivo do ser livre, simples, espontâneo
e feliz que somos. Naturalmente amoroso e compassivo. No máximo caminharemos
num corpo esbelto, saudável, forte e cheio de energia, com uma mente focada, objectiva,
cheios de planos, acumulando grandes feitos e realizações, com um estilo de
vida “zen”, mas com um coração insaciável que não reconhece a sua natureza e à
qual não pode fugir.
Patanjali
diz-nos que violência, roubo, ganância, possessividade com pessoas, objectos,
ausência de verdade, de harmonia entre pensamento, palavra e acção, distancia-nos
da nossa natureza livre e amorosa. E que portanto nos condicionam e nos causam
dor e sofrimento.
Apesar
de Patanjali escrever e lembrar quais os princípios, de forma inata nós os
sabemos. De facto trata-se de valores humanos que não se aprendem, que vibram
naturalmente em cada um de nós. Para saber isso basta parar um pouco e
questionar sentimentos e emoções quando alguém me agride com actos e palavras,
quando alguém mente ou me rouba, como me sinto sufocada em querer realizar tudo
o que desejo, tudo o que anseio, como é triste a minha suposta felicidade
depender do amor de outro, de coisas, de situações. Esta realidade está aí para
nós a podermos analisar, abraçar e acolher. Talvez ainda camuflada em grandes
ilusões, expectativas, mentiras, medos, etc, mas a
vibrar em cada lágrima de raiva, ódio, mágoa e desespero, em cada corrida
contra o tempo e aparente sucesso.
Yamas
são alicerces na construção de uma vida de yoga que se traduzem numa atitude favorável
para que a minha mente seja capaz de entender quem sou eu.
De
nada adianta a habilidade de executar magníficas e exuberantes posturas de
yoga, de nada adianta escrever amor, falar amor, de nada adianta uma mente
clara, objectiva, determinada, focada, de nada adianta o conhecimento de
tradições, de nomes, conceitos, se não reconheço a humanidade e sensibilidade
em mim. Então, a proposta de Patanjali inicia-se assim… cultivar princípios e
valores que vão ao encontro da minha natureza essencial e que permite à mente
atingir uma paz relativa, que contribuiu para ser capaz de vislumbrar o que
sou, aqui, agora, sempre presente, imutável e eterno.
Como
disse o Swami Sai Baba, primeiro ser de coração, segundo ser de cabeça e
terceiro ser de mãos.
Om
Sónia.
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