terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Reflexão # 28 - A prática física e o yoga...


Quando enveredei pelos caminhos do yoga o primeiro método que me foi apresentado, e o qual experiencio até aos dias de hoje, foi o ashtanga vinyasa yoga, que é baseado nas técnicas de hatha yoga e o qual foi estruturado por Sri K Pattabi Jois.
Lembro de paralelamente à prática, receber um ensinamento sobre o propósito do yoga, através do estudo dos Sutras de Patanjali e a Bhagavad Gita. Efectivamente, isso fez toda a diferença pois pude desenvolver uma determinada atitude que me permitiu criar um espaço de observação, reflexão, entendimento de que não estava ali a realizar uma mera prática física, tortuosa e desagradável para um corpo rígido, preso e fechado. Confesso, que se assim fosse talvez hoje não estivesse a praticar nem tampouco disponível, curiosa, interessada e determinada em trilhar este caminho, em descobrir quem sou, em aprender a expressar-me livremente e viver aqui, agora, leve, feliz com a minha história, família, adversidades, dificuldades…
Aparentemente pode parecer uma missão impossível… porque se parar para pensar existem mil coisas que me limitam, mil coisas que me condicionam e se eu esperar que seja o meu corpo e mente a suprir todas elas, isso será sem fim… ambos estão em constante movimento… o corpo todos os dias muda e está sujeito a tantos fenómenos mentais, emocionais, fisiológicos, ambientais que não controlamos… então, colocar como objectivo da minha prática o alcance de um corpo hábil a realizar as mais complexas e elaboradas posturas físicas, afim de me ver liberto, não faz sentido, é efémero e a qualquer momento essa habilidade pode se perder, por conta das mais variadíssimas razões.
Por outro lado e ainda que contribuindo para o contacto com realidades mais subtis, como emoções, padrões de pensamento, energia, etc, isso também está em constante movimento… a cada nova prática eu vou descobrir uma nova sensação … ora agradável, ora desagradável… vou viver uma nova emoção que se manifesta sem pedir licença e muitas das vezes sem sequer poder “floreá-la” com um claro e lógico pensamento… a cada nova prática vou observar uma mente que compara, uma mente que a todo o momento elabora grandes obras cinematográficas convicta em suprir carências, necessidades, uma mente que cria expectativas e que a todo o momento está ali preparada para me roubar o prazer e alegria do momento presente, mesmo que não esteja a brilhar com toda a intensidade que desejaria…
Colocar a prática como a solução do meu problema essencial e fundamental não faz sentido…  
Então, que a prática seja um ritual do meu dia onde me entrego a tudo aquilo que me compõe, onde agradeço a oportunidade de ver mais um nascer do sol e com ele a oportunidade de me conhecer mais um tanto… que a força, energia, saúde e vitalidade que a prática me oferece contribua para poder apreciar o ser amoroso, sensível e delicado que sou…

E assim eu vou… passo a passo… abrindo o meu coração, dando, recebendo e vivendo o que tiver para viver…
Om
Sónia.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Reflexão # 27 - O Poder...

imagem retirada da internet

A ideia de que exerço poder sobre alguém ou que alguém exerce poder sobre mim é apenas uma sofisticada mentira produzida na e pela mente, a qual alimento incessantemente com novas conquistas, novas estratégias, novos objectivos, expectando posição, reconhecimento, mais-valias e por aí fora. Esta realidade é um mero espelho daquilo que nos habituaram a ouvir, aprender, valorizar, obra de uma estrutura de sociedade que nos fez crer que isso é sinónimo de segurança, abundância, sucesso e prosperidade. Não criando um espaço em nós para reflectir e olhar com profundidade quem somos, caminhamos escravos de uma ignorância que nos impede de ver com clareza o que efectivamente nos move e dinamiza. Facto que nos conduz à exaustão, depressão, desânimo e à perda de um sentido para a vida. Por vezes só quando confrontados com situações criticas e as quais comprometam a vida, nos questionamos de tal… e lamentamos, lamentamos imenso. 
Para além disso e ainda que havendo conquistas, prosperidade, abundância, desperdiçamos a oportunidade de reconhecer o melhor que há por detrás de cada um desses conceitos, o imenso que habita cada um de nós, que se abre e contribui para que cada dia, gesto, acção seja dotado de consciência, presença e valor humano. Então, nada será vivido com superficialidade… desde o colo que é dado a um filho, quanto um presente que é dado a um amigo, ou uma canção tocada na viola, ou um jantar de amigos e até mesmo as palavras proferidas num momento de raiva, dor, mágoa. Tudo o que vem, tudo o que vai, virá por bem … não porque creio cegamente, mas porque entendo e reconheço a luz que a todo o momento ilumina o melhor e o pior de mim…
Efectivamente, nada pode ser mais libertador, belo e porque natural e espontâneo, leve.
Que possamos descobrir dentro da nossa complexidade humana a felicidade e a beleza do mais simples em nós.
 Esta reflexão surge de um olhar sobre mim mesma e no tudo que observo ao meu redor. Penso que há muito para se escrever sobre essa necessidade de exercer poder… e talvez essa palavra seja um mero julgamento do que sentimos e necessitamos… e talvez essa corrida por poder seja meramente uma projecção dessa realidade, que sendo ignorada nos conduz a grandes atrocidades, injustiças, desigualdades… talvez seja a ignorância a maior causa de destruição, de guerras, fome, etc. E talvez a mudança de facto ocorra quando cada um de nós reconhecer essa verdade em si, essa verdade no mundo, essa verdade em toda a existência humana. Algo que nem grupos, nem religiões, nem mestres farão por nós. Algo que não acontece apenas praticando bondade, solidariedade. Algo que não acontece porque leio ou partilho palavras, mas porque as reconheço em mim.

