Quando
corajosamente nos comprometemos descortinar os sofisticados e ardilosos
mecanismos da mente, criando um espaço para poder sentir, poder observar os
padrões de pensamento, desresponsabilizando os outros, as coisas, as situações,
destemendo o “monstro” em mim, alimentando-o de amor, atenção, compreensão,
habilito-me a entender as necessidades básicas de todo o ser humano, os valores
fundamentais intrínsecos à nossa existência e o problema fundamental de todos
nós.
Observo
como a mente é exímia a criar arquétipos da perfeição e como nos movemos ao
sabor de uma ânsia em reunir tudo o que possa tornar isso real, exequível. De
facto iniciamos esse processo em tenra idade quando construímos um ego, uma
individualidade, personalidade. Se prestarmos atenção nas nossas crianças
verificamos como elas nos tomam ídolos, nos imitam e nos seguem com toda a
inocência e confiança. Como se questionam e facilmente se sentem inadequadas,
feridas por conta da incompreensão da nossa imperfeição e falsidade da
perfeição. Talvez por isto seja tão urgente a mudança, a expansão da nossa
consciência. É isso que fará toda a diferença na hora de conduzir uma criança e
contribuir para um adulto capaz, realizado, responsável nos e pelos seus
diversos papeis num todo. Talvez seja esta a maior de todas as revoluções. A
tomada de consciência, o entendimento de quem sou eu além das aparentes
imperfeições e perfeições de um corpo e mente.
Perceber
que faz parte do psiquismo criar e fantasiar ídolos, arquétipos da perfeição e
observar que se encontram subtilmente emaranhados em tendências e padrões de
pensar que apenas projectam um conjunto de necessidades humanas e o desejo de
ser ver livre, feliz, inteiro e pleno, é dar oportunidade a uma genuína risada
de si mesmo, uma genuína risada do outro. Na verdade o outro não é diferente de
mim, eu não sou diferente do outro. Não há pessoas especiais, mais ou menos
importantes, muito ou pouco reconhecidas, muito ou pouco conceituadas. Pessoas
são só pessoas. Todos os “upgrades” são imagens criadas dentro da cabeça de
cada um de nós que ignorando a sua natureza básica busca espelhos para se ver digno
de amor.
Quanto
mais claro o entendimento de tal fenómeno menor o sofrimento proveniente da
desilusão que nasce da ilusão e consequentemente uma atitude objectiva, determinada,
consistente, com propósito nas acções, relacionamentos, escolhas, decisões.
Talvez possamos descobrir uma força interior imensurável, silenciosa, delicada
que nutre e nos nutre. Uma força que se
manifesta num humilde reconhecimento de fragilidades, carências, limitações.
Uma força que se manifesta nas lágrimas de felicidade pelas superações do outro
ou nas lágrimas de tristeza pelo sofrimento, ignorância do outro. Uma força que
não carece sobressair em gestos ou palavras. Uma força que por ser, já basta
e que reconhecida se posiciona ao serviço de todos.
Om
Sónia.
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