imagem retirada da internet
Quando
penso num labirinto sempre vem ao meu pensamento os jogos de quebra cabeça que
tanto gostava de fazer. Lembro que sempre tinha um ponto de partida, um ponto
de chegada e pelo meio uma série de caminhos emaranhados, complexos que me
faziam “fritar” toda a vez que voltava ao mesmo ponto de partida ou toda a vez
que chegava a um ponto fechado.
Trazendo
essa experiência para o conteúdo de vedanta vem ao meu pensamento a
possibilidade de fazer algumas analogias. Por exemplo com o samsara, com a
mente. E de que forma? Toda a vez que me vejo identificada, presa em
pensamentos, desejos, formas, conceitos, sentimentos e toda a panóplia de
objectos observáveis que fazem de mim um ser humano que nasce, cresce, morre
desejando alcançar felicidade, paz, plenitude imutável, eterna e irrefutável.
Estarei
a caminhar em busca de uma felicidade e contentamento num complexo labirinto
que me conduz ao mesmo ponto de sempre, apenas e só por ignorar que o que traz
realidade ao labirinto, ao quebra cabeça e a essa busca incessante, é a falsa
ideia e visão de que eu sou este corpo, esta mente, estes desejos, sentimentos,
emoções, naturalmente limitados e variáveis no tempo e espaço e que portanto,
não permitem em si mesmos oferecer a paz e felicidade capazes de saciar um
desejo que tem por base algo maior e fundamental a ser reconhecido e entendido,
ou seja, o ser livre, amoroso, compassivo e feliz que sou aqui e agora. A natureza
do verdadeiro Eu, o sujeito que dá realidade aos objectos e que permite a
experiência de existir, pensar, sentir, criar, desejar, realizar, servir…
Podemos
pegar em vários exemplos, situações da nossa vida para compreender essa natural
limitação. Quando procuramos um relacionamento ideal na tentativa de suprir as
nossas carências, necessidades, desejos e expectativas, quando procuramos a
solução para os nossos complexos de inferioridade num projecto corporal,
mental, emocional estrategicamente arquitectado, quando procuramos mérito, reconhecimento
e valor através de pessoas, situações e circunstâncias, quando procuramos
possuir, adquirir, reter em nossas mãos coisas, pessoas, ideias, projectos, na
tentativa de saciar a nossa natural sede por amor, liberdade, contentamento...
Quanto
sofrimento testemunhamos neste ciclo sem fim, perdidos neste complexo labirinto
de ignorância, arrogância, orgulho…
Mas
afinal o que me livra desta infinita dinâmica?
A
lucidez… a lucidez proveniente de uma desconstrução mental de quem sou eu, do
entendimento de tudo aquilo que faz de mim um ser humano, do entendimento
profundo de que algo maior ilumina toda a acção e inacção, toda a experiência,
escolha, dinâmica, relação, interacção, formas, objectos. O entendimento de que
essa realidade vislumbrada é a verdadeira natureza do Eu, livre do complexo e
sofisticado labirinto que naturalmente deixa de ser um quebra- cabeça ou algo
sem solução.
De
verdade a lucidez confidencia que efectivamente labirintos não são dotados de
realidade. Apenas fazem parte de um sonho onde eu me assisto perdido em
complexos caminhos emaranhados, “fritando” de dor e sofrimento num sofisticado
quebra-cabeça.
Om
Sónia.
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