Sónia
Om


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Reflexão # 26 - Dançando...

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Todos dançamos ao som e ritmo de uma mesma e grandiosa orquestra sinfónica…
Juntos, tropeçamos, caímos, levantamos…
Trocamos…
Encontramo-nos, desencontramo-nos, observamo-nos…
Imitamo-nos…
Aprendemos, reconhecemos, desejamos…
Ansiamos e nos aperfeiçoamos…
Na dança….
Pela dança….
Com a dança…
Entre a dança…
Dançando…
Unidos, entrelaçados…
Ainda que iludidos…
No vislumbre dos seus passos, da sua leveza, da sua graciosidade…
Do seu ritmo, do seu som, da sua dança…

Sónia.
Om

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Reflexão # 25 - Buscar Sem Fim O Que Não Tem Fim...

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O poder da nossa cognição permite grandes obras, descobertas, soluções, resoluções…
A vida de todas as formas é tão complexa, surpreendente, imensa, que respostas são infinitas…
É natureza da mente criar, analisar, descobrir...
Assim como ambicionar, ansiar, desejar até o ilimitado, o eterno…
Entre estudos, conhecimentos, experiências, pesquisas lá vamos saciando nossas dúvidas e tormentos…
Uma lufada de ar fresco…
Uma sensação de controlo, poder, segurança…
Parece que o conhecimento traz o que preciso…
Mas… o que eu preciso? Que coisa é esta que a todo o momento me desinquieta? Que coisa é esta que não se conforma com medo, sofrimento, morte?
Será que inventar uma pílula para a morte me liberta da morte?
Não estarei eu antes de morrer, morto na vida?
Porque temo o fim? Porque desejo o início?
Haverá conhecimento que esgote a imensidão de questões e possibilidades?
Para onde me conduz?
Para o sem fim…
Porque o fim é sem fim…
Assim como o caminho é sem caminho…
O limitado, ilimitado…
Então… talvez reconhecendo o limitado eu me possa ver ilimitado…

Om
Sónia.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Reflexão #24 - Enquanto esse olhar não desperta se dispersa...

                                                                    Imagem retirada da internet


Aflitos, escravos de uma culpa silenciosa, de um amor frustrado, castrado, incompreendido, disfarçada, disfarçado em lutas incessantes, desejamos que o mundo mude, que pessoas mudem, que deuses nos ouçam e amparem… 
Assistindo ao fracasso constante, ao quão volátil tais desejos e como acabo por me debater, uma e outra vez, com velhos padrões aparentemente de “cara” nova, julgo a vida, condeno-a ao “calvário” e faço das minhas acções o inimigo que a conduz ao sacrifício. 
Cegos e sedentos, agarramos, sugamos, detemos, retemos, possuímos, infinitamente… 
Resistimos à doçura, à gentileza, à simplicidade, à pureza, à nossa capacidade de entregar, aceitar, agradecer...
À nossa capacidade de acolher as diferenças dos outros...
De questionar sentimentos, pensamentos...
De criticar, analisar inteligentemente actos, desejos, conflitos, perturbações…
Tememos...
Tememos porque nos tememos…
Tememos porque nos desresponsabilizamos…
Tememos porque ignoramos que a mudança no mundo começa num olhar profundo sobre nós…
E enquanto esse olhar não desperta se dispersa…   

Om
Sónia.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Reflexão #23 - A Cultura Geral...

                                                       imagem retirada da internet

Sempre me questionei bastante com o critério de avaliação “cultura geral”. Lembro de padecer horrores com a ausência de predisposição interna para memorizar