quinta-feira, 28 de julho de 2016

Reflexão # 68 - A Criança Ferida e Abandonada

imagem retirada da internet 

Muitas vezes na vida, relações vamos vestir o papel do menino/a ferido/a, abandonado/a, que entre lágrimas e soluços estende a mão pedindo amparo, conforto, ajuda para o aliviar de tanto sufoco.
Quando crianças fazemo-lo espontaneamente e por certo nem sempre será acolhido, atendido e compreendido. No alto da sua ignorância a criança percepciona como algo inadequado e longe de corresponder aos ideais de supostas pessoas fortes e bem resolvidas. A fantasia é montada de tal forma, que crescemos cultivando uma arrogância tão grande, que nos impede de ver como permanecemos a mesma criança vulnerável, ignorante, cheia de potencial divino, sabedoria pura e desacreditada, desvalorizada, maltratada, negligenciada, desencorajada para pedir ajuda e posicionar-se no mundo como deseja no mais íntimo do seu coração.
Se ousarmos investigar com profundidade, objectividade, veremos como nada nem ninguém, efectivamente, nos pode dar a mão e amparar com o amor, entrega, dedicação que tanto almejamos. O máximo que podemos encontrar são seres disponíveis, abertos, conectados com papéis e propósitos, para oferecer, momentaneamente, o que necessitamos. Óbvio que tal precisa ser verbalizado, manifestado, pedido, sob pena de se viver num espaço completamente fantasioso, onde desperdiçamos energia em suposições, imaginações, expectativas e afins.
De verdade cada um está por si e a fazer por si, escamoteando essa realidade entre manipulação, vitimização e as mais diversas formas de um ego que teme uma espécie de “morte”, uma perda de identidade, propriedade, controlo e poder.
Está tudo certo com ele. Apenas desempenha um papel na obra cinematográfica que é a vida humana. No entanto, se não o vislumbrarmos por esse ângulo, ele toma conta de nós, roubando o discernimento, clareza, objectividade para perceber que apenas se vive um filme que logo, logo chega ao fim e que não tem realidade própria.
Então, talvez seja tempo de resgatar essa força interna, essa doçura, inocência, pureza de criança, cultivando uma mente qualificada para reconstruir o papel de pai, de mãe e para estabelecer-se na visão real de quem somos nós.
Harih Om
Sónia A. 

Pensamentos Soltos # 74

imagem retirada da internet 

Tem uma hora que vou precisar de ser o pai que firme, amorosa e discretamente se senta no muro para apreciar o filho a brincar…
Sem interferir permito que explore, viva a brincadeira, aprenda a jogar, a perder, a ganhar…
Permito que dance, que lute, que fique sozinho quando assim o deseja, que converse quando assim o anseie ou que simplesmente repouse nos meus braços, quando assim o necessite…
Muitas serão as vezes que o vou ver cair, chorar, desesperar, contorcer de dor…
Muitas serão as vezes que o vou ver sorrir, gargalhar, extasiado de alegria…
Vou amparar, compartilhar, permanecer e de mansinho, sentá-lo no meu colo para contar-lhe os segredos que abrem o tesouro divino que carrega no seu coração…
Confidenciar-lhe-ei que a chave está consigo, pertinho das suas mãos… que não precisa distrair-se entre jogos, brincadeiras, fantasias e magias para a obter…
Passar-lhe-ei as minhas mãos quentes pela cabeça, pelo rosto e olho no olho, com segurança e confiança direi “Vai lá meu filho, esta missão é tua! Estamos juntos!”

Sónia A. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Pensamentos Soltos # 73


 Saberei que me olho nos olhos, procurando a minha mão, quando uma voz silenciosa, quente e doce sussurra no coração:

 “Gratidão!
Por não amares do jeito que fantasio…
Por não atenderes do jeito que imagino…
Pelo tempo, pelo espaço, pelo cansaço…
E por nem sempre me ofereceres o regaço…
Pelo silêncio que não ignora…
Pela distância que não incomoda…
Pela ausência que corrobora…
E a presença que elabora…” 

Sónia Andrade.

sábado, 23 de julho de 2016

Reflexão # 67 - Quando as Crianças nos Contam aquela História...


