sábado, 26 de dezembro de 2015

O Silêncio...


Dentro habita silêncio que é todo presença…
Que compõe emocionante melodia…
E numa dança poesia…
Silêncio que se faz tudo
Num choro e lamento contudo…
Que esgota falas e palavras
Para brilhar entre quadras…
Dentro do peito balança
Num grito amansa
E por amor descansa…
Nas turbulentas ondas do mar
Neste salgado e intenso desejar
O calor do imenso sol a poisar… 

(Sónia Andrade)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Pensamentos Soltos # 56

imagem retirada da internet


Em nós habita um passarinho que canta, voa, pula de árvore em árvore livre e feliz…
O ruído da nossa mente é tão imenso que não nos deixa ouvi-lo…
Como se vivêssemos numa grande cidade, cheia de ruídos, estímulos, poluição…
Num movimento frenético, automático, disperso, voltado para os infinitos resultados de uma determinada acção, que pela sua natureza efémera e fugaz, não é susceptível de saciar o desejo por felicidade, plenitude, liberdade…
Talvez precise parar… ficar em silêncio… atento e desperto…
Certamente, poderei apreciar o belo cantar desse passarinho…
Descobrir como ele é livre e feliz a todo o momento…
Na simplicidade do campo ou no caos da cidade…

Harih Om
Sónia Andrade 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Reflexão # 50 - Desconstruindo o valor da palavra IMPOR

imagem retirada da internet 


Impor é uma palavra conotada negativamente como algo que é obrigatório se fazer, obedecer à força. Uma palavra que nos leva a crer que a nossa liberdade é roubada ou a nossa capacidade de expressão. De facto é pesada a herança cultural, religiosa, educacional conduzindo a nossa mente entre os velhos padrões e tendências de sempre, ainda que disfarçados em novas ideias, escolhas, decisões. Encontram-se tão enraizados que infinitas vidas não seriam possíveis para conseguir a mente tão desejada ou as emoções tão maduras. Na verdade, o amadurecimento é entender que não controlo absolutamente nada, que sou limitado, impotente e que portanto me entrego à minha limitada inteligência para realizar o que é possível aqui e agora, dentro de uma ordem bem maior que a minha mente possa conceber. Isso não significa inacção, inercia, comodismo, nem conformação com o quer que seja. Não significa negligenciar ou negligenciar-se, tampouco significa desresponsabilizar-se pelos seus diversos personagens e papeis.
Se nos debruçarmos livre de um julgamento mental, percebemos que de alguma forma vivemos uma imposição que não é mais do que um fluxo natural e espontâneo do ser humano enquanto agente de necessidades básicas e fundamentais como respeito, verdade, valor, atenção, compreensão, aceitação, amor e por aí vai numa lista infindável daquilo que nos move e dinamiza. Viver e estar no mundo implica impor uma identidade não no sentido das crenças que temos relativamente à palavra mas na perspectiva natural e espontânea de nós enquanto ser humano dotado de um conjunto de habilidades, aptidões, características que o fazem objecto de estudo complexo e ilimitado.
Podemos pegar nos mais variados exemplos e entender como naturalmente nos impomos. Seja através de um gesto, de uma palavra ou até mesmo no silêncio. Posiciona-mo-nos e procuramos nos fazer aceites, acolhidos, atendidos, escutados, valorizados, respeitados, amados. Ainda que possamos nos sentir das mais variadas formas é importante saber que nenhuma delas é certa ou errada, bonita ou feia, boa ou má. É uma manifestação natural do que necessito e que na maioria das vezes não sei comunicar de forma espontânea e natural, porque amarrado a uma estrutura mental e psíquica. Se observarmos uma criança verificamos esse fenómeno no seu estado mais puro, onde a sua estrutura mental se desenvolve e onde prevalece a manifestação espontânea de emoções, as quais muitas vezes não sabem nomear, explicar, agindo de modo a simplesmente sobreviver.
A vida, o mundo, é um jogo onde a adversidade, desafio, dificuldade, relações é um golo na baliza. Nada faria sentido sem isso ainda que queiramos a todo o momento aliviar a jogada.
Todos somos agentes de mudança. Todos somos especiais. Todos somos importantes e relevantes dentro de uma ordem maior. Procurar comunidades, procurar pares, posições, estratégias, realização de sonhos, ideais e tudo mais, o movimento natural do Universo onde a nossa mente, corpo, emoções, sentimentos estão incluídos e onde tudo tem uma relação de causa e efeito. Ninguém é separado do outro ainda que aparentemente, superficialmente o possam sentir…
Talvez tenhamos de aprender a rezar…não no sentido de uma crença mas no sentido de que efectivamente estou entregue às forças de um devir.
Que elas iluminem o meu pensamento, libertem o meu coração de tanta amarra e me doem através das mãos, palavras e gestos a sabedoria para melhor escolher, decidir e agir.
Palavras são só palavras…limitadas, presas em si mesmas…preciso desconstruir monstros, muros, barreiras e ver além de todas elas…
Gestos também são só gestos… pesados, leves, belos ou cruéis…por detrás deles uma estória, uma sinfonia que ora afina, ora desafina…preciso de humildade, capacidade de perdoar e me doar à impotência…
Assim entendo como a todo o momento algo bem maior se impõe diante de mim…e aquela palavra que tanto me aflige desvanece na sua relativa importância, significado e relevância.



