sábado, 13 de agosto de 2016

Reflexão # 69 - Mamã não quero conversa... só o teu silêncio...


Quando é oferecido a uma criança espaço para ela se revelar, ser, algo muito belo podemos apreciar… a inocência, espontaneidade, pureza, amor e sabedoria na hora de relacionar-se com a ignorância que carrega.
Inteligentemente não a julgará de boa ou má, tampouco quererá removê-la… abalada por um sentimento doloroso apenas desejará vivê-lo exatamente como se apresenta, expressando-o da forma que o seu corpo pede, procurando mecanismos de amparo, nutrição que lhe permite sobreviver…
Pude perceber tal fenómeno quando a minha filha me pediu colo, silêncio, abraço, presença no seu esconderijo secreto, quando experienciava a dor de a sua amiguinha ter indo embora...
Montou o drama, chorou, gritou, esperneou e rejeitou qualquer conversa que justificasse a sua dor… toda a vez que abria a boca ela dizia “ Mamã não quero ouvir nada…só quero ficar contigo em silêncio”…
Foi uma lição para mim e um objecto de reflexão…
Quantas vezes nos colocamos diante da dor dos outros com essa postura de grande conhecedor, querendo transmitir a todo custo fórmulas, métodos, caminhos sem tampouco dar-lhes tempo e espaço para ser aquela criança que deseja viver a sua dor, ignorância pedindo apenas presença, amparo e nutrição?
Sem dar conta apenas estamos a retirar o poder pessoal de cada um, a contribuir para negligenciar a força interior que carrega e para escamotear o como ela anda de mãos dadas com a capacidade de expor vulnerabilidades e fragilidades.
Na verdade, quando nos posicionamos dessa forma, conhecedores de grandes teorias, charadas, orgulhosamente detentores de fórmulas que curam feridas, apenas estamos a enganar-nos mais um pouco e a ignorar a incapacidade de ficar frente a frente com as suas próprias dores, que a bem da verdade não são assim tão diferentes das dos outros, tampouco das crianças.
O que acontece é que somos crianças crescidas que aprenderam a mascarar as suas dores, agonias e a fazer delas objecto de orgulho, arrogância, prepotência, vitimização e tudo mais.
Talvez tenhamos de nos dar oportunidade de caminhar em direcção a essa criança esquecida, perdida e dar-lhe oportunidade de viver todas as suas dores, exactamente como se apresentam… sem julgar de bom ou mau, certo ou errado e aprender a ser a mãe que senta com toda a sua presença e fica silenciosamente amparando, nutrindo.
Sónia A.

HarihOm

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