Quando
no final de uma prática de yoga nos colocamos em savasana, também conhecida
pela postura do cadáver, deveríamos executá-la com toda a atenção e com o mesmo
empenho, dedicação, determinação que colocamos em qualquer outro ásana complexo
e altamente elaborado. Na verdade, o propósito da sua complexidade e elaboração
está muito além do que os nossos olhos são capazes de ver através de fotos, vídeos
e etc. Isso é meramente plástico que pela sua superficialidade não tem a capacidade
de nos contentar, sustentar emocional e mentalmente. Poderemos inicialmente nos
motivar pela euforia, aparente desejo de querer chegar a um determinado nível e
assim poder se ver capaz, realizado, poderoso, reconhecido, etc, mas logo, logo
isso se desvanecerá entre frustrações, buscas insaciáveis, desilusões,
sentimento permanente de carência. O ásana por si só não tem a capacidade de
resolver o problema fundamental do ser humano, a ignorância relativamente à sua
natureza essencial. Então, o que se pretende com o ásana ou outra disciplina
qualquer é uma atitude favorável a um reconhecimento profundo de si. De facto,
posso constatar que é essa atitude que constrói uma postura equilibrada, firme,
consciente, confortável à qual podemos chamar ásana, como nos diz o sutra de
Patanjali.
Talvez
o savasana seja a postura mais desafiante de se executar… aparentemente é de
grande simplicidade deitar-se imóvel, permanecer alguns minutos nessa postura e
relaxar profundamente, mas a verdade, e se prestarmos bastante atenção, estamos
longe de o conseguir… o corpo até pode estar estendido no chão e ao olhar dizer
“estou em savasana” mas isso é meramente plástico…
Permitir-se
ficar em savasana, consciente e profundamente relaxado requer observação, aceitação,
entrega, confiança. É necessário criar um espaço interno para que olhe e abrace
as minhas emoções, os meus pensamentos sem condenar, avaliar ou reprimir. Apreciar
como vão e vêem sem nunca comprometer o silêncio e a paz que os amparam. Ficar
frente a frente com resistências, medos e acomodá-los.
O
corpo é uma excelente ferramenta para constatar essa realidade interna. Podemos
perceber quantas tensões acumulamos no peito, costas, rosto, crânio. Como é difícil
permanecer observador do ar que entra e sai das narinas naturalmente, sem
exercer um controlo, como é difícil nos desapropriarmos do corpo, como nos
contemos na manifestação de emoções, sentimentos, pensamentos, como fugimos
desse encontro e nos perdemos em estórias, fantasias.
A todo
o momento o corpo comunica e expressa a nossa inquietação, a dor de um peito
que se fechou, a exaustão de aparentes pensamentos incessantes e o medo… o medo
de confiar, o medo de se entregar e doar… o medo de Ser.
Então,
que possamos estar presentes e alertas em cada savasana e que desta forma possa
contribuir no nosso processo de aprendizagem, reconhecimento e descoberta.
Om
Sónia
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