Harih Om
Sónia.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Pensamentos Soltos # 55

imagem retirada da internet

Liberdade é uma visão, conhecimento, entendimento. Liberdade não é uma mera acção. Fazer o que quero, onde quero, porque quero sem olhar a quê e a quem não me faz mais livre do que ninguém. Muito pelo contrário. Talvez me amarre com muito mais força a uma ilusão, utopia ou fantasia. Liberdade reconhece-se pelo coração, em silêncio e além de qualquer forma de pensar ou sentir…

Crescer em liberdade é crescer ganhando consciência de uma mente que é naturalmente limitada e imperfeita à luz de uma ordem e inteligência bem maior e imensa. É crescer ganhando consciência de um corpo que nasce, cresce, morre e que está a serviço. É crescer ganhando consciência das infinitas emoções que nos posicionam, dinamizam, movem e que nada de errado há com elas. É crescer ganhando consciência da não separatividade entre eu e o outro, entre eu e a natureza…

Tudo isto é representado num jogo, teatro. Preciso sentar e assistir. Vestir os personagens, fantasiar-me, adornar-me para me reconhecer actor e simultaneamente livre de qualquer papel, enredo, trama…

No final das contas tudo está em perfeita ordem incluindo a nossa ignorância, limitação, condicionamentos, inconformação e tudo mais… são elas as pedras preciosas da expansão da consciência, maturidade emocional e espiritual…

Om
(Sónia Andrade)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Pensamentos Soltos # 54

imagem retirada da internet

Eu posso espectar o mundo lá fora…
Cantar, dançar, fazer, realizar, construir, criar…
Posso apaixonar-me, posso sonhar, imaginar…
Posso amar, sorrir e gargalhar sem parar…
Posso chorar, a vida dramatizar ou até a galvanizar…
Posso encaminhá-lo buscando, descobrindo, conquistando sem fim…
Contando-o, pintando-o, representando-o de infinitas formas, infinitas possibilidades…
Poderei deslumbrar-me, encantar-me, entusiasmar-me até…
Mas… lá fora jamais será suficiente para me saciar profundamente…
Sempre será pequeno, escasso, relativo dentro deste coração…
E o cansaço… esse me deixará na mão…
Desejarei parar, sentar e em plena atenção olhar…
Nas profundidades me encontrar, nutrir e amar…
Desejarei em silêncio ser sem precisar de o enaltecer…
Desejarei repousar para livre e feliz apreciar…
A beleza de navegar as ondas deste imenso mar…

(Sónia Andrade)

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Pensamentos Soltos # 53

imagem retirada da internet

A vida torna-se arte, prazer divino, alegria, contentamento, quando deixei de precisar resistir à visão de que eu, criador, criação, somos uma coisa só…
Quando o meu corpo, mente, emoções se entregam ao ritmo de uma dança e se abrem à possibilidade de contar infinitas estórias, compor infinitas tramas, representar infinitos personagens…
Por detrás o silêncio, a presença, o amor incondicional e compaixão que sustenta o palco, o compasso de cada passo…
Voltarei a extasiar-me em felicidade, doçura como aquela criança que senta e brinca com o pai…
Voltarei ao colo da mãe e me deixarei envolver no cheiro, calor do seu puro e espontâneo amor…

(Sónia Andrade)

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Pensamentos Soltos # 52

imagem retirada da internet

Dentro de nós habita uma flor…uma delicada flor
Escondida num vasto e denso mato…
Está carente de luz, amor, cuidado e atenção…
Precisa de mãos obreiras e resilientes que devastem o mato…
Precisa de corações despojados que corajosamente abrem o caminho…
Precisa de mentes despertas, hábeis e aguçadas que não se distraem…
Quando à beira dela me renderei à sua magnânima beleza…
Os meus joelhos cairão e as minhas mãos se unirão em prece…
Oferecerei o silêncio como porta-voz do amor e compaixão…
E permanecerei…
Apreciando, contemplando a sua graça, o seu esplendor
Quando nutrida por raios de luz divina…


 (Sónia Andrade)

domingo, 27 de setembro de 2015

Reflexão # 49 - Quando "Cheios de nós"...

imagem retirada da internet 

Quanto mais permanecemos “cheios de nós” maior as probabilidades de se estatelar a cada virar de esquina…como diz o provérbio popular “quanto maior a subida maior a queda”. Nada de errado há em reconhecer os seus talentos, as suas aptidões, belezas, dons, mas colocá-los como forma de se considerar especial, fora de série, separado e divido do outro, a maior armadilha da mente humana. Se prestarmos atenção, fazemo-lo tão subtilmente que inclusive se disfarçam em grandes gestos, palavras de humildade, generosidade e sorrisos de enorme simpatia e amorosidade.
Facilmente deslumbramo-nos com a apreciação, o reconhecimento, os aplausos, as manifestações de respeito e valor. Também com a mesma facilidade nos desiludimos na ausência de tudo isso correndo desesperadamente numa busca. Criamos uma auto-imagem e junto com ela um determinado tom de voz, olhar, postura física, gesto e tudo mais. Somos os primeiros a dizer a minha presença, a minha atitude, os meus feitos, as minhas conquistas, a minha energia, a minha história, o meu currículo, o meu trabalho, as minhas obras e por aí vai. Também somos os primeiros a dizer como não valho nada, como sou um falhado, como não consigo, como não tenho, como quero ter, como não sou e como quero ser. Sem querer, desenvolvemos ora uma arrogância simpática, ora uma arrogância amorosa, ora uma arrogância gentil, ora uma arrogância sisuda, convencendo-se de tudo menos de um coração que a todo o momento deseja repousar numa paz inabalável.
Podemo-nos assistir num verdadeiro ringue ora defendendo, ora atacando, lutando para ficar de pé, vitorioso, digno de respeito, consideração, valor. E ainda que no final me venham levantar o braço e entregar um troféu, o coração, esse do qual jamais poderei fugir, permanecerá insaciável. Na verdade pouco lhe vale as luzes da ribalta ou os aplausos da malta, pouco lhe vale simpatias ou ironias…
Ele nutre-se de simples e genuínos abraços…  aqueles que me dou a cada reconhecimento de erro, covardia, orgulho…a cada reconhecimento de como temo e sou impotente… a cada reconhecimento que nada me separa do outro… a cada reconhecimento que o outro é presença divina na minha existência, vida e não um adversário, inimigo ou alguém a quem devo provar, mostrar, ou ainda, alguém que devo possuir, conter, reter…
Ele nutre-se das mãos que se abrem, das emoções que dançam e do pensamento que é livre do seu julgamento…  
Ele nutre-se da ousadia de se despir e sem qualquer preconceito, mostrar-se nu…
Ele nutre-se da boca que se fecha para que ouvidos escutem…
Ele nutre-se da cabeça que se baixa para que corações se erguem…
Ele nutre-se de lágrimas que se soltam para que mentes se purifiquem…
Assim poderá respirar esplendorosamente… 
Livre de nós porque “cheios de nós”…

