segunda-feira, 9 de julho de 2012

Eu, o meu ego e uma travessia no deserto




Foi a gravidez e uma enorme instabilidade emocional que me fizeram procurar a prática do yoga. Naquele momento havia decidido dar a oportunidade à minha filhota, de viver a sua vida uterina com alguma qualidade. A primeira ideia é que se trata de uma prática bem tranquila e relaxante, que nos leva a um estado de peace and love sem precisar de fumar um charro (risos)! 
Logo na primeira aula pude perceber que a prática não era assim tão tranquila...os meus braços tremiam, a minha respiração era ofegante, as pernas doiam de tão atrofiadas e o meu rosto era tudo menos um rosto sem expressão...
Os tempos foram passando, a barriga crescendo e a prática era para mim três dias da semana que dedicava ao primeiro lar da filhota...esforçava-me para que o corpo ficasse preparado para um parto normal, para que as emoções, sentimentos e pensamentos planassem. Naquele momento apenas isso era o importante. O estado de graça era tal que não havia lugar para questões, dúvidas, and so on. 
Quando a filha nasceu foi gritante a vontade de dar um novo rumo à vida. Não queria voltar aquele estado de contrafeito e frustação! Não queria continuar fechada para o mundo! Não queria viver na ilusão, no sonho e fantasia! Não queria continuar em busca de algo num "não sei bem onde", "não sei bem o quê"! Não queria continuar a ser aquela menina cheia de energia, timida e insegura! Não queria continuar a convencer-me do que não era! Não queria continuar a viver achando que só fazia sentido, se houvesse lugar às borboletas na barriga e palpitações no coração! 
Queria paz! Queria descer à terra! Queria ser e fazer de verdade! Queria estar! Queria dar o melhor de mim! Queria ouvir-me! 
Ao iniciar uma prática diária e ao ouvir alguns ensinamentos começo a perceber a lógica da coisa e naturalmente fico mais desperta para tudo o que acontece comigo. A meta deixa de ser apenas chegar com o nariz à canela ou ficar de cabeça para baixo...de que me vale tais habilidades se continuo sem controlar meus impulsos? Se continuo a desejar as borboletas na barriga, o coração a palpitar? Se continuo a deixar que a fantasia me roube a concentração e o foco? Se continuo a deixar meus pensamentos e emoções  soltos, livres e sem rédeas? Se continuo sem saber gerir e arrumar a "minha casa"? 
Confesso que saber que o ego é o responsável pela bagunça, tranquiliza (risos). Mas saber que não o podemos simplesmente colocar na rua, assusta (risos)! Então, a solução será aprender a viver com ele e domesticá-lo direitinho! Esta sim é tarefa dificil de se fazer! São imensas as armadilhas ao longo da caminhada! Se damos uma trégua lá está o amigo ego a fazer das suas, lá estão a surgir as falsas percepções, os sentimentos confusos e equivocados, os pensamentos despropositados, as emoções alteradas, descompassadas, as ações pouco inteligentes, as decisões erradas, a degradação fisica, o bloqueio e a atrofia mental! 
Percebem porque se torna tão importante compreender o ego? Percebem porque devemos ficar atentos às nossas tendências, aos nossos hábitos, à nossa personalidade?  
Quando arrumamos a casa podemos entender melhor nosso dharma, o nosso dever, a ação certa, a ação que não agride o outro. 
E vocês perguntam para mim, que iniciei a minha prática diária há certa de um ano, sabes qual é o teu dharma? Sabes compreender o teu ego? Tens sempre uma boa relação com ele? Sabes colocar as rédeas nos teus cavalos? A carroça já se espatifou? O cocheiro já se magoou? 
E eu respondo...não, não sei qual o meu dharma mas tento saber! Assim como tento compreender o meu ego e relacionar-me da melhor forma com ele.
O cocheiro, um novato nesta trilha, nem sempre coloca da melhor forma as rédeas nos seus cavalos! Vai daí, já deixou que a carroça se espatifasse e óbvio que se magoou sério!
Mas...o cocheiro um dia decidiu que não mais havia de fugir e desistir! Levantou-se, sacudiu-se e continuou a sua caminhada! O importante não é cair mas sim a vontade e capacidade de se levantar! Na verdade cada queda traz consigo ensinamento, conhecimento. Não é ignorando a queda que a evito! É aceitando-a, percebendo-a! 

Namastê
 
 

2 comentários:

  1. Ola Sonia, adorei o seu blog! Li todo o conteúdo, numa só tacada! E há posts q mais tarde lerei novamente, principalmente os que dizem respeito a suas meditacoes. Cheguei a praticar yoga há muitos anos, mas infelizmente por pouco tempo. Ultimamente estava tentando voltar, e seu blog caiu muito bem a mim como inspiraçao e propulsor de vontade para eu persistir nesses estudos. Parabéns pela melhoria diária e pelo blog bem escrito!

    Saudações,
    Dany B.

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  2. Olá Dany. Fico feliz de saber que minhas reflexões servem de inspiração. Persiste sim na prática, nos estudos! Mantêm-te firme! Apesar da minha prática ainda ser recente, das dificuldades, dos obstáculos e dos conflitos é muito bom poder estar presente em cada momento!
    Obrigada pelo teu feedback
    Namastê
    Sónia

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