Quantos
de nós, pais em constante e permanente aprendizagem, crescimento, já não se viu
a cometer aqueles velhos padrões de sempre, que saltam no momento menos
esperado, automáticos e com tanta força que nos cegam e nos levam a fazer e
dizer tudo aquilo que gostaríamos que fosse diferente? Pois bem, eu sou um
desses, uma dessas… um adulto que carrega feridas, traumas, frustrações
profundas e que decidido a olhá-las de frente, assume a sua ignorância,
impotência, limitação e desejo de com tudo isso fazer diferente, melhor e de
acordo com a natureza amorosa, sensível, compassiva, que fundamentalmente nos
compõe.
Vestir
o papel do pai ou mãe que pretende adquirir um estatuto de bom, perfeito,
dedicado, consciente, porque fala de determinado modo, defende determinadas
ideologias, age segundo formas, maneiras e propósitos teorizados por estudiosos
e pessoas reconhecidas pelo imenso know how, sem assumir, reconhecer as suas
dores, fragilidades, vulnerabilidades, expondo abertamente para um filho com
toda a humildade, amor e vontade de poder fazer melhor e diferente, é como ir à
beira do mar mergulhar uma onda e ficar convencido que por isso conhece o
oceano.
Que
adianta falar de sentimentos, emoções, de gestão de conflitos, stress, educação
consciente e por aí vai, se sou intolerante aos meus erros, rotulando-me de
incapaz, de mais ou menos que este ou aquele? Se na mente desenhei um ideal
para se conquistar, um monte de tralha a se provar, de toda a culpa me livrar e
fantasiosamente ver-me amar? Sem
chance… na primeira contracurva vou espatifar-me entre um grito, um estalo, um
castigo, uma ordem… e o pior é que vou lamentar-me pelo sucedido e tentar
reparar o estrago com abracinhos, beijinhos, facilidades, permissividades,
passividades e por aí vai…
De
verdade não estarei a contribuir para que uma criança reconheça e se reconheça…
não estarei a contribuir para que ela cresça confiante com as suas
fragilidades, erros, dificuldades…
Estarei
a pintar na sua mente uma mera imagem e miragem...
Estarei
num mesmo ciclo de sempre mascarando-o apenas de novas formas e cores…
Educar
de forma autêntica e genuína é contribuir para seres autênticos e genuínos.
Para isso preciso escancarar os meus medos, descer do pedestal, ver quanto sou
limitado e condicionado, ver como carrego dor, sofrimento e fazer de tudo isso
o barro com o qual vou esculpir uma peça que comunica amor, paz e liberdade.
Juntos
nos esculpiremos…
Juntos
nos ajoelharemos num abraço que grita: “Amo-te” …
Juntos
lamentaremos, manifestaremos nosso desejo de aprender, escutar e crescer…
Juntos
pediremos aos deuses, às fadas, ao universo, sabedoria, acolhimento, amparo…
Juntos
daremos as mãos, caminharemos com a leveza de um coração que não exige, apenas
É, e uma mente que pacientemente se vai esculpindo manifestando e expressando
palavras, gestos amorosos, delicados, harmoniosos e pacíficos…
Juntos
nos comprometeremos e respeitaremos… a dor de uma criança que vê o seu cavalo
imaginário ser destruído e desconsiderado é a mesma do adulto que igualmente vê
as suas palavras, indicações e desejos…
Possamos
nós através das nossas crianças contar uma outra história e simultaneamente fazer
as pazes com a nossa…
Harih
Om
Sónia
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