Ano novo, vida nova?! O que efectivamente muda? Não
repetimos nós velhos padrões de sempre usando apenas uma nova forma de
maquilhar a máscara?
Poderei eu assumir isso e ver-me autêntico, nu, vulnerável,
condicionado, limitado, impotente e por isso livre, pleno, amoroso, compassivo
e disponível para oferecer dons e talentos a uma mente que desce do trono de
cabeça erguida, certa de que não quer aquele posto?
A transição de um ano para o outro é celebrado como um
momento de renovação, de festa por mais um ano que se viveu, de reflexão, de
balanço do que se perdeu, conquistou, dos sucessos, das alegrias, das tristezas
e por aí vai. Cada um à sua maneira comemora de acordo com o valor atribuído a
cada uma dessas coisas. Uns comem como se o mundo fosse acabar amanhã, outros
bebem para esquecer, outros para extravasar uma aparente felicidade e alegria,
outros chorando e lamentando uma triste sina, outros refastelando-se em luxo, soberba,
outros rezando, confraternizando e comungando, outros criando rituais que
exaltam a beleza da vida, mas todos movidos por uma força comum… a força de uma
dor existencial.
Todos estamos num mesmo barco…. uns remando à frente, outros
mais atrás mas juntos num mesmo sentido…
É bonito perceber como por instantes a mente humana é
invadida por uma lufada de generosidade, bondade, votos cheios de felicidade,
amor. Como se por instantes ela relaxasse e abrisse as suas janelas para
receber alguns raios de luz, sol e calor. Uma super onda se forma e por
momentos rende-mo-nos à evidência da nossa natureza amorosa, simples e espontânea.
Tudo certo mas insuficiente.
Insuficiente as palavras bonitas, insuficiente as palavras
inspiradoras, insuficiente as doses de auto estima, insuficiente todas as
infinitas formas de auto desenvolvimento pessoal, insuficiente a escuta dos
mais entusiastas, envolventes, comoventes personagens com o dom da palavra,
insuficiente, inclusive, a presença do mais sábio mestre. Insuficiente todos os
sonhos do mundo, insuficiente toda a boa vontade, insuficiente toda a fantasia,
magia e até mesmo a maior alegria.
Para que tudo deixe o seu carácter transitório, superficial,
efémero e fugaz eu preciso ver além. Preciso tocar a dor existencial que não é
só minha mas de todos. Para isso preciso desmascarar-me… preciso de força,
coragem para olhar nos olhos o monstro em mim, criado na ardileza da mente e
por vezes assumindo formas tão subtis, revelando-se nos gestos aparentemente
mais puros e ingénuos. Preciso mudar o meu ângulo de visão e expandi-la.
Preciso de atenção e humildade no coração. Preciso assumir o orgulho, a
arrogância, ganância, o ciúme, a inveja, o medo, com toda a doçura, tolerância,
desapego do coração, com toda a agudeza, clareza, lógica e objectividade da
mente. Preciso colocá-la a serviço de algo maior que ela mesma, que lhe trará
em gesto de oferenda a real vitória, o real sucesso, a real alegria e bem-aventurança…
a luz, o amor, a liberdade que a sustentam e a possibilitam de criar um novo
mundo, uma nova era, uma nova sociedade.
Que todos os seres sejam prósperos e felizes
HarihOm
Sónia.
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