Num primeiro momento, e quando ouvimos falar que o yoga implica transcendência do ego, não percebemos nem o como, nem o porquê. Criamos uma espécie de resistência, tememos a mudança, a descoberta. Queremos a força, a flexibilidade, a saúde, o equilíbrio, a harmonia, a qualidade de vida e a paz interior de preferência continuando a fazer as mesmas coisas, o que se gosta, o que dá prazer, o que é moda, o que alimenta a nossa "falsa" auto estima, o que momentaneamente é capaz de curar a nossa insegurança, a nossa inquietude, o nosso vazio existencial. Tendemos a querer o yoga igual a todas as outras coisas que nos apresentam como fontes de energia, saúde e qualidade de vida. Uma actividade holística que trabalha corpo e mente proporcionando o equilíbrio. E assim se vai praticando yoga por esse mundo fora.
Quando me comprometi em vivenciar o método de astanga vinyasa yoga, tal como me estava a ser transmitido, várias foram as questões, dúvidas e conflitos. Primeiro surgiu como um desafio igual a tantos outros outrora experienciados, como agachar com 80 kg, ou aprender qualquer sequência de body combat, body pump, body jam, ou aprender a dançar o samba, o merengue, aprender a cantar ou tocar uma determinada música, com a diferença de acreditar que tal havia de me trazer equilíbrio permanente. Expectativas foram criadas, sim! Os dias de prática foram passando. Muitas foram as vezes que questionei o porquê de tal disciplina, o porquê de submeter o meu corpo àquela prática, àquele método. Porquê tudo aquilo em prol de uma mente calma e equilibrada? É um processo difícil e exigente! A vontade de fugir é muita e está sempre à espreita. Achamos que não fomos concebidos para tal, que somos fracos demais, que não está ao nosso alcançe tal proeza. E é aí que tudo começa...no meio do conflito! Acabamos por perceber a importância de não criar expectativas e simplesmente aceitar, entregar e confiar. Começamos a perceber o nosso ego, aprender a observá-lo e de forma bem gentil, a tentar transcender a sua natureza.
Como alcançar este conhecimento sem experienciar a disciplina, o rigor, o método tal como ele foi concebido? Como desenvolver a capacidade de discernir? Como compreender e sentir o estado do nosso corpo? Como ouvir o nosso coração? Perceber as nossas emoções?
É o hábito, a rotina, a concentração e atenção, a presença, a atitude, o foco! É o permitir-se estar consigo mesmo! Observar o seu silêncio!
Hoje mesmo, e refletindo sobre a minha prática pessoal pude perceber que é natureza do meu ego a vontade de que toda a disciplina traga seus frutos! Tendo a criar expectativas, sim! Com relação à prática e evolução fisica! Cabe a mim adotar uma atitude que contrarie tal desejo e ambição! E é isto que acho mágico, inteligente, poderoso nos valores e princípios do yoga, que fazem dele algo muito diferente de outra actividade qualquer. É certo que competição e ambição trazem consigo a vontade de empenho e dedicação mas também a possibilidade de frustração e sofrimento. O que convenhamos ser um desperdício de energia, um desgaste físico e emocional.
Hoje percebo como um corpo que tem as suas limitações e o seu tempo de transformação pode nos levar à compreensão e aceitação do nosso ego e como é possível transcendê-lo...mantendo-se firme, disciplinado, confiando e agradecendo cada momento vivido! Respeitando e aceitando nossa condição fisica e emocional a cada instante!
Constato que é uma atitude baseada em determinados principios e valores propostos pelo yoga, que o fazem ser algo bem diferente de todo um conjunto de actividades que promovem a saúde. E nem sempre essa atitude é transmitida e valorizada quando se o pratica por esse mundo fora, lamentavelmente. Para além de empobrecer tal experiência, rouba a possibilidade de conhecer outras dimensões, tão valiosas, do ser.
Namastê
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