É
profundamente triste entender que a maioria dos nossos actos são reacções… quantas
vezes paramos para antes de agir, olhar com profundidade a pessoa, a situação,
a circunstância que nos é apresentada? Porque se manifestam e expressam de
determinada forma? O que estimulam em mim? Do que necessitam? Do que necessito?
O que temo? Porque temo?
Efectivamente
a dor é inevitável… ainda que tenha a intenção de dar o melhor que habita o
mais íntimo de mim, ele assume tantas máscaras, tão surpreendentes e imprevisíveis
que se torna necessário render, perdoar e confiar... confiar que com firmeza, resiliência,
amor, discernimento poderei trabalhar para
que a minha expressão seja livre de máscaras, medos… e para tanto terei primeiro
que me desmascarar, despir e doar com a maturidade de um individuo que
descrimina, decide e a inocência de uma criança que naturalmente confia.
Esta
reflexão surge do contacto com crianças e de uma análise crítica dos meus
gestos, palavras, sentimentos.
Sugiro
que façamos um exercício. Observar como lidamos com uma criança que não obedece,
que se expressa violentamente e que a todo o momento desafia as tuas ordens e
regras. Que espécie de sentimentos nos causa? Quais os nossos impulsos? Porque
tendem a ter níveis de violência? Sim, porque ainda que ouça que uma palmada no
rabo não faz mal a ninguém, isso não deixa de ser um acto de violência, mesmo
que por detrás esteja apenas a intenção de ensinar e dar o melhor… como posso
ficar em paz? Como posso não me frustrar se eu sinto que isso vai contra a
minha vontade, desejo mais profundo? O que rouba a nossa disponibilidade
interna para permitir que a criança expresse das mais variadas formas o que
está a sentir, sem a julgar de feia, bonita, bem-educada, mal-educada, boa, má?
O que está por detrás das suas máscaras por vezes cruéis, agressivas? O que ela
nos tem para dizer? Que ajuda ela nos pede para que enquanto adultos as
possamos ensinar a lidar com o tumulto de emoções? Que ajuda ela nos pede para aprender
a lidar com a sua personalidade? Se uma criança é tímida porque é mais
importante incentivá-la a ser diferente do que aprender a relacionar-se com a
sua timidez?
Teria
muitas palavras para escrever e dizer. Mas por hoje fica a partilha desta
reflexão e do tanto que há para se questionar. E apesar das muitas vezes que me
sinto frustrada reconheço a bênção de poder interagir com crianças e crescer a
par com elas.
Julgo
que podemos ser crianças aprendizes e aprendizes de crianças.
Om
Sónia