imagem retirada da internet
Todo
o ser humano é dotado de desejo por prazer sendo este um dos quatro objectivos
universais da sua busca. Podemos constatar tal facto desde bebé e tenra idade.
Quando vimos ao mundo completamente vulneráveis e entregues ao natural instinto
de sobrevivência e confiança verificamos a procura do seio da mãe, a procura do
colo, do aconchego e amor. Não é algo que se ensina ou se aprende, simplesmente
É e faz parte da inteligência de toda a criação. Como uma flor que desabrocha
sem que necessariamente seja semeada por alguém, que cresce entregue aos fenómenos
naturais que lhe permite viver esplendorosamente.
Prazer
é algo que vem junto com a criação e que me permite viver esta forma humana.
Um
bebé agarrar-se ao seio da mãe busca não só alimento como o prazer do aconchego,
protecção e amor. E assim dorme tranquilamente, nutrindo-o e contribuindo para
um crescimento saudável.
A
busca por prazer assume várias formas e pode satisfazer os meus sentidos, agradar
o meu ego ou simplesmente tocar o meu coração. Por exemplo eu posso querer uma
viola, tocar viola, não necessariamente porque quero ser cantora ou compositora
mas porque aquele momento em contacto com som, palavras, música faz-me sentir
dos mais variados jeitos que aprecio e me dão prazer. Também posso querer
viajar o mundo, ser exímia a nadar ou a fazer ásanas, viver um romance, conto
de fadas, comer pipocas, ser rica, poderosa ou simplesmente apreciar um pôr-do-sol,
ver a filha a brincar ou a dormir. Tudo tem associado a si o prazer.
Mas
então porque desejo e prazer me trazem tantos problemas? O que me leva a sentir
sua escrava? O que me leva a uma busca incessante sem que ela sacie o meu senso
de carência? Porque careço sempre mais? Porque tudo parece tão pouco e fugaz?
Apenas
e só porque ignoro a natureza das coisas assim como a minha. Então, estarei
procurando em todas elas o que me traz senso de felicidade, satisfação,
contentamento. Naturalmente isso é uma busca sem fim e eu estarei sempre
carecendo pois as coisas por si só não são susceptíveis de a saciar. A sua
natureza é mutável, impermanente. Se hoje tenho prazer em ouvir rock and rooll
e a maior felicidade é adquirir a colectânea dos AC DC, amanhã posso passar a apreciar
jazz e a colectânea que adquiri já não ser objecto da minha felicidade e ficar
esquecida nas prateleiras do quarto. Posso olhar, ter uma memória positiva, mas
aquilo já não sacia o meu actual desejo, já não me dá prazer. Outro exemplo é a
busca por um relacionamento perfeito que me traga imensa alegria, prazer,
satisfação, contentamento. É um tiro no espaço… não há relacionamentos
perfeitos e eles apenas espelham a luz e a sombra que há em mim. Idealizar o
outro como a fonte da minha felicidade é como andar num deserto à procura de
água que sacie a minha sede! No entanto eu pulo de relação em relação iludida
que isso resolverá o meu problema. Como? Se o meu problema também é problema do
outro? Hoje estou apaixonada porque finalmente encontrei a cara-metade, que é sensível,
bonito, charmoso, delicado e amanhã, quando o fogo esfria, deixo de estar
porque descubro que afinal não era… o príncipe vira sapo… e o pior é que teimo
nessa maluquice de encontrar cara-metade, príncipe e as mais hilariantes fantasias,
na tentativa de me ver feliz, inteira, realizada.
Desejos
e prazer fazem parte do psiquismo humano e nada de errado há com eles. No
entanto é importante entender a sua relatividade dentro da felicidade que já sou a todo o momento e que é livre da realização ou não realização de desejos, do prazer ou desprazer.
É importante entender que eu sou insatisfeito em mim mesmo e que não é o mundo
e pessoas que não me satisfaz. E se de verdade, prazer e desejos são limitados
em si mesmos, então apenas ocorrerão momentos ocasionais de prazer que da mesma
forma que vêm da mesma forma vão…
Desejos
e prazer tendem para infinito e quanto mais quero satisfazer todos eles para me
ver livre de carência, mais saberei o quanto careço.
Estarei
condenada a arder na fogueira ao invés de dançar ao seu redor…
Om
Sónia.