terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Reflexão # 28 - A prática física e o yoga...


Quando enveredei pelos caminhos do yoga o primeiro método que me foi apresentado, e o qual experiencio até aos dias de hoje, foi o ashtanga vinyasa yoga, que é baseado nas técnicas de hatha yoga e o qual foi estruturado por Sri K Pattabi Jois.
Lembro de paralelamente à prática, receber um ensinamento sobre o propósito do yoga, através do estudo dos Sutras de Patanjali e a Bhagavad Gita. Efectivamente, isso fez toda a diferença pois pude desenvolver uma determinada atitude que me permitiu criar um espaço de observação, reflexão, entendimento de que não estava ali a realizar uma mera prática física, tortuosa e desagradável para um corpo rígido, preso e fechado. Confesso, que se assim fosse talvez hoje não estivesse a praticar nem tampouco disponível, curiosa, interessada e determinada em trilhar este caminho, em descobrir quem sou, em aprender a expressar-me livremente e viver aqui, agora, leve, feliz com a minha história, família, adversidades, dificuldades…
Aparentemente pode parecer uma missão impossível… porque se parar para pensar existem mil coisas que me limitam, mil coisas que me condicionam e se eu esperar que seja o meu corpo e mente a suprir todas elas, isso será sem fim… ambos estão em constante movimento… o corpo todos os dias muda e está sujeito a tantos fenómenos mentais, emocionais, fisiológicos, ambientais que não controlamos… então, colocar como objectivo da minha prática o alcance de um corpo hábil a realizar as mais complexas e elaboradas posturas físicas, afim de me ver liberto, não faz sentido, é efémero e a qualquer momento essa habilidade pode se perder, por conta das mais variadíssimas razões.
Por outro lado e ainda que contribuindo para o contacto com realidades mais subtis, como emoções, padrões de pensamento, energia, etc, isso também está em constante movimento… a cada nova prática eu vou descobrir uma nova sensação … ora agradável, ora desagradável… vou viver uma nova emoção que se manifesta sem pedir licença e muitas das vezes sem sequer poder “floreá-la” com um claro e lógico pensamento… a cada nova prática vou observar uma mente que compara, uma mente que a todo o momento elabora grandes obras cinematográficas convicta em suprir carências, necessidades, uma mente que cria expectativas e que a todo o momento está ali preparada para me roubar o prazer e alegria do momento presente, mesmo que não esteja a brilhar com toda a intensidade que desejaria…
Colocar a prática como a solução do meu problema essencial e fundamental não faz sentido…  
Então, que a prática seja um ritual do meu dia onde me entrego a tudo aquilo que me compõe, onde agradeço a oportunidade de ver mais um nascer do sol e com ele a oportunidade de me conhecer mais um tanto… que a força, energia, saúde e vitalidade que a prática me oferece contribua para poder apreciar o ser amoroso, sensível e delicado que sou…

E assim eu vou… passo a passo… abrindo o meu coração, dando, recebendo e vivendo o que tiver para viver…
Om
Sónia.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Reflexão # 27 - O Poder...

imagem retirada da internet

A ideia de que exerço poder sobre alguém ou que alguém exerce poder sobre mim é apenas uma sofisticada mentira produzida na e pela mente, a qual alimento incessantemente com novas conquistas, novas estratégias, novos objectivos, expectando posição, reconhecimento, mais-valias e por aí fora. Esta realidade é um mero espelho daquilo que nos habituaram a ouvir, aprender, valorizar, obra de uma estrutura de sociedade que nos fez crer que isso é sinónimo de segurança, abundância, sucesso e prosperidade. Não criando um espaço em nós para reflectir e olhar com profundidade quem somos, caminhamos escravos de uma ignorância que nos impede de ver com clareza o que efectivamente nos move e dinamiza. Facto que nos conduz à exaustão, depressão, desânimo e à perda de um sentido para a vida. Por vezes só quando confrontados com situações criticas e as quais comprometam a vida, nos questionamos de tal… e lamentamos, lamentamos imenso. 
Para além disso e ainda que havendo conquistas, prosperidade, abundância, desperdiçamos a oportunidade de reconhecer o melhor que há por detrás de cada um desses conceitos, o imenso que habita cada um de nós, que se abre e contribui para que cada dia, gesto, acção seja dotado de consciência, presença e valor humano. Então, nada será vivido com superficialidade… desde o colo que é dado a um filho, quanto um presente que é dado a um amigo, ou uma canção tocada na viola, ou um jantar de amigos e até mesmo as palavras proferidas num momento de raiva, dor, mágoa. Tudo o que vem, tudo o que vai, virá por bem … não porque creio cegamente, mas porque entendo e reconheço a luz que a todo o momento ilumina o melhor e o pior de mim…
Efectivamente, nada pode ser mais libertador, belo e porque natural e espontâneo, leve.
Que possamos descobrir dentro da nossa complexidade humana a felicidade e a beleza do mais simples em nós.
 Esta reflexão surge de um olhar sobre mim mesma e no tudo que observo ao meu redor. Penso que há muito para se escrever sobre essa necessidade de exercer poder… e talvez essa palavra seja um mero julgamento do que sentimos e necessitamos… e talvez essa corrida por poder seja meramente uma projecção dessa realidade, que sendo ignorada nos conduz a grandes atrocidades, injustiças, desigualdades… talvez seja a ignorância a maior causa de destruição, de guerras, fome, etc. E talvez a mudança de facto ocorra quando cada um de nós reconhecer essa verdade em si, essa verdade no mundo, essa verdade em toda a existência humana. Algo que nem grupos, nem religiões, nem mestres farão por nós. Algo que não acontece apenas praticando bondade, solidariedade. Algo que não acontece porque leio ou partilho palavras, mas porque as reconheço em mim.

Sónia
Om


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Reflexão # 26 - Dançando...

imagem retirada da internet

Todos dançamos ao som e ritmo de uma mesma e grandiosa orquestra sinfónica…
Juntos, tropeçamos, caímos, levantamos…
Trocamos…
Encontramo-nos, desencontramo-nos, observamo-nos…
Imitamo-nos…
Aprendemos, reconhecemos, desejamos…
Ansiamos e nos aperfeiçoamos…
Na dança….
Pela dança….
Com a dança…
Entre a dança…
Dançando…
Unidos, entrelaçados…
Ainda que iludidos…
No vislumbre dos seus passos, da sua leveza, da sua graciosidade…
Do seu ritmo, do seu som, da sua dança…

Sónia.
Om

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Reflexão # 25 - Buscar Sem Fim O Que Não Tem Fim...

Imagem retirada da internet

O poder da nossa cognição permite grandes obras, descobertas, soluções, resoluções…
A vida de todas as formas é tão complexa, surpreendente, imensa, que respostas são infinitas…
É natureza da mente criar, analisar, descobrir...
Assim como ambicionar, ansiar, desejar até o ilimitado, o eterno…
Entre estudos, conhecimentos, experiências, pesquisas lá vamos saciando nossas dúvidas e tormentos…
Uma lufada de ar fresco…
Uma sensação de controlo, poder, segurança…
Parece que o conhecimento traz o que preciso…
Mas… o que eu preciso? Que coisa é esta que a todo o momento me desinquieta? Que coisa é esta que não se conforma com medo, sofrimento, morte?
Será que inventar uma pílula para a morte me liberta da morte?
Não estarei eu antes de morrer, morto na vida?
Porque temo o fim? Porque desejo o início?
Haverá conhecimento que esgote a imensidão de questões e possibilidades?
Para onde me conduz?
Para o sem fim…
Porque o fim é sem fim…
Assim como o caminho é sem caminho…
O limitado, ilimitado…
Então… talvez reconhecendo o limitado eu me possa ver ilimitado…

Om
Sónia.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Reflexão #24 - Enquanto esse olhar não desperta se dispersa...

                                                                    Imagem retirada da internet


Aflitos, escravos de uma culpa silenciosa, de um amor frustrado, castrado, incompreendido, disfarçada, disfarçado em lutas incessantes, desejamos que o mundo mude, que pessoas mudem, que deuses nos ouçam e amparem… 
Assistindo ao fracasso constante, ao quão volátil tais desejos e como acabo por me debater, uma e outra vez, com velhos padrões aparentemente de “cara” nova, julgo a vida, condeno-a ao “calvário” e faço das minhas acções o inimigo que a conduz ao sacrifício. 
Cegos e sedentos, agarramos, sugamos, detemos, retemos, possuímos, infinitamente… 
Resistimos à doçura, à gentileza, à simplicidade, à pureza, à nossa capacidade de entregar, aceitar, agradecer...
À nossa capacidade de acolher as diferenças dos outros...
De questionar sentimentos, pensamentos...
De criticar, analisar inteligentemente actos, desejos, conflitos, perturbações…
Tememos...
Tememos porque nos tememos…
Tememos porque nos desresponsabilizamos…
Tememos porque ignoramos que a mudança no mundo começa num olhar profundo sobre nós…
E enquanto esse olhar não desperta se dispersa…   

Om
Sónia.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Reflexão #23 - A Cultura Geral...

                                                       imagem retirada da internet

Sempre me questionei bastante com o critério de avaliação “cultura geral”. Lembro de padecer horrores com a ausência de predisposição interna para memorizar tantos nomes supostamente importantes, que para piorar em nada despertavam o meu interesse, curiosidade de saber e reter. Lembro de me condenar por tal. Pois o meu desinteresse era bem maior que a minha ambição de ser um “ás” a cultura geral. E isso, isso era tomado em linha de conta na hora de “rotular” alguém de muito ou pouco inteligente, de muito ou pouco interessante e por aí fora. Óbvio que ninguém gosta de ser “rotulado” de burrinho, ou ignorantezinho, coitadinho… pois isso não te espelha de verdade. Profundamente, tu sabes que não és isso e que tal julgamento fica muito aquém daquilo que tu sentes ser. E é muito triste permitir que alguém possa fazer tal coisa contigo. Em todo o caso somos permissivos e até sorrimos. Como nos maltratamos!
Hoje, e revendo tudo aquilo que um dia me fez crer ser mais ou menos, muito ou pouco e ainda ouvindo “ Mas como é que tu não sabes? Onde anda essa cultura geral?”, predisponho-me a analisar o facto e sinceramente não encontro qualquer sentido lógico para que isso seja tão importante, necessário e critério para o quer que seja. Cada ser tem um determinado tipo de mente, determinado tipo de valores, interesses, curiosidades, gostos e aversões, que logicamente irão contribuir na hora de ouvir, memorizar e reter. Porque razão tenho de saber o nome do Presidente da França? Para além de não me interessar por política, o Presidente é uma pessoa que desempenha um determinado papel, que tem família, necessidades, os seus gostos, as suas aversões, a sua história e que por não ser diferente daquilo que eu sou, me basta! Como alguém pode ser avaliado segundo este critério que depois de bem amassado, mastigado em nada contribuiu para a minha felicidade?! Como alguém pode incutir tais valores numa escola? O que andamos a priorizar afinal?! Quem conhece a Diana que está a fazer um trabalho memorável no Quénia? Será que alguma vez isto seria pergunta para um teste de cultura geral? Ou quem é Swami Dayananda? Ou quem é aquele palhaço de nariz vermelho que todos os dias leva sorrisos e gargalhadas a tantas crianças oncológicas?!
Enfim… é pobre a forma como usam esse critério para avaliação, posição e distinção…
Portanto, vale a pena pensar nisto toda a vez que alguém decidir te rotular de acordo com o muito ou pouco culto. De verdade isso é muito superficial para expressar o que efectivamente és e podes, ignorando o nome do Presidente de França, todas as capitais do mundo, rios, etc. 
Om
Sónia.