sexta-feira, 17 de julho de 2015

O Grande Amor da Vida?

 imagem retirada da internet

Nascer nesta forma humana é herdar um corpo que sente, comunica, expressa, adoece, envelhece, nasce e morre… é herdar uma mente que pensa, que cria, que constrói, destrói, fantasia… é herdar a capacidade de sentir emoções que trazem a possibilidade de desejar conhecer, fazer, saber, aprender, descobrir, reconhecer. Apreciar o que nos compõe é como sentar numa plateia e ouvir uma orquestra sinfónica, sabiamente guiada por um maestro que coordena todo um grupo musical a fim de proporcionar unidade, coesão e harmonia. O resultado é uma bela melodia onde cada um contribui com o seu papel.
Olhando para mim, olhando para o tudo que me rodeia vejo o quanto padecemos de amor. Desde tenra idade que o procuramos através dos olhos de um outro. Primeiro através da mãe, do pai e à medida que vamos conhecendo o mundo, através de amigos, professores, colegas. Ignorando que todas as relações e experiencias apenas são o espelho, os olhos do coração, desejamos possuir, ter nas nossas mãos o objecto que naquele momento nos faz reconhecer algo "danado" de bom que vibra dentro, que enche um sorriso de alegria, que faz pular o coração, escrever e compor uma musica, sentir-se bela, recitar um poema, brincar e explorar tal qual duas crianças. Tudo o que se apresenta diante dos olhos é percepcionado como fonte de felicidade, amor, alegria, bem-estar. O problema começa quando esses objectos deixam de representar fonte de felicidade e inicio um processo de escolha ou rejeição mediante o que considere certo ou errado, bom ou mau, agradável ou desagradável, prazeroso ou não. Normalmente essas decisões caminham de mãos dadas com uma ignorância fundamental que me empurra para a responsabilização do mundo e pessoas pela minha insatisfação, desprazer, carência e necessidade. Passamos a maior parte dos dias da nossa vida numa busca incessante pelo grande amor, pela reunião de todas as condições que aparentemente saciam a necessidade por segurança, protecção, reconhecimento. Colocados à mercê de uma ilusão que tem por base um fluxo, um processo natural e dinâmico existencial, sofremos amargamente!
Posicionamo-nos como vítimas da própria vida fazendo dela o calvário e o suplício. De facto e avaliando as nossas acções, decisões parece que é maior o desejo de carregar uma cruz do que fazer dela instrumento de obra e criação.
É bem verdade que para tal feito, urge a necessidade de coragem, de força, entrega. Urge a necessidade de amar e acolher uma mente que esperneia como uma criança a quem não foi dado um pedaço de chocolate apenas e só porque ignora que por detrás daquele acto está a natural necessidade de cuidar e proteger. Urge a necessidade de se ver amor por si, em si.
Ao longo da vida muitas serão as vezes que um menino ou menina se aproximará para brincar de ser criança, disfarçados em cabelos brancos, rugas, desejos e fantasias. Muitas serão as vezes que o coração irá reconhecer tamanha empatia, tamanha vontade de estar ao lado, de dividir, de explorar, de dançar, amar… umas vezes vamos chamar de paixão, outras de grande amor. O nome pouco importará diante do intenso desejo de dar forma e intenção ao jogo. Nada de errado há com jogo ou jogadores, contando que se tenha clareza e discernimento para saber e entender que jogos vão e vêem, que estão aí para servirem de instrumento a algo bem maior que todos nós, e que efectivamente, jamais serão responsáveis por me oferecer e dar o grande amor da vida, aquele que nos deixa repousar em paz, no silêncio, nas palavras, nas lágrimas, nos sorrisos, no trabalho, na diversão, no prazer e desprazer, no bom ou no mau, no agradável ou desagradável…
Constatar tal realidade e verdade traz consigo dor e tristeza, traz consigo o reconhecimento da impotência de cada um de nós, o reconhecimento de que nada controlamos, que caímos e levantamos apenas e só por amor, que a todo o momento procuramos aliviar um vazio fundamental para que em prantos e rendidos possamos descobrir graça divina.  
Om
Sónia.



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