terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Reflexão # 32 - Crianças Aprendizes e Aprendizes de crianças...


É profundamente triste entender que a maioria dos nossos actos são reacções… quantas vezes paramos para antes de agir, olhar com profundidade a pessoa, a situação, a circunstância que nos é apresentada? Porque se manifestam e expressam de determinada forma? O que estimulam em mim? Do que necessitam? Do que necessito? O que temo? Porque temo?
Efectivamente a dor é inevitável… ainda que tenha a intenção de dar o melhor que habita o mais íntimo de mim, ele assume tantas máscaras, tão surpreendentes e imprevisíveis que se torna necessário render, perdoar e confiar... confiar que com firmeza, resiliência, amor, discernimento  poderei trabalhar para que a minha expressão seja livre de máscaras, medos… e para tanto terei primeiro que me desmascarar, despir e doar com a maturidade de um individuo que descrimina, decide e a inocência de uma criança que naturalmente confia.    
Esta reflexão surge do contacto com crianças e de uma análise crítica dos meus gestos, palavras, sentimentos.
Sugiro que façamos um exercício. Observar como lidamos com uma criança que não obedece, que se expressa violentamente e que a todo o momento desafia as tuas ordens e regras. Que espécie de sentimentos nos causa? Quais os nossos impulsos? Porque tendem a ter níveis de violência? Sim, porque ainda que ouça que uma palmada no rabo não faz mal a ninguém, isso não deixa de ser um acto de violência, mesmo que por detrás esteja apenas a intenção de ensinar e dar o melhor… como posso ficar em paz? Como posso não me frustrar se eu sinto que isso vai contra a minha vontade, desejo mais profundo? O que rouba a nossa disponibilidade interna para permitir que a criança expresse das mais variadas formas o que está a sentir, sem a julgar de feia, bonita, bem-educada, mal-educada, boa, má? O que está por detrás das suas máscaras por vezes cruéis, agressivas? O que ela nos tem para dizer? Que ajuda ela nos pede para que enquanto adultos as possamos ensinar a lidar com o tumulto de emoções? Que ajuda ela nos pede para aprender a lidar com a sua personalidade? Se uma criança é tímida porque é mais importante incentivá-la a ser diferente do que aprender a relacionar-se com a sua timidez?
Teria muitas palavras para escrever e dizer. Mas por hoje fica a partilha desta reflexão e do tanto que há para se questionar. E apesar das muitas vezes que me sinto frustrada reconheço a bênção de poder interagir com crianças e crescer a par com elas.
Julgo que podemos ser crianças aprendizes e aprendizes de crianças.
Om
Sónia



domingo, 25 de janeiro de 2015

Pensamentos Soltos # 42

imagem retirada da internet


Se eu aprender a relacionar-me harmoniosamente com o outro sem comprometer a harmonia em mim, saberei Ser. 

Om
Sónia 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Reflexão # 31 - Arquétipos Da Perfeição...

                                                                     imagem retirada da internet


Quando corajosamente nos comprometemos descortinar os sofisticados e ardilosos mecanismos da mente, criando um espaço para poder sentir, poder observar os padrões de pensamento, desresponsabilizando os outros, as coisas, as situações, destemendo o “monstro” em mim, alimentando-o de amor, atenção, compreensão, habilito-me a entender as necessidades básicas de todo o ser humano, os valores fundamentais intrínsecos à nossa existência e o problema fundamental de todos nós.
Observo como a mente é exímia a criar arquétipos da perfeição e como nos movemos ao sabor de uma ânsia em reunir tudo o que possa tornar isso real, exequível. De facto iniciamos esse processo em tenra idade quando construímos um ego, uma individualidade, personalidade. Se prestarmos atenção nas nossas crianças verificamos como elas nos tomam ídolos, nos imitam e nos seguem com toda a inocência e confiança. Como se questionam e facilmente se sentem inadequadas, feridas por conta da incompreensão da nossa imperfeição e falsidade da perfeição. Talvez por isto seja tão urgente a mudança, a expansão da nossa consciência. É isso que fará toda a diferença na hora de conduzir uma criança e contribuir para um adulto capaz, realizado, responsável nos e pelos seus diversos papeis num todo. Talvez seja esta a maior de todas as revoluções. A tomada de consciência, o entendimento de quem sou eu além das aparentes imperfeições e perfeições de um corpo e mente.
Perceber que faz parte do psiquismo criar e fantasiar ídolos, arquétipos da perfeição e observar que se encontram subtilmente emaranhados em tendências e padrões de pensar que apenas projectam um conjunto de necessidades humanas e o desejo de ser ver livre, feliz, inteiro e pleno, é dar oportunidade a uma genuína risada de si mesmo, uma genuína risada do outro. Na verdade o outro não é diferente de mim, eu não sou diferente do outro. Não há pessoas especiais, mais ou menos importantes, muito ou pouco reconhecidas, muito ou pouco conceituadas. Pessoas são só pessoas. Todos os “upgrades” são imagens criadas dentro da cabeça de cada um de nós que ignorando a sua natureza básica busca espelhos para se ver digno de amor.
Quanto mais claro o entendimento de tal fenómeno menor o sofrimento proveniente da desilusão que nasce da ilusão e consequentemente uma atitude objectiva, determinada, consistente, com propósito nas acções, relacionamentos, escolhas, decisões. Talvez possamos descobrir uma força interior imensurável, silenciosa, delicada que nutre e nos nutre.  Uma força que se manifesta num humilde reconhecimento de fragilidades, carências, limitações. Uma força que se manifesta nas lágrimas de felicidade pelas superações do outro ou nas lágrimas de tristeza pelo sofrimento, ignorância do outro. Uma força que não carece sobressair em gestos ou palavras. Uma força que por ser, já basta e que reconhecida se posiciona ao serviço de todos.