Harih Om
Sónia.

sábado, 12 de setembro de 2015

Reflexão # 48 - O Empreendedor Interior...

Imagem retirada da internet

Na área da economia, gestão ouvimos falar de empreendedorismo, a capacidade de empreender, de criar, produzir, realizar, materializar e obter um retorno financeiro através disso. Para além de analisarmos o mercado e as oportunidades, possibilidades que oferece, colocamos um gosto, uma paixão, um interesse, uma motivação em prática e a serviço de uma comunidade, sociedade.
O caminho da espiritualidade, do autoconhecimento necessita desse empreendedor que analisa o tudo que o compõe, os factores preponderantes da sua vida como família, profissão, relações, sexualidade, refinando o conhecimento, sensibilidade, colocando nas suas mãos as rédeas da vida que efectivamente quer viver. Assim como o mercado oferece obstáculos também o nosso espaço interno… perceberemos como resistimos, como carregamos arrogância, orgulho, medo, ignorância, vícios, tendências …
Para que possamos ser obra empreendedora de nós mesmos urge a necessidade de um olhar sério, objectivo, focado, determinado. Um coração e mente disponíveis para se reverem, realinharem com verdade, na verdade, pela verdade…fortes e corajosos para expressar, materializar com propósito…
Nada cairá do céu… disciplina, trabalho, dedicação, resiliência, paixão e muito amor para acolher e se acolher, para virar e se virar do avesso…
Que se abra os braços à adversidade…ainda que ela me faça cair de rastos no chão, também é ela que me faz levantar mais forte, consciente e humilde.
Que se adopte um papel de empreendedor interno actuando em prol do reconhecimento do Ser inteiro, pleno, feliz que sou.

Om
Sónia.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Pensamentos Soltos # 51

imagem retirada da internet

Em nós habita uma presença tão bela, que nos impulsiona ao desejo de fazer da vida um verdadeiro ritual de luz, amor, fogo…
Uma presença que nos impulsiona ao descontentamento pela acção desprovida de entrega, consciência, beleza, sensibilidade, amorosidade, compaixão…
A herança de um pensamento tão categórico e erróneo conduz-nos na ilusão e rouba a possibilidade de expressar pérolas escondidas em nós… vivemos pela metade, aquém do que poderíamos, gostaríamos…violentando sob as mais diversas formas o que é sagrado… calando uma doce e suave canção que toca dentro do nosso coração…
E assim vamos indo… guerrilhando no nada, por nada… e sabes porquê?
A canção jamais irá parar
Alguma vez irei escutar...
O desejo jamais irá cessar
Alguma vez quererei saber amar…

Om
Sónia

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Reflexão # 47 - A Natureza Da Crítica...

imagem retirada da internet

Decidir expor-se através das mais diversas formas implica sujeição à crítica…
Mas afinal o que é a crítica? Porque tantas vezes a tememos?
Crítica não é mais do que um julgamento à luz de um conjunto de valores estabelecidos na mente. Por essa razão as observamos tão diversas, tão variáveis de pessoa para pessoa. Julgar a crítica de positiva ou negativa, construtiva ou destrutiva é exactamente o mesmo mecanismo. Um facto que está a ser avaliado à luz do que considero e valorizo. Não há nada de errado e esse é o mecanismo natural da mente. Por essa razão nos apetrechamos de meios que contribuam para a sua qualificação, purificação, criando um estado favorável não só para ser ver, acolher, como para entender que não é a “rainha da cocada preta”. A crítica só é dramática quando existe a forte convicção e visão de que ela é susceptível de acrescer ou diminuir algo ao meu Ser. Estaremos presos a uma busca desesperada e sem sentido por um corpo, mente, emoções perfeitos, aceites à luz da superficialidade de um mero pacote, de mera imagem.
Então como se relacionar com ela? Entendendo o que se encontra atrás de um julgamento. Existem sentimentos e necessidades em todos nós. É isso que nos move e dinamiza. Então, podemos estar perante uma pessoa que se sente preocupada, porque tem uma necessidade de contribuição, e vestir o papel de crítica, opinando que poderia ou deveria ser assim. Podemos estar perante uma pessoa que se sente revoltada, porque tem uma necessidade por justiça, verdade, e vestir o papel do crítico sarcástico. Podemos estar perante uma pessoa que se sente amargurada porque tem uma necessidade por amor e vestir o papel do crítico simpático. Podemos estar perante uma pessoa que sente inveja porque tem uma necessidade por produção, criação e vestir o papel do crítico desaforado.  E por aí vai... numa infinidade de possibilidades. Colocar a responsabilidade, o valor, reconhecimento do quer que seja numa avaliação externa é a sua "sentença de morte". Não é por acaso que se diz “não se pode agradar a gregos e a troianos”.
Então como eu posso receber uma crítica?
Receber com clareza, discernimento, objectividade e humildade. Perceber o fundamento e se contribui ou não efectivamente na minha vida. Para tal olhar, preciso executar o mesmo processo que desconstrói o meu julgamento, colocando-me perante o que é básico e fundamental. Assim poderei escolher e decidir com liberdade e maturidade.  

