Talvez
tenhamos que as olhar mais vezes nos olhos…
Talvez
tenhamos que lhes mostrar mais o como sentimos…
Talvez
tenhamos de lhes dar a mão e contar-lhes como são imensas, belas e suaves além
das suas palavras e gestos, tantas vezes chamadas de cruéis, feias, más…
Talvez
tenhamos de lhes falar menos sobre o que é ser bem-educada e dar lugar a toda a
acção que a faz compreender a sua natureza simples e generosa…
Talvez
tenhamos de estar mais ao invés de querer demais…
Talvez
tenhamos de olhar a nossa criança interior…
Talvez
tenhamos de lhe dar voz…
Um
abraço…
Amor
e compreensão…
E
assim… talvez possamos ver com toda a clareza como a criança sofre num mundo
que a todo o momento a castra… num mundo tão voltado para comparações,
competitividades que camuflam o potencial de verdadeiros talentos, o potencial
da capacidade inata de criar, imaginar, construir…um mundo com tanta beleza
para se viver e descobrir mas perdido em futilidades, superficialidades…
Hoje
enquanto dava uma aula de yoga, e observando uma criança que não me estava a
ouvir porque completamente absorvida na sua fantasia e imaginação, pensei: O
que será efectivamente melhor? Deixá-la finalizar a sua história ou fazer com
que me ouça, chamando pela sua atenção? Naquele momento, e de certa forma
maravilhada com a sua expressão de felicidade, achei por bem que finaliza-se.
Observando
o que me rodeia constato que é tanta a preocupação de fazer tudo certinho e
direitinho que a criança acaba por ser uma marioneta nas mãos dos adultos... e
o pior é que ela para além de não entender o teatro, sente que ele não vai ao
encontro daquilo que necessita, nem tão pouco da sua real natureza… se
pudéssemos ler pensamentos talvez fossemos presenteados com:
“Porque ela me agarra desta forma no braço? O que estou a fazer de errado?
Porque é errado? Eu só estava a brincar, a descobrir? Alguém me explica? Estes adultos são loucos!"
É
importante ter consciência que mesmo eu querendo que a criança me escute não é
com um gesto de autoridade que o vai fazer…para além disso ela ignora a nossa
necessidade, o nosso sentimento quando não o faz.
Expor
os factos deste modo é contribuir verdadeiramente na educação de uma criança.
Permitir que seja hábil na hora de lidar com as suas emoções e consequentemente
permitir um relacionamento saudável, responsável e equilibrado consigo mesma e
demais.
Vale
a pena experimentar. Vale a pena dar-se a oportunidade e sentir a gratificação
de uma filha que se vira para a mamã e diz” tenho vontade de te bater mas não
quero”, ou “estou triste mas não sei porquê” ou “ mamã veste rápido, rápido…estou
muito ansiosa para brincar” ou “mamã estás feliz comigo?”
Vale
a pena dar a mão a uma criança e mostrar que não há nada de errado com ela… que
crescer é assim mesmo… um tumulto de sensações, emoções, sentimentos com as
quais aprendo a reconhecer-me simples e amoroso.
Om
Sónia.
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