imagem retirada da internet
Impor é uma palavra conotada negativamente como algo que é obrigatório se fazer, obedecer à força. Uma palavra que nos leva a crer que a nossa liberdade é roubada ou a nossa capacidade de expressão. De facto é pesada a herança cultural, religiosa, educacional conduzindo a nossa mente entre os velhos padrões e tendências de sempre, ainda que disfarçados em novas ideias, escolhas, decisões. Encontram-se tão enraizados que infinitas vidas não seriam possíveis para conseguir a mente tão desejada ou as emoções tão maduras. Na verdade, o amadurecimento é entender que não controlo absolutamente nada, que sou limitado, impotente e que portanto me entrego à minha limitada inteligência para realizar o que é possível aqui e agora, dentro de uma ordem bem maior que a minha mente possa conceber. Isso não significa inacção, inercia, comodismo, nem conformação com o quer que seja. Não significa negligenciar ou negligenciar-se, tampouco significa desresponsabilizar-se pelos seus diversos personagens e papeis.
Se nos debruçarmos livre de um julgamento mental, percebemos que de alguma forma vivemos uma imposição que não é mais do que um fluxo natural e espontâneo do ser humano enquanto agente de necessidades básicas e fundamentais como respeito, verdade, valor, atenção, compreensão, aceitação, amor e por aí vai numa lista infindável daquilo que nos move e dinamiza. Viver e estar no mundo implica impor uma identidade não no sentido das crenças que temos relativamente à palavra mas na perspectiva natural e espontânea de nós enquanto ser humano dotado de um conjunto de habilidades, aptidões, características que o fazem objecto de estudo complexo e ilimitado.
Podemos pegar nos mais variados exemplos e entender como naturalmente nos impomos. Seja através de um gesto, de uma palavra ou até mesmo no silêncio. Posiciona-mo-nos e procuramos nos fazer aceites, acolhidos, atendidos, escutados, valorizados, respeitados, amados. Ainda que possamos nos sentir das mais variadas formas é importante saber que nenhuma delas é certa ou errada, bonita ou feia, boa ou má. É uma manifestação natural do que necessito e que na maioria das vezes não sei comunicar de forma espontânea e natural, porque amarrado a uma estrutura mental e psíquica. Se observarmos uma criança verificamos esse fenómeno no seu estado mais puro, onde a sua estrutura mental se desenvolve e onde prevalece a manifestação espontânea de emoções, as quais muitas vezes não sabem nomear, explicar, agindo de modo a simplesmente sobreviver.
A vida, o mundo, é um jogo onde a adversidade, desafio, dificuldade, relações é um golo na baliza. Nada faria sentido sem isso ainda que queiramos a todo o momento aliviar a jogada.
Todos somos agentes de mudança. Todos somos especiais. Todos somos importantes e relevantes dentro de uma ordem maior. Procurar comunidades, procurar pares, posições, estratégias, realização de sonhos, ideais e tudo mais, o movimento natural do Universo onde a nossa mente, corpo, emoções, sentimentos estão incluídos e onde tudo tem uma relação de causa e efeito. Ninguém é separado do outro ainda que aparentemente, superficialmente o possam sentir…
Talvez tenhamos de aprender a rezar…não no sentido de uma crença mas no sentido de que efectivamente estou entregue às forças de um devir.
Que elas iluminem o meu pensamento, libertem o meu coração de tanta amarra e me doem através das mãos, palavras e gestos a sabedoria para melhor escolher, decidir e agir.
Palavras são só palavras…limitadas, presas em si mesmas…preciso desconstruir monstros, muros, barreiras e ver além de todas elas…
Gestos também são só gestos… pesados, leves, belos ou cruéis…por detrás deles uma estória, uma sinfonia que ora afina, ora desafina…preciso de humildade, capacidade de perdoar e me doar à impotência…
Assim entendo como a todo o momento algo bem maior se impõe diante de mim…e aquela palavra que tanto me aflige desvanece na sua relativa importância, significado e relevância.
Harih Om
Sónia.