Om
Sónia.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Pensamentos Soltos # 50

Imagem retirada da internet 

O maior caso de amor a se ter é com o nosso coração
No silêncio, em silêncio…
Nele não cabe pretensão, só espontaneidade…
Nele não cabe arrogância, só simplicidade…
Nele não cabe orgulho, só vulnerabilidade…
Nele todas as palavras, interpretações são limitadas…
Nele todas as obras, criações são escassas…
Nele todas as maldades, agruras são ignorância…
Nele todos os desejos, fantasias são brincadeira de criança…
Nele não há melhor ou pior…
Não há mais nem menos…
Não há herói nem fraco…
Não há poder ou submissão…
Nele e por ele tudo se dissolve...
Medo, carência, necessidade, identidade mera composição de uma resenha…

(Sónia Andrade)

domingo, 6 de setembro de 2015

Pensamentos Soltos # 49

imagem retirada da internet

Por vezes surge no pensamento ideias, vontades e um forte desejo de dar forma. O coração bate forte, dentro do corpo uma energia criativa, contributiva, amorosa e tudo ganha sentido, faz sentido…
No entanto parece que isso não é suficiente… uma necessidade de aprovação prende os teus movimentos…
Quando vejo este cenário mental sempre vem ao meu pensamento a criança que desde cedo aprende a questionar se pode isto ou aquilo, se está certo ou errado, se é bom ou mau, se é bonito ou feio…
Certa vez urge a necessidade de ser o pai que diz “escuta o teu coração e vai” e a filha que abraçando e sorrindo diz “pai, fui… amo-te”...

(Sónia Andrade) 

  

sábado, 5 de setembro de 2015

Pensamentos Soltos # 48

Imagem retirada da internet

Ironia, humor sarcástico é só a crença de que a vulnerabilidade e sensibilidade natural da espécie humana é sinónimo de fraqueza, ausência de inteligência, motivo de chacota, ou errado caminho para o sucesso, respeito e reconhecimento.
Se pensarmos um pouco, por detrás da ironia existem vários sentimentos e necessidades. A dificuldade de comunicar com autenticidade e verdade, porque preso a um conjunto de valores e crenças que me disseram um dia serem as certas, as que me fazem sobreviver, ser amado e valorizado, conduzem à cega pretensão de que sou muito seguro de mim, da verdade, bastante conhecedor e sério candidato a aplausos de admiração, simpatias…
Por meros instantes deixo-me inebriar e encubro um vazio sempre presente…   
No fundo estou meramente a mendigar amor, respeito, atenção, valor, reconhecimento porque teimo em permanecer adormecido num jogo, aparente e ilusório, que a todo o momento me faz engolir a mentira daquilo que eu sou…

(Sónia Andrade)

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Pensamentos Soltos # 47

imagem retirada da internet

De verdade emoção é uma jóia…
Uma riqueza doada a cada um de nós…
Ainda que embriagados nela a julgue-mos de malfeitora…
Apedrejando-a para que suma ou se afaste…
Ainda que extasiados desejemos sua infinitude em nossas mãos…
A sua preciosidade reside no corpo que a baila…
Na voz que a canta…
Na poesia que a descreve…
No amor que a vive…
Nas lágrimas que a chora…
Na saudade que a almeja …
É diamante que se lapida…
Que não se guarda dentro da gaveta…
Que se usa…
Que se mostra como brilha…
Como é bela e graciosa!

(Sónia Andrade)

Pensamentos Soltos # 46

imagem retirada da internet

Em nós mora um passarinho dotado de asas para voar…
Que de tanto ter ficado preso na gaiola, esqueceu delas…
Um dia, quando a gaiola se abre, naturalmente saberá que é para voar…
Mas ao chegar à beirinha da porta, precisará dum tempo para voltar a sentir as suas asas…
Reconhecer que servem para voar e para fazer dele o que é de verdade…
Um pássaro…que voa… que canta… livre…
As nossas mãos serão a voz que em afirmativa convicção múrmura, “vai”…    

(Sónia Andrade)

sábado, 29 de agosto de 2015

Reflexão # 48 - Disponibilidade Para Livre Amar...

