imagem retirada da internet
Toda
a vez que nos sentamos para escrever sobre alguma coisa e decidimos partilhar,
dividir, estamos a dar forma às nossas necessidades humanas. O desejo de ser
escutado, compreendido, de se ver um contribuidor, de se ver amado e
reconhecido, dá vida até ao que há de mais bizarro nas redes sociais. De uma
forma ou de outra todos somos dinamizados pelo mesmo e ganhar consciência disso
apenas nos traz a possibilidade de decidir, escolher com maior clareza,
objectividade e dentro de um propósito que não tem apenas em vista o alimento
de um ego, que assumindo variadíssimas máscaras, é, com toda a lógica, insatisfeito,
carente e insaciável.
Ao
nos relacionarmos tendemos a julgar. Com facilidade rotulamos as pessoas de
interessantes, chatas, inteligentes, burras, especiais, talentosas,
fracassadas, bem-sucedidas, mal sucedidas, muito importantes, pouco
importantes, bonitas, feias, com muito brilho, com pouco brilho, com boa onda,
com má onda e por aí vai. Estabelecemos os nossos grupos de amizade, escolhemos
companhias, desejamos nos assemelhar a alguém que muito admiramos, etc. É certo
que tudo isto faz parte da nossa ordem psicológica, no entanto é importante
compreender o jogo para que eu o possa jogar de forma limpa. Caso contrário
pessoas são para mim adversários, o mundo, as situações e circunstâncias,
regras do jogo e os resultados, o símbolo de vencedor ou perdedor. As minhas
decisões e escolhas estarão sempre à mercê desta crença e jamais poderei
entender que pessoas são só pessoas, exactamente iguais a mim, que sentem, que
necessitam, que ignoram, que buscam felicidade, amor e que numa ordem cósmica
se relacionam, se encontram, se desencontram, etc.
Quando
ouso despir-me completamente de tudo aquilo que acredito ser o certo e errado,
o bem e o mal, o desejável ou não desejável, deixo cair por terra o fardo da
fantasia que tenho e devo tornar-me em alguma coisa aceite, valorizado,
reconhecido e digno de ser amado e respeitado. Deixo cair por terra a dor que
carrego no peito de me sentir tão separado do outro, tão distante do que é
divino, puro, simples, espontâneo, amoroso e compassivo.
Este
é um trabalho a ser feito por si, em si que requer introspecção, foco, coragem,
determinação e persistência. Num mundo tendencialmente voltado para o que é
externo, onde aprendemos a procurar fora o que já É internamente, torna a
tarefa desafiante. Então, é fundamental comprometer-se consigo mesmo, encontrar
uma vontade genuína de se ver e fazer das belas palavras escutadas, lidas e
estudadas a possibilidade de serem, não só entendidas intelectualmente, como
reconhecidas pelo coração. Um coração que sendo livre, pleno e inteiro se sente
fragmentado, dividido…
Um
coração que sendo eternidade, teme…
Um
coração que sendo puro, fonte inesgotável de amor se disfarça de arrogante e pretensioso…
Um
coração que sendo perfeito se perde nas imperfeitas superficialidades...
Onde
permanentemente nos comparamos, avaliamos, julgamos…
Desejando
incessante e desesperadamente que pessoas, situações, circunstâncias me tragam
o conforto, a paz, a quietude, a felicidade, a alegria, o contentamento e
satisfação que só um coração livre, abraçado e acolhido pode trazer…
Não
há força maior. E por isso me reconheço devoto… e por isso humildemente trabalho…
Desejando saborear o néctar de um conhecimento tão puro, tão sem palavras, tão
verdadeiro e glorioso…
Desejando
permanecer firme e com total clareza, num estado de graça possível de ser
vivenciado dentro da panóplia de sentimentos que o mundo nos empresta…
Por
aqui andando muitas serão as vezes que vou chorar… abençoadas lágrimas, abençoada
dor…
Por
aqui andando muitas serão as vezes que vou sorrir… abençoado sentido de humor, abençoadas
confraternizações, abençoadas realizações…
Por aqui
andado muitas serão as vezes que vou sentir medo… abençoados obstáculos, abençoadas
frustrações…
Por
aqui andando muitas serão as vezes que vou querer desistir… abençoada
limitação, abençoada impotência…
Por
aqui andando muitas serão as vezes que apenas vou querer andar… abençoado
caminho sem caminho…
Por
aqui andando muitas serão as vezes que apenas vou dar a mão e seguir…
Om
Sónia.
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