Hoje observava a tristeza, raiva da filha por não lhe ser concretizado o desejo de trazer os amigos até à sua casa. Na sua espontaneidade e ignorância xingava a mãe, a sua condição de filha única e gritava como era injusto, como os adultos eram chatos, como não sabiam brincar como as crianças.
Permanecendo em silêncio, deixando acontecer a catarse, podia sentir no meu coração uma espécie de empatia com aquela dor e com uma espécie de obstinação em arranjar formas e estratégias de conseguir o que tanto estava a desejar…
Como se mostrou infrutífero a criança decidiu aproximar-se e pedir a conversa. Perguntou, “porquê mamã? É duro…”
Refletindo sobre este episódio questionei, como podemos exigir de uma criança um comportamento face às suas chamadas “birras” se nós, adultos, as fazemos por detrás de tantas formas aparentemente maduras? Como podemos apontar o dedo a uma criança e dizer-lhe “ tu não me voltas a chamar isso” sem a capacidade de nos voltarmos para dentro e reeducar o nosso diálogo interno? Como posso resolver as situações à base da autoridade e palmadas, sem entender que é isso, exactamente, que faço a mim mesma?
A tolerância, espaço, tempo, compaixão e amor que se oferece espontaneamente a uma criança, é a mesma que oferecemos, genuinamente, a nós mesmos.   
Então, talvez ela seja um belo espelho da forma como tratamos e aprendemos a se relacionar com a criança que um dia já fomos…
Como ela sofre em silêncio, como se sente incompreendida, avassalada por um turbilhão de emoções que não entende, dá conta sequer… como nos preocupamos mais em ensinar padrões do que ensinar a amar-se, cuidar-se, acolher-se, conduzir-se na sua humanidade, fragilidade, vulnerabilidade. Como nos colocamos na cilada mental de educar, super e especiais pessoas aparentemente fortes, seguras, com auto estima, afastando-as do terreno fértil onde efectivamente tudo isso ocorre?
Que se aprenda a olhar nos olhos de uma criança e com toda a humildade se confesse como gostaríamos que fosse diferente, como tentamos fazer o melhor que sabemos e podemos ainda que fique tão aquém. Que se manifeste o desejo de dar amor e como ele consegue ser tão distorcido. Que se abrace e se silencie mais. Que se escute além das palavras. Que se permaneça discreto, firme, disponível para o “melhor e o pior”. Que se atenda sem interesse de alimentar e saciar as suas próprias frustrações… isso pesa, sufoca, prende a corrida livre das pernas, as asas livres do voo…
Que se aprenda, perdoar a si mesmo…
Que se aprenda, valorizar a si mesmo…
Que se resgate o poder pessoal, a dignidade, o respeito por si mesmo…
Que se aprenda a reconhecer o caminho em direcção à fonte da força interior que carregamos…
Como remamos contra a maré… como padecemos de ignorância, arrogância, pretensão e orgulho! Como chegamos, inclusive, a ser um tanto ridículos, ingénuos.
Tudo bem… mas pelo menos que se faça dessa realidade um utensílio para cavar as ervas daninhas, que impedem as belas e cheirosas flores brotarem no imenso jardim que nos habita!  
HarihOm

Sónia

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Reflexão # 66 - Estender um tapete e praticar yoga?

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O corpo é um instrumento sagrado oferecido nas nossas mãos para experienciar esta aventura humana e através dela beber o conhecimento, sabedoria que não só a transcende, como a ilumina de sentido, propósito, amor puro, real e inocente.

