Hoje
observava a tristeza, raiva da filha por não lhe ser concretizado o desejo de
trazer os amigos até à sua casa. Na sua espontaneidade e ignorância xingava a
mãe, a sua condição de filha única e gritava como era injusto, como os adultos
eram chatos, como não sabiam brincar como as crianças.
Permanecendo
em silêncio, deixando acontecer a catarse, podia sentir no meu coração uma espécie
de empatia com aquela dor e com uma espécie de obstinação em arranjar formas e
estratégias de conseguir o que tanto estava a desejar…
Como
se mostrou infrutífero a criança decidiu aproximar-se e pedir a conversa. Perguntou,
“porquê mamã? É duro…”
Refletindo
sobre este episódio questionei, como podemos exigir de uma criança um
comportamento face às suas chamadas “birras” se nós, adultos, as fazemos por
detrás de tantas formas aparentemente maduras? Como podemos apontar o dedo a
uma criança e dizer-lhe “ tu não me voltas a chamar isso” sem a capacidade de
nos voltarmos para dentro e reeducar o nosso diálogo interno? Como posso
resolver as situações à base da autoridade e palmadas, sem entender que é isso,
exactamente, que faço a mim mesma?
A
tolerância, espaço, tempo, compaixão e amor que se oferece espontaneamente a
uma criança, é a mesma que oferecemos, genuinamente, a nós mesmos.
Então,
talvez ela seja um belo espelho da forma como tratamos e aprendemos a
se relacionar com a criança que um dia já fomos…
Como
ela sofre em silêncio, como se sente incompreendida, avassalada por um
turbilhão de emoções que não entende, dá conta sequer… como nos preocupamos
mais em ensinar padrões do que ensinar a amar-se, cuidar-se, acolher-se,
conduzir-se na sua humanidade, fragilidade, vulnerabilidade. Como nos colocamos
na cilada mental de educar, super e especiais pessoas aparentemente fortes,
seguras, com auto estima, afastando-as do terreno fértil onde efectivamente
tudo isso ocorre?
Que se
aprenda a olhar nos olhos de uma criança e com toda a humildade se confesse
como gostaríamos que fosse diferente, como tentamos fazer o melhor que sabemos
e podemos ainda que fique tão aquém. Que se manifeste o desejo de dar amor e
como ele consegue ser tão distorcido. Que se abrace e se silencie mais. Que se
escute além das palavras. Que se permaneça discreto, firme, disponível para o “melhor
e o pior”. Que se atenda sem interesse de alimentar e saciar as suas próprias
frustrações… isso pesa, sufoca, prende a corrida livre das pernas, as asas
livres do voo…
Que
se aprenda, perdoar a si mesmo…
Que
se aprenda, valorizar a si mesmo…
Que
se resgate o poder pessoal, a dignidade, o respeito por si mesmo…
Que
se aprenda a reconhecer o caminho em direcção à fonte da força interior que
carregamos…
Como
remamos contra a maré… como padecemos de ignorância, arrogância, pretensão e
orgulho! Como chegamos, inclusive, a ser um tanto ridículos, ingénuos.
Tudo
bem… mas pelo menos que se faça dessa realidade um utensílio para cavar as
ervas daninhas, que impedem as belas e cheirosas flores brotarem no imenso
jardim que nos habita!
HarihOm
Sónia
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