Om
Sónia.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Reflexão # 30 - O Fogo Dos Desejos...

 imagem retirada da internet

Estar livre de desejos não é sinonimo de não ter desejos, deixar de sentir ou ser imune a qualquer tipo de sensação, emoção…
São essas características que nos fazem humanos e nos individualizam num monte de pedras…
Desejos cumprem o seu papel… estão aí ao virar de cada esquina para que me veja, amadureça, mova…
O resultado dele pouco importa pois o seu papel cumpre-se antes…
Estar livre de desejos passa pelo entendimento de que não sou uma vítima ou escrava de desejos realizados ou não realizados, que isso não acrescenta ou diminui o que sou…
Tendencialmente, julgamos que a realização de desejos nos traz felicidade, prazer e satisfação mas nem sempre isso se verifica… um desejo realizado pode traduzir-se num momento infeliz e ainda que possa ser feliz será momentâneo, passageiro e dará lugar a outro e mais outro… é essa a sua natureza.
A beleza de realizar desejos pode ser tão imensa como a sua não realização. O prazer de um desejo não realizado tão imenso quanto um realizado. Portanto, a realização ou não realização não é o papel e função do desejo…
Se o entendo com clareza estarei livre de desejos e completamente disponível para lhes dar a forma que esteja em harmonia com aquilo que é o certo de se viver num determinado momento. E o certo não é meramente o que é certo para o meu “umbigo”, deleite e belo prazer.
E assim… assim poderei permanecer livre, em paz, na fogueira dos desejos…

Om
Sónia.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Reflexão # 29 - Ferida existencial...

    imagem retirada da internet


Inevitavelmente uma ferida para ser curada traz consigo dor… podemos constatar isso logo em tenra idade quando esmurramos os joelhos e nos colocam água oxigenada para sarar… Normalmente recorrem à distracção, ao "olha para o lado", "respira fundo", "conta até três", ou “pronto, pronto, já passou”. Tudo bem, uma estratégia de aliviar aquele doloroso momento. Em todo o caso foi importante olhar a ferida, colocar água oxigenada para desinfectar e ajudar a cicatrizar.
Os anos passam, as esmurradas nos joelhos são menores mas começamos a tomar conta de algo dentro do peito que parece sangrar sem perceber muito bem porquê. Aparentemente pequenas feridas propositadas… porque me derrubaram, porque me feriram, maltrataram, ignoraram, desprezaram… outras porque a vida se encarrega de me apresentar o inferno… outras porque é triste a minha sina… outras porque tudo é pouco…  
Deprimo-me, desespero-me e perco-me no meio de tanta fantasia, sonho, expectativa, devaneio… hoje quero a lua, amanhã quero o céu. Hoje eufóricamente satisfeito e feliz, amanhã triste e amargurado. Nem a lua, nem o céu estancou o sangue… momentaneamente me distraíram, me inibiram de poder olhar uma ferida que precisa ser sarada, cicatrizada… e isso, isso traz inevitavelmente dor…
Mas… tememos… fugimos… menosprezamos… desvalorizamos e nos anestesiamos das mais variadas formas…
A ferida está lá, sangra e precisa ser curada.
Nada nem ninguém o pode fazer por nós. Só a coragem, ousadia, força, confiança, firmeza e determinação que habitam dentro e nos galvanizam…
Dons, talentos, características, qualidades comuns a todos, que apenas precisam ser activadas, descobertas e usadas a favor de uma realização maior e divina.  
Om
Sónia.