sábado, 14 de fevereiro de 2015

Reflexão # 35 - A Complexidade de Savasana, a postura do cadáver


Quando no final de uma prática de yoga nos colocamos em savasana, também conhecida pela postura do cadáver, deveríamos executá-la com toda a atenção e com o mesmo empenho, dedicação, determinação que colocamos em qualquer outro ásana complexo e altamente elaborado. Na verdade, o propósito da sua complexidade e elaboração está muito além do que os nossos olhos são capazes de ver através de fotos, vídeos e etc. Isso é meramente plástico que pela sua superficialidade não tem a capacidade de nos contentar, sustentar emocional e mentalmente. Poderemos inicialmente nos motivar pela euforia, aparente desejo de querer chegar a um determinado nível e assim poder se ver capaz, realizado, poderoso, reconhecido, etc, mas logo, logo isso se desvanecerá entre frustrações, buscas insaciáveis, desilusões, sentimento permanente de carência. O ásana por si só não tem a capacidade de resolver o problema fundamental do ser humano, a ignorância relativamente à sua natureza essencial. Então, o que se pretende com o ásana ou outra disciplina qualquer é uma atitude favorável a um reconhecimento profundo de si. De facto, posso constatar que é essa atitude que constrói uma postura equilibrada, firme, consciente, confortável à qual podemos chamar ásana, como nos diz o sutra de Patanjali.       
Talvez o savasana seja a postura mais desafiante de se executar… aparentemente é de grande simplicidade deitar-se imóvel, permanecer alguns minutos nessa postura e relaxar profundamente, mas a verdade, e se prestarmos bastante atenção, estamos longe de o conseguir… o corpo até pode estar estendido no chão e ao olhar dizer “estou em savasana” mas isso é meramente plástico…
Permitir-se ficar em savasana, consciente e profundamente relaxado requer observação, aceitação, entrega, confiança. É necessário criar um espaço interno para que olhe e abrace as minhas emoções, os meus pensamentos sem condenar, avaliar ou reprimir. Apreciar como vão e vêem sem nunca comprometer o silêncio e a paz que os amparam. Ficar frente a frente com resistências, medos e acomodá-los.
O corpo é uma excelente ferramenta para constatar essa realidade interna. Podemos perceber quantas tensões acumulamos no peito, costas, rosto, crânio. Como é difícil permanecer observador do ar que entra e sai das narinas naturalmente, sem exercer um controlo, como é difícil nos desapropriarmos do corpo, como nos contemos na manifestação de emoções, sentimentos, pensamentos, como fugimos desse encontro e nos perdemos em estórias, fantasias.  
A todo o momento o corpo comunica e expressa a nossa inquietação, a dor de um peito que se fechou, a exaustão de aparentes pensamentos incessantes e o medo… o medo de confiar, o medo de se entregar e doar… o medo de Ser.  
Então, que possamos estar presentes e alertas em cada savasana e que desta forma possa contribuir no nosso processo de aprendizagem, reconhecimento e descoberta.  

Om
Sónia



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