imagem retirada da internet
Hoje
reflectia sobre a complexidade da mente humana e como os trâmites da forma como
opera são dotados de um conjunto de predisposições, as quais, só uma pequenina
parte está ao nosso alcance de compreensão e visão.
Reconhecer isso
internamente, não como uma crença mas sim como algo que se constata, que se
auto evidencia, é criar um espaço, um campo aberto para sentar, apreciar e com imparcialidade,
escutar, abraçar e amparar.
De
facto, quando nos descolamos da ideia que este corpo, mente e emoções sou Eu,
algo surpreendente acontece, como se a mente tivesse entrado e sentado diante
de um terapeuta para, relaxada, entregue, firme e confiante, contar-se e
revelar-se sem preconceitos, medos.
Ela
espera esse momento como a criança espera o colo, amparo da mãe e do pai, para
contar os seus devaneios, os seus sentimentos, medos, agonias, dores e
fantasias.
Passamos
a maior parte do tempo a renegar esse encontro, distraídos entre as histórias
de encantar, de terror, produzidas nela mesma, alimentadas por toxicidades que
viciam, e que aparentemente são susceptíveis de nos trazer a felicidade e paz
que tanto almejamos.
Quando
permiti-mos que se apresente diante dos nossos olhos exactamente como é,
saberemos como carrega uma espécie de loucura, bipolaridade, imaturidade e
simultaneamente uma inteligência capaz de transformar tudo isso em arte,
sabedoria, conhecimento, maturidade, amor, compaixão, apenas e só por
reconhecer a sua base fundamental e básica.
Olhando
tantos fenómenos tristes, cruéis e brutais no mundo, um choro, uma
incredulidade nos abate e muitas vezes sem que uma lágrima caia do rosto…
Todos
carregamos uma dor… uma dor que aparentemente parece só nossa, mas que na
verdade não é… a dor é existencial, universal e precisa ser olhada com clareza,
discernimento, lucidez, amor na palavra e na acção sincera, verdadeira,
honesta. E repare que não adianta ser o santo, o bem feitor, moralista… urge a
necessidade de ser o guerreiro… que pega na espada e batalha pela verdade,
certo dos obstáculos, adversidades, poder do “inimigo”…
Seria
de grande serviço oferecer às nossas crianças, adolescentes a possibilidade de
crescerem a saber da existência dessa realidade e de cedo, serem conduzidas
nesse vislumbre, tendo em conta os vários momentos de vida, maturidade por onde
passa a existência humana. Abrir para a possibilidade de os apetrechar de
ferramentas, de condições favoráveis, propícias. Talvez valores na sociedade
precisassem de ser invertidos para que tal se propagasse, não como um projeto
de vida que pertence a poucos, mas como condição ao alcance de todos.
Talvez
pais, filhos, amigos, comunidades, grupos precisem expor-se mais. Falar do que
sentem, pensam, fantasiam, desejam, gostariam, queriam. E que todas essas
palavras saíssem o mais nuas possíveis, livres de querer parecer alguma coisa
em detrimento do que se é em verdade. Ainda que elas possam doer a quem as
ouve, são dotadas de tanto amor que libertam, descansam.
Passar
a mão pela cabeça e dizer “como eu te compreendo”, “vai passar”, “Deus sabe o
que faz”, não resolve! Preciso contar-me, responsabilizar-me, querer-me,
resgatar-me! Preciso indignar-me, lamentar-me da farsa, mentira que me permito
viver! Preciso inclusive questionar Deus, questionar esta ordem maior! Preciso
entregar-me, não como um acto que me faz festinhas na barriga e me leva a
passear, entretendo-me por mais uns tempos, mas como constatação de que em
verdade nada controlo, nada escolho e decido.
HarihOm
Sónia
Andrade.
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