quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Reflexão # 47 - Labirinto e Lucidez

imagem retirada da internet

Quando penso num labirinto sempre vem ao meu pensamento os jogos de quebra cabeça que tanto gostava de fazer. Lembro que sempre tinha um ponto de partida, um ponto de chegada e pelo meio uma série de caminhos emaranhados, complexos que me faziam “fritar” toda a vez que voltava ao mesmo ponto de partida ou toda a vez que chegava a um ponto fechado. 
Trazendo essa experiência para o conteúdo de vedanta vem ao meu pensamento a possibilidade de fazer algumas analogias. Por exemplo com o samsara, com a mente. E de que forma? Toda a vez que me vejo identificada, presa em pensamentos, desejos, formas, conceitos, sentimentos e toda a panóplia de objectos observáveis que fazem de mim um ser humano que nasce, cresce, morre desejando alcançar felicidade, paz, plenitude imutável, eterna e irrefutável.
Estarei a caminhar em busca de uma felicidade e contentamento num complexo labirinto que me conduz ao mesmo ponto de sempre, apenas e só por ignorar que o que traz realidade ao labirinto, ao quebra cabeça e a essa busca incessante, é a falsa ideia e visão de que eu sou este corpo, esta mente, estes desejos, sentimentos, emoções, naturalmente limitados e variáveis no tempo e espaço e que portanto, não permitem em si mesmos oferecer a paz e felicidade capazes de saciar um desejo que tem por base algo maior e fundamental a ser reconhecido e entendido, ou seja, o ser livre, amoroso, compassivo e feliz que sou aqui e agora. A natureza do verdadeiro Eu, o sujeito que dá realidade aos objectos e que permite a experiência de existir, pensar, sentir, criar, desejar, realizar, servir…
Podemos pegar em vários exemplos, situações da nossa vida para compreender essa natural limitação. Quando procuramos um relacionamento ideal na tentativa de suprir as nossas carências, necessidades, desejos e expectativas, quando procuramos a solução para os nossos complexos de inferioridade num projecto corporal, mental, emocional estrategicamente arquitectado, quando procuramos mérito, reconhecimento e valor através de pessoas, situações e circunstâncias, quando procuramos possuir, adquirir, reter em nossas mãos coisas, pessoas, ideias, projectos, na tentativa de saciar a nossa natural sede por amor, liberdade, contentamento...
Quanto sofrimento testemunhamos neste ciclo sem fim, perdidos neste complexo labirinto de ignorância, arrogância, orgulho… 
Mas afinal o que me livra desta infinita dinâmica?
A lucidez… a lucidez proveniente de uma desconstrução mental de quem sou eu, do entendimento de tudo aquilo que faz de mim um ser humano, do entendimento profundo de que algo maior ilumina toda a acção e inacção, toda a experiência, escolha, dinâmica, relação, interacção, formas, objectos. O entendimento de que essa realidade vislumbrada é a verdadeira natureza do Eu, livre do complexo e sofisticado labirinto que naturalmente deixa de ser um quebra- cabeça ou algo sem solução.
De verdade a lucidez confidencia que efectivamente labirintos não são dotados de realidade. Apenas fazem parte de um sonho onde eu me assisto perdido em complexos caminhos emaranhados, “fritando” de dor e sofrimento num sofisticado quebra-cabeça.
Om
Sónia.

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