Quando estendemos um tapete e nos colocamos num movimento sincronizado, devemos aprimorar a mente no reconhecimento de uma sensibilidade, atenção, presença que lhe permita saborear e apreciar a inteligência, vida dos aspectos mais subtis que compõe um corpo grosso. Na verdade, ele apenas é o produto disso mesmo… o que é efectivamente um peito fechado, pescoço, ombros tensos, rigidez e outras tantas enfermidades senão couraças emocionais, padrões mentais que se arrastam ao longo dos tempos? E como posso de facto ajudar alguém a entrar em contacto com essa realidade e contribuir para que façam algo por si mesmas? 

A força aliada a uma intelectualização das posturas físicas, certamente que não. Pessoas precisam de um fogo amoroso e gentil que pouco a pouco esquentem um corpo gelado e o derretam de forma a se descobrir dança, poesia, beleza e inteligência pura...

Como aprendemos a nos maltratar! Como usamos e abusamos dele enquanto permanece compassivo com cada atrocidade! Talvez seja hora de ampliar a nossa visão relativamente a ele, oferecer-lhe o melhor de nós e descobrir os prazeres mais profundos, intensos, valiosos e inesquecíveis que guarda nos seus recônditos! 

HarihOm
Sónia.  

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Reflexão # 65 - Tradição de Ensinamento? Para quê? Em nome do quê?

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Vivemos um constante e permanente pedido de socorro que ao longo dos tempos vai assumindo as mais diversas formas, refinando-se, direccionando-se, organizando-se no tempo. Se nos atentarmos, manipulados pelas próprias necessidades humanas contidas na panóplia de emoções e sentimentos que nos impulsionam no mundo dual de aparentes criações, destruições, bondades, maldades, tristezas e alegrias, uniões, separações e por aí vai.
Na verdade o que todos procuramos, por si só e em si só, é o encontro com a nossa realidade inteira, plena, feliz e livre que cessa o natural e essencial desejo por realização e plenitude. Essa necessidade é intrínseca ao ser humano, fundamental portanto e a razão da sua existência e propósito de vida.  
É facto que podemos vivê-la esquecidos, assumindo uma espécie de amnésia aparentemente conveniente, confortável, dopados pelas mais diversas pílulas instantâneas que o mundo externo oferece, mas jamais conscientes de quem somos com verdade e realidade.
Quando num rasgo de lucidez a mente reconhece como percepciona o mundo, pessoas, vida, existência, propósitos de forma tão frágil, superficial, limitada, condicionada e equivocada, vai querer munir-se de ferramentas que a ajudem numa espécie de reeducação, reestruturação e reorganização que lhe permitam não só o vislumbre do que é sempre presente, eterno, imutável, como a habilidade para se relacionar com isso. Como se houvesse a necessidade de se restabelecer para se estabelecer numa visão sobre e além de si mesma.
Quando decidimos procurar ajuda perto de uma tradição de ensinamento, guru, mestre, terapias, estamos num natural pedido de socorro que nos será concebido dentro de uma inteligência maior e nas doses apropriadas para cada um. Quando o paciente reconhece a possibilidade de cura a todo o momento vai desejar acelerar o processo, controlar, dominar… vai querer saber todos os procedimentos, dominá-los na perfeição, apropriar-se… vai querer estar junto dos “médicos da selva”, da comunidade que os acompanha e assiste, de expor-se, doar-se com a mesma inocência, pureza, curiosidade, interesse de uma criança. Este é uma espécie de nível 3 do vídeo game onde aprimoramos as qualidades para poder receber a “cura” e onde sublimamos os ímpetos que nos conduzem a uma espécie de desespero, ansiedade que encobrem e comprometem os nossos olhos lúcidos, o nosso coração amoroso e compassivo e a sincronia do nosso corpo na perfeita melodia que toca para nós…
Desejaremos apreciar toda essa dinâmica, envolver-se no drama, assumir os personagens, caracterizar o cenário, abrir o pano, apresentar ao público para quando o pano voltar a fechar reconhecer que nada existe de verdade… pedido de socorro, médico da selva, assistentes, cura, e que tudo é montado apenas e só para poder apreciar a graciosidade, sacralidade e beleza da realidade que sustenta a possibilidade de contar uma história…
HarihOm
Sónia A.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Reflexão # 64 - Olhar-se como um rio...