imagem retirada da internet

Amor é sempre um tema que gostamos de ler, ouvir falar. Ele é inspiração de grandes romances, dramas, tragédias. É cantado, recitado, dançado, pintado… 
Procuramo-lo das mais diversas formas em relações, situações, circunstâncias… não tem como o contrário…o amor é a essência da vida…ela é concebida por e para amar.
Quantas vezes ficamos desesperados e em dor porque perdemos um amor, uma relação, uma estória? Sentindo que o mundo acabou de desabar na cabeça, perdidos em si mesmos e sem o mínimo controlo do que sentir, pensar? Revoltados, indignados, magoados, rejeitados, condenando, julgando, avaliando quem e o quê está certo, errado, quem e o quê é bom, mau?
Na verdade tudo o que aparentemente é um caos está numa perfeita ordem, num movimento inteligente que nos dinamiza e contribui para que um amadurecimento possa ocorrer.
Há uma verdade por detrás de toda a relação que não permite sustentar uma farsa, uma mentira, uma ignorância. E por isso somos testemunhas de tanta crueldade, sofrimento, tristeza, frustração, medo… podemos passar a vida inteira presos a uma crença, ideia do que é uma relação e o que ela efectivamente representa, condenados a omitir, esconder, ignorar o que nos faz estar juntos ou afastados uns dos outros.
De facto a maioria de nós não está verdadeiramente disponível para livre amar… não está verdadeiramente disponível para conhecer e acolher o outro…. Apenas projectamos a todo o momento o que reina dentro de nós…
Vamos pensar um pouco como isso é tão óbvio… Como eu posso estar disponível para conhecer e acolher o outro se nem mesmo a mim eu conheço e acolho? Como eu posso ter a pretensão de afirmar que esta ou aquela pessoa, esta ou aquela situação, esta ou aquela circunstância resolve a minha inquietação, a minha sede por amor puro, livre, espontâneo, natural? Como posso eu não sentir resistência? Como posso eu me entregar se fujo de mim mesma, se me evito, escondo, escamoteio, engano? A todo o momento eu apenas estou a pedir socorro para que me possa ver, acolher e entregar… e erroneamente transfiro para o outro essa responsabilidade... como pode? Não pode… é como andar de montanha russa, é como entrar num complexo labirinto e voltar sempre ao ponto de partida. 
Om
Sónia.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Reflexão # 47 - Labirinto e Lucidez

imagem retirada da internet

Quando penso num labirinto sempre vem ao meu pensamento os jogos de quebra cabeça que tanto gostava de fazer. Lembro que sempre tinha um ponto de partida, um ponto de chegada e pelo meio uma série de caminhos emaranhados, complexos que me faziam “fritar” toda a vez que voltava ao mesmo ponto de partida ou toda a vez que chegava a um ponto fechado. 
Trazendo essa experiência para o conteúdo de vedanta vem ao meu pensamento a possibilidade de fazer algumas analogias. Por exemplo com o samsara, com a mente. E de que forma? Toda a vez que me vejo identificada, presa em pensamentos, desejos, formas, conceitos, sentimentos e toda a panóplia de objectos observáveis que fazem de mim um ser humano que nasce, cresce, morre desejando alcançar felicidade, paz, plenitude imutável, eterna e irrefutável.
Estarei a caminhar em busca de uma felicidade e contentamento num complexo labirinto que me conduz ao mesmo ponto de sempre, apenas e só por ignorar que o que traz realidade ao labirinto, ao quebra cabeça e a essa busca incessante, é a falsa ideia e visão de que eu sou este corpo, esta mente, estes desejos, sentimentos, emoções, naturalmente limitados e variáveis no tempo e espaço e que portanto, não permitem em si mesmos oferecer a paz e felicidade capazes de saciar um desejo que tem por base algo maior e fundamental a ser reconhecido e entendido, ou seja, o ser livre, amoroso, compassivo e feliz que sou aqui e agora. A natureza do verdadeiro Eu, o sujeito que dá realidade aos objectos e que permite a experiência de existir, pensar, sentir, criar, desejar, realizar, servir…
Podemos pegar em vários exemplos, situações da nossa vida para compreender essa natural limitação. Quando procuramos um relacionamento ideal na tentativa de suprir as nossas carências, necessidades, desejos e expectativas, quando procuramos a solução para os nossos complexos de inferioridade num projecto corporal, mental, emocional estrategicamente arquitectado, quando procuramos mérito, reconhecimento e valor através de pessoas, situações e circunstâncias, quando procuramos possuir, adquirir, reter em nossas mãos coisas, pessoas, ideias, projectos, na tentativa de saciar a nossa natural sede por amor, liberdade, contentamento...
Quanto sofrimento testemunhamos neste ciclo sem fim, perdidos neste complexo labirinto de ignorância, arrogância, orgulho… 
Mas afinal o que me livra desta infinita dinâmica?
A lucidez… a lucidez proveniente de uma desconstrução mental de quem sou eu, do entendimento de tudo aquilo que faz de mim um ser humano, do entendimento profundo de que algo maior ilumina toda a acção e inacção, toda a experiência, escolha, dinâmica, relação, interacção, formas, objectos. O entendimento de que essa realidade vislumbrada é a verdadeira natureza do Eu, livre do complexo e sofisticado labirinto que naturalmente deixa de ser um quebra- cabeça ou algo sem solução.
De verdade a lucidez confidencia que efectivamente labirintos não são dotados de realidade. Apenas fazem parte de um sonho onde eu me assisto perdido em complexos caminhos emaranhados, “fritando” de dor e sofrimento num sofisticado quebra-cabeça.
Om
Sónia.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Assim eu vou, como as águas fluídas de um rio, eu vou...

imagem retirada da internet

Quando sentamos numa plateia para assistir a uma peça de teatro constatamos um conjunto de acções que irão permitir o espectador compreender uma estória, um conto, uma fantasia. Há todo um cenário, vários personagens, música de fundo para dar ênfase às situações mais dramáticas, luzes, maquilhagem, etc. Naquele palco é montado todo um enredo que conduz o espectador a sentir determinadas emoções, a pensar, imaginar, cogitar, viajar, desejar, fantasiar, etc. Quando o enredo é bem montado e interpretado é natural que o espectador fique colado à cadeira, os seus sentidos sejam completamente absorvidos pela estória e a mente a tome como verdadeira, vivendo-a intensamente. No final quando as luzes acendem, o espectador aplaude e consigo leva na memória a moral da estória, as sensações, as emoções, a interpretação fantástica dos personagens e toda a graciosidade envolvida na sua caracterização.
Assim é a vida… uma graciosa, emocionante e fantástica estória, contada à luz de uma verdade que se encontra por detrás de todos os personagens, enredos, cenários… 
Enquanto representamos, actuamos, tomamos como verdade tudo aquilo que conseguimos ver e sentir na e pela estória contada… no entanto alguma vez a estória chegará ao fim… a luz irá se acender e a realidade de cenários, enredos, personagens se desvanecer… restará a luz sempre presente que permite que estórias se contem e cenários se montem…
Autor, personagens e peças de teatro apenas uma bela e inteligente obra da realidade, da verdade sempre presente e irrefutável.
Só o meu vício de viver contos e fantasias, só o meu apego e medo podem tardar o reconhecimento de tal…
Quando aqui, apenas resta fazer do conto, da estória, dos personagens, dos cenários, caracterizações e enredos, um serviço da verdade…
E de palco em palco vou dançando, pegando, largando, sorrindo, chorando, desejando, amando…consciente que nada controlo e profundamente escolho, consciente que neste coração mora a verdade, que é a linha mestra, que é a luz que ilumina teatro, peça, autor, cenário, personagens…
E assim eu vou… como as águas fluídas no leito de um rio, eu vou…  
Harih Om
Sónia.


domingo, 26 de julho de 2015

Mente, a contadora de estórias...

imagem retirada da internet

A mente é uma contadora de estórias a avivar memórias…

Posso sentar tal qual uma criança, escutar e apreciar…
Posso viajar pela trama…
Sentir as personagens…
Saborear seus prazeres e desejos...
Vestir seus adornos e fantasias…
Viver suas tristezas e alegrias…

Posso emprestar este corpo à experiência…
Descobrir quão infinita, diversificada, espantosa, entusiasta, apaixonante, profunda, dolorosa e cruel, pode ser…

E no final…
No final, abrirei meus olhos…
Esboçarei um sorriso e me encontrarei…
Livre…
Livre do enredo… sem estória, nem memória…
Sem adorno e fantasia…
Sem necessidade de magia…

E assim como a criança naturalmente curiosa, cheia de vida e alegria, permanecerei sentada…
Deslumbrada…
Ouvindo, viajando, experienciando o que aqui e agora me está a ser contado…
Certa que não sou conto nem fantasia…
Que não sou trama nem magia…
Mas presença contida nesta poesia…

Sónia

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Pensamentos Soltos # 45

imagem retirada da internet

Entender que a natureza do Eu real e verdadeiro está além deste corpo, desta mente, destas emoções e sentimentos, deste vazio existencial, não significa negligenciar algum deles…
Pelo contrário, um senso de responsabilidade, amorosidade e compaixão, estará presente em cada acção, gesto, decisão…
Estarei hábil e consciente para acolher a minha individualidade assim como a do outro. Sem pretensão de querer me tornar alguma coisa, adquirir, possuir em prol de felicidade e realização. Humildemente e de coração aberto estarei pronto para conhecer, entender, compreender, largar, decidir, escolher em harmonia com um todo.
Estarei pronto para abraçar com toda a doçura uma mente que esperneia até ao momento de apreciar aquele doce abraço e corajosamente olhar com objectividade e sensibilidade…

Om
Sónia.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Mergulhado Num Poço de Água sem Fundo...

imagem retirada da internet

Quando a mente começa a ser objecto de conhecimento ao invés de sofrimento iniciamos um processo de grandes revelações e simultaneamente de libertação.
Emaranhados em pensamentos e assumindo como nossa verdade a estória e vivência de infinitos personagens, galgamos infinitas estradas que nos levam ao mesmo lugar de sempre, onde tudo parece pouco e insuficiente para me satisfazer, onde tudo parece efémero, fugaz e transitório. De facto é essa a natureza dos objectos e nada de errado há nisso. Objectos e personagens são meras formas e expressão do que é absoluto, imutável e eterno. O problema é a minha percepção de Eu, a identificação com aquilo que é naturalmente mutável, transitório, variável, fugaz. Como se houvesse um erro de cognição.
Completamente presos numa teia, alimentamos a mente com tudo aquilo que cada personagem mais gosta. Ora um drama, ora um terror, ora um romance, ora uma aventura, ora um suspense, ora uma erotização e por aí vai… infinitos filmes e géneros, para infinitos personagens, para infinitas obras…
Mergulhamos num grande poço de água sem fundo querendo a todo o momento respirar para sobreviver… mas se o poço de água é sem fundo e se nele estou mergulhada, como posso respirar? Só se isso for um sonho e eu reconhecer que não sou o sonho. E assim eu vejo o poço, eu vejo a água, eu vejo quanto mergulho, como mergulho, respirando, vivendo porque em nenhum momento me identifico com o sonho.
Por vezes somos avassalados por fortes emoções que parecem nos tirar do centro. Como se a todo o momento desejássemos conectar-se ao melhor que vibra no peito mas impedidos por uma ignorância que nos rouba a doçura, delicadeza, espontaneidade, paz e que se manifesta em arrogância, orgulho, raiva, revolta. A mente entra em cena, os personagens aliciados e a trama começa. Tudo em ordem, ela cumpre o seu papel. Assim como as emoções…  que apenas apontam para o poço de água, que é sem fundo e onde posso aprender a nadar com uma mente que amadureceu.
Estados de tristeza, alegria, euforia vão e vêem… se nos atentarmos a observar, podemos entender que ela persiste na exacta proporção do que alimento na mente. Se por momentos eu fechar os olhos, respirar profundamente e conectar-me a mim mesma, a tristeza será neutralizada. Se por momentos colocar uma música e dançar ela será transmutada numa acção prazerosa, de expressão e criação. O mesmo se passa com a alegria e a euforia. Se eu alimentar uma euforia permanente porque consegui isto, fiz aquilo, vou ali ou vim dali, o corpo vai exaurir, a mente explodir… se alimento uma alegria constante e permanente, vou fechar-me numa ilusão, numa espécie de anestesia que escamoteia a que é natural e espontânea e que se manifesta, inclusive, nos momentos de dor e tristeza.  
Então, essa mente só mente porque fechada em si mesma, tida como o eu absoluto. Quando observamos distantemente, discernindo os seus movimentos tendemos a criar um natural carinho, atenção, acolhimento e cuidado por ela.  Como se chegasse à conclusão de como tenho sido negligente, deixando-a aquém do seu potencial enquanto ferramenta que dá forma ao amor, compaixão, felicidade, plenitude, deixando-a aquém da sua capacidade de poder expressar, de poder criar, realizar, comunicar.
Om
Sónia.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O Grande Amor da Vida?

 imagem retirada da internet

Nascer nesta forma humana é herdar um corpo que sente, comunica, expressa, adoece, envelhece, nasce e morre… é herdar uma mente que pensa, que cria, que constrói, destrói, fantasia… é herdar a capacidade de sentir emoções que trazem a possibilidade de desejar conhecer, fazer, saber, aprender, descobrir, reconhecer. Apreciar o que nos compõe é como sentar numa plateia e ouvir uma orquestra sinfónica, sabiamente guiada por um maestro que coordena todo um grupo musical a fim de proporcionar unidade, coesão e harmonia. O resultado é uma bela melodia onde cada um contribui com o seu papel.
Olhando para mim, olhando para o tudo que me rodeia vejo o quanto padecemos de amor. Desde tenra idade que o procuramos através dos olhos de um outro. Primeiro através da mãe, do pai e à medida que vamos conhecendo o mundo, através de amigos, professores, colegas. Ignorando que todas as relações e experiencias apenas são o espelho, os olhos do coração, desejamos possuir, ter nas nossas mãos o objecto que naquele momento nos faz reconhecer algo "danado" de bom que vibra dentro, que enche um sorriso de alegria, que faz pular o coração, escrever e compor uma musica, sentir-se bela, recitar um poema, brincar e explorar tal qual duas crianças. Tudo o que se apresenta diante dos olhos é percepcionado como fonte de felicidade, amor, alegria, bem-estar. O problema começa quando esses objectos deixam de representar fonte de felicidade e inicio um processo de escolha ou rejeição mediante o que considere certo ou errado, bom ou mau, agradável ou desagradável, prazeroso ou não. Normalmente essas decisões caminham de mãos dadas com uma ignorância fundamental que me empurra para a responsabilização do mundo e pessoas pela minha insatisfação, desprazer, carência e necessidade. Passamos a maior parte dos dias da nossa vida numa busca incessante pelo grande amor, pela reunião de todas as condições que aparentemente saciam a necessidade por segurança, protecção, reconhecimento. Colocados à mercê de uma ilusão que tem por base um fluxo, um processo natural e dinâmico existencial, sofremos amargamente!
Posicionamo-nos como vítimas da própria vida fazendo dela o calvário e o suplício. De facto e avaliando as nossas acções, decisões parece que é maior o desejo de carregar uma cruz do que fazer dela instrumento de obra e criação.
É bem verdade que para tal feito, urge a necessidade de coragem, de força, entrega. Urge a necessidade de amar e acolher uma mente que esperneia como uma criança a quem não foi dado um pedaço de chocolate apenas e só porque ignora que por detrás daquele acto está a natural necessidade de cuidar e proteger. Urge a necessidade de se ver amor por si, em si.
Ao longo da vida muitas serão as vezes que um menino ou menina se aproximará para brincar de ser criança, disfarçados em cabelos brancos, rugas, desejos e fantasias. Muitas serão as vezes que o coração irá reconhecer tamanha empatia, tamanha vontade de estar ao lado, de dividir, de explorar, de dançar, amar… umas vezes vamos chamar de paixão, outras de grande amor. O nome pouco importará diante do intenso desejo de dar forma e intenção ao jogo. Nada de errado há com jogo ou jogadores, contando que se tenha clareza e discernimento para saber e entender que jogos vão e vêem, que estão aí para servirem de instrumento a algo bem maior que todos nós, e que efectivamente, jamais serão responsáveis por me oferecer e dar o grande amor da vida, aquele que nos deixa repousar em paz, no silêncio, nas palavras, nas lágrimas, nos sorrisos, no trabalho, na diversão, no prazer e desprazer, no bom ou no mau, no agradável ou desagradável…
Constatar tal realidade e verdade traz consigo dor e tristeza, traz consigo o reconhecimento da impotência de cada um de nós, o reconhecimento de que nada controlamos, que caímos e levantamos apenas e só por amor, que a todo o momento procuramos aliviar um vazio fundamental para que em prantos e rendidos possamos descobrir graça divina.  
Om
Sónia.



quinta-feira, 25 de junho de 2015

Vem...


Não queiras ser o durão
Que cala o coração
Esfrega o amor no chão
Não, não queiras não…

Deixa-me ver-te chorar
Não precisas justificar
Prometo, não me vou abalar
Em silêncio, ao teu lado vou ficar…

Não queiras ser o bonzão
Que quer o mundo na mão
Isso combina com desilusão
Não, não queiras não…

Vem, deixa-te ficar
Não precisas reclamar
Prometo que me vou calar
Só para te apreciar...

A cena acabou
O pano fechou
O papel terminou
Vem , sem nada a temer
Que só assim te posso valer…


(Sónia Andrade)

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Cavalo Selvagem


Oh meu cavalo selvagem
Cavalgas pela miragem
Neste cego orgulho a trote
Que frenético galope!

Oh mas que grande ilusão!
Escondes o coração
Que nessa sua beldade 
Exibe felicidade...

(Sónia Andrade) 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Estudar Vedanta e os Valores...


Para realizar qualquer estudo que me permita assimilar um conhecimento, seja matemática, espanhol, filosofia é importante conduzir a minha mente a um determinado nível de concentração, aquietamento que a permita entender logicamente factores, variáveis, conteúdos. Por essa razão é tão comum verificar estudantes que se isolam nas suas casas para estudar, mesmo que às vésperas de exames e provas orais. Nesse período de tempo, e na proporção do quanto fui capaz de me concentrar, raciocinar, entender e memorizar, assimilei um conhecimento que me aprovará ou não e me qualificará como detentor de conhecimento de uma determinada matéria.
Quando iniciamos um estudo de vedanta é comum que esse padrão nos acompanhe. É o que a mente reconhece, fruto de uma educação, de princípios e valores incutidos por uma sociedade de “fast food”. Falando na primeira pessoa, e condicionada pelo meu tipo de mente, facilmente me impressionava com a quantidade de conhecimento que um professor tinha, quantas palavras sabia em sânscrito, quantos mantras, quantos rituais, quantos ásanas. Fantasiava um perfil de professor assim como o conhecimento. Procurava o reconhecido e mergulhava numa tentativa meio desesperada de absorver todas aquelas coisas que supostamente me trariam o conhecimento e fariam de mim um professor capaz. Mas, não funcionou… como poderia estar a minha mente disponível para tudo aquilo se dentro do meu peito reinava o caos? E mais, como poderia eu sentir-me motivada para aprender tudo aquilo? Parecia que o desejo do meu coração em encontrar paz era superior ao desejo de saber todas as coisas, ser reconhecido do tal que é detentor de conhecimento porque domina muito…
Parecia que aqueles trilhos do yoga não eram muito diferentes dos de outrora… como se eles apenas estivessem disfarçados por novas práticas, novos hábitos, escolhas.
Começara então a perceber que teria de haver algo mais. Certamente haveria forma de me conectar com aquelas palavras que lera nos livros e até mesmo aquelas que ouvira de um ou outro professor. Elas eram músicas para os meus ouvidos. Por instantes o meu peito ganhava um fôlego de esperança. Mas porque me pareciam tão distantes e inalcançáveis? Este episódio do meu processo trouxe até mim o entendimento da importância de satya, da verdade. O que me move em direcção ao estudo de vedanta? O que pretendo efectivamente? “Fast food” que alimenta o desejo fugaz da mente em se apropriar de nobre e grandioso acervo, ou alimento que nutre a fome do meu coração em se livrar de tanta amarra, de tanta arrogância e pretensão?
Depois de me encarar olhos nos olhos, sem rodeios e paninhos quentes outros valores se reflectiram essenciais. A capacidade de confiar, de se conectar com a verdade que é desvendada em cada palavra contida nos textos escutados. A capacidade de se entregar a uma tradição de ensinamento e à pessoa que assume o papel de professor. Não se trata de dizer apenas que confio ou que me entrego… isso é pouco e a qualquer momento estarei a tirar as garras de fora, a engendrar mil e uma formas de me escapar, de fugir, de me defender…
Essa confiança e entrega, reconhece-se no coração… como se visse no do outro o meu…
Depois de tal estabelecido urge a necessidade de reconhecer outros… como a coragem, a determinação, a firmeza, persistência e resiliência.
Desmascarar-se, despir-se de tanto adorno e fantasia é doloroso…
Caminhar em direcção ao reconhecimento do mais puro, natural, simples em si, traz consigo muita aflição… como se voltasse no tempo para me sentir, para me ver e voltar a viver a mesma dor… só assim poderei perceber o meu sofrimento, o meu problema existencial e quem sou além de tudo isso. O reconhecimento da nossa criança interior, o papel da família, o papel da mãe, do pai. Este entendimento tem tanto de libertador como de triste. Portanto preciso estar certa ao que me proponho, confiante e entregue para não bacilar e correr a sete pés, e corajosamente resiliente para chegar ao final deste grande enredo.   
Vedantanão é um conhecimento igual a todos os outros que nos acostumámos a absorver. O seu processo é peculiar e exige de cada um de nós o uso dos valores mais fundamentais e essenciais que são causa da criação. Satya, sraddha, virya não se criam…reconhecem-se no âmago do nosso coração, como se pertencessem a uma inteligência, a uma ordem que nos conduz nesta busca humana.
Posso exercitar a minha mente e torna-la hábil a cultiva-los, para que por fim os possa reconhecer como sempre presentes e parte integrante de mim e do todo.
 Om

Sónia.