sexta-feira, 17 de abril de 2015

Reflexão # 43 - Jogo Limpo...

imagem retirada da internet

Toda a vez que nos sentamos para escrever sobre alguma coisa e decidimos partilhar, dividir, estamos a dar forma às nossas necessidades humanas. O desejo de ser escutado, compreendido, de se ver um contribuidor, de se ver amado e reconhecido, dá vida até ao que há de mais bizarro nas redes sociais. De uma forma ou de outra todos somos dinamizados pelo mesmo e ganhar consciência disso apenas nos traz a possibilidade de decidir, escolher com maior clareza, objectividade e dentro de um propósito que não tem apenas em vista o alimento de um ego, que assumindo variadíssimas máscaras, é, com toda a lógica, insatisfeito, carente e insaciável.
Ao nos relacionarmos tendemos a julgar. Com facilidade rotulamos as pessoas de interessantes, chatas, inteligentes, burras, especiais, talentosas, fracassadas, bem-sucedidas, mal sucedidas, muito importantes, pouco importantes, bonitas, feias, com muito brilho, com pouco brilho, com boa onda, com má onda e por aí vai. Estabelecemos os nossos grupos de amizade, escolhemos companhias, desejamos nos assemelhar a alguém que muito admiramos, etc. É certo que tudo isto faz parte da nossa ordem psicológica, no entanto é importante compreender o jogo para que eu o possa jogar de forma limpa. Caso contrário pessoas são para mim adversários, o mundo, as situações e circunstâncias, regras do jogo e os resultados, o símbolo de vencedor ou perdedor. As minhas decisões e escolhas estarão sempre à mercê desta crença e jamais poderei entender que pessoas são só pessoas, exactamente iguais a mim, que sentem, que necessitam, que ignoram, que buscam felicidade, amor e que numa ordem cósmica se relacionam, se encontram, se desencontram, etc.
Quando ouso despir-me completamente de tudo aquilo que acredito ser o certo e errado, o bem e o mal, o desejável ou não desejável, deixo cair por terra o fardo da fantasia que tenho e devo tornar-me em alguma coisa aceite, valorizado, reconhecido e digno de ser amado e respeitado. Deixo cair por terra a dor que carrego no peito de me sentir tão separado do outro, tão distante do que é divino, puro, simples, espontâneo, amoroso e compassivo.   
Este é um trabalho a ser feito por si, em si que requer introspecção, foco, coragem, determinação e persistência. Num mundo tendencialmente voltado para o que é externo, onde aprendemos a procurar fora o que já É internamente, torna a tarefa desafiante. Então, é fundamental comprometer-se consigo mesmo, encontrar uma vontade genuína de se ver e fazer das belas palavras escutadas, lidas e estudadas a possibilidade de serem, não só entendidas intelectualmente, como reconhecidas pelo coração. Um coração que sendo livre, pleno e inteiro se sente fragmentado, dividido…
Um coração que sendo eternidade, teme…
Um coração que sendo puro, fonte inesgotável de amor se disfarça de arrogante e pretensioso…
Um coração que sendo perfeito se perde nas imperfeitas superficialidades...
Onde permanentemente nos comparamos, avaliamos, julgamos…
Desejando incessante e desesperadamente que pessoas, situações, circunstâncias me tragam o conforto, a paz, a quietude, a felicidade, a alegria, o contentamento e satisfação que só um coração livre, abraçado e acolhido pode trazer…
Não há força maior. E por isso me reconheço devoto… e por isso humildemente trabalho… Desejando saborear o néctar de um conhecimento tão puro, tão sem palavras, tão verdadeiro e glorioso…
Desejando permanecer firme e com total clareza, num estado de graça possível de ser vivenciado dentro da panóplia de sentimentos que o mundo nos empresta…
Por aqui andando muitas serão as vezes que vou chorar… abençoadas lágrimas, abençoada dor…
Por aqui andando muitas serão as vezes que vou sorrir… abençoado sentido de humor, abençoadas confraternizações, abençoadas realizações…
Por aqui andado muitas serão as vezes que vou sentir medo… abençoados obstáculos, abençoadas frustrações…
Por aqui andando muitas serão as vezes que vou querer desistir… abençoada limitação, abençoada impotência…
Por aqui andando muitas serão as vezes que apenas vou querer andar… abençoado caminho sem caminho…
Por aqui andando muitas serão as vezes que apenas vou dar a mão e seguir…

Om
Sónia.
   

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