Para fugir ao encontro mais profundo com nós mesmos, criamos incessantemente mascaras atrás de mascaras…
A mascara do intelectual, do engraçado, sarcástico, do guru, do espiritual, do forte e seguro, do rebelde e audaz, do humilde e generoso e por aí vai num sem fim…
Ingenuamente, ficamos reféns de estética, saúde perfeita, corpo alinhado, musculado, conhecimento, experiências, aventuras, desejos e da própria vida, sem tampouco dar-se espaço para vislumbrar a beleza de ser um rio que percorre o seu caudal num ritmo e movimento únicos.
Muito é o lixo que nele se acumula impedindo-o de fluir livremente e a sua remoção é precisa e supra inteligente. Podemos nos entusiasmar, iludir e querer fazê-lo à força, sob o controle da mente…
Mas… não adianta… é só mais um tanto de entulho…
A vontade de querer servir a si mesmo e com o propósito que merece, carece de uma atitude despretensiosa que nasce, não na cabeça mas no coração…
E assim sendo, estarei como um mero espectador que contempla a beleza de tal movimento… o lixo, os obstáculos, as dificuldades, dores, traumas, mascaras, apenas instrumentos que sublimam um corpo e uma mente, iluminando-os de um amor além de qualquer aparência, acção ou inacção, palavras…
Não quererei subir ao trono atravessando pontes que me afastam desse rio…
Vou querer descalçar-me, banhar-me e sem resistências permitir que me conduza…

HarihOm

Sónia A. 

Pensamentos Soltos # 72


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Carregamos uma ferida aberta dentro de nós e por ignorância tendemos a soprar toda a vez que arde… no entanto, ainda que possamos sentir um alívio, ele é momentâneo…
Minimizamos os cuidados a ter com ela, negligenciamos, maltratamos e auto convence-mo-nos que logo, logo vai passar…
Continuará ativa até que a nossa atenção se volte para ela e com todo o cuidado, propósito, sabedoria, conhecimento, resolvamos curar…
A intervenção é precisa, minuciosa e delicada…

                                                                    (Sónia Andrade)

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Pensamentos Soltos # 71

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Crescemos tão focados nas aparências externas que tendemos, no alto do pedestal, dizer como é triste, sofrida e lamacenta a vida de fulano, sicrano, ou então, no alto da auto-piedade, dizer como a vida dos outros é bem melhor que a minha… que calvário, pouca sorte ou triste sina… ou ainda, no alto da pretensão, ignorância e ilusão, dizer como a vida me sorri, me transborda de tudo o que quero, preciso, desejo…
Conversas são infinitas, assim como o julgamento baseado na plasticidade de uma aparência…
O olho da mente é míope, o seu corpo está intoxicado e precisa de sérios cuidados…
Caminhamos no meio de lodo e lama, segurando as pernas, posicionando os pés estrategicamente para não sujar as roupas, o rosto, saltitando de poça em poça, temendo cair, mergulhar, com tudo, naquela sujidade…
Na verdade, energia desperdiçada, mal conduzida e aplicada…
Possa ela servir para que destemida e nua mergulhe no lamaçal, no lodo… e que de lá possa brotar uma pura, intocável flor que dê sentido e propósito àquilo que tanto me protegi e fugi…
A flor de lótus, pura, bela nasce do lodo que dá sentido à sua existência…
Então, que do nosso coração brote a coragem e a força precisa para cair na lama. E que de lá, com toda a delicadeza, brote uma pura e bela flor que ilumine a nossa mente e todo o movimento que é a vida.      
Harih Om
Sónia A.