sábado, 23 de julho de 2016

Reflexão # 67 - Quando as Crianças nos Contam aquela História...


Hoje observava a tristeza, raiva da filha por não lhe ser concretizado o desejo de trazer os amigos até à sua casa. Na sua espontaneidade e ignorância xingava a mãe, a sua condição de filha única e gritava como era injusto, como os adultos eram chatos, como não sabiam brincar como as crianças.
Permanecendo em silêncio, deixando acontecer a catarse, podia sentir no meu coração uma espécie de empatia com aquela dor e com uma espécie de obstinação em arranjar formas e estratégias de conseguir o que tanto estava a desejar…
Como se mostrou infrutífero a criança decidiu aproximar-se e pedir a conversa. Perguntou, “porquê mamã? É duro…”
Refletindo sobre este episódio questionei, como podemos exigir de uma criança um comportamento face às suas chamadas “birras” se nós, adultos, as fazemos por detrás de tantas formas aparentemente maduras? Como podemos apontar o dedo a uma criança e dizer-lhe “ tu não me voltas a chamar isso” sem a capacidade de nos voltarmos para dentro e reeducar o nosso diálogo interno? Como posso resolver as situações à base da autoridade e palmadas, sem entender que é isso, exactamente, que faço a mim mesma?
A tolerância, espaço, tempo, compaixão e amor que se oferece espontaneamente a uma criança, é a mesma que oferecemos, genuinamente, a nós mesmos.   
Então, talvez ela seja um belo espelho da forma como tratamos e aprendemos a se relacionar com a criança que um dia já fomos…
Como ela sofre em silêncio, como se sente incompreendida, avassalada por um turbilhão de emoções que não entende, dá conta sequer… como nos preocupamos mais em ensinar padrões do que ensinar a amar-se, cuidar-se, acolher-se, conduzir-se na sua humanidade, fragilidade, vulnerabilidade. Como nos colocamos na cilada mental de educar, super e especiais pessoas aparentemente fortes, seguras, com auto estima, afastando-as do terreno fértil onde efectivamente tudo isso ocorre?
Que se aprenda a olhar nos olhos de uma criança e com toda a humildade se confesse como gostaríamos que fosse diferente, como tentamos fazer o melhor que sabemos e podemos ainda que fique tão aquém. Que se manifeste o desejo de dar amor e como ele consegue ser tão distorcido. Que se abrace e se silencie mais. Que se escute além das palavras. Que se permaneça discreto, firme, disponível para o “melhor e o pior”. Que se atenda sem interesse de alimentar e saciar as suas próprias frustrações… isso pesa, sufoca, prende a corrida livre das pernas, as asas livres do voo…
Que se aprenda, perdoar a si mesmo…
Que se aprenda, valorizar a si mesmo…
Que se resgate o poder pessoal, a dignidade, o respeito por si mesmo…
Que se aprenda a reconhecer o caminho em direcção à fonte da força interior que carregamos…
Como remamos contra a maré… como padecemos de ignorância, arrogância, pretensão e orgulho! Como chegamos, inclusive, a ser um tanto ridículos, ingénuos.
Tudo bem… mas pelo menos que se faça dessa realidade um utensílio para cavar as ervas daninhas, que impedem as belas e cheirosas flores brotarem no imenso jardim que nos habita!  
HarihOm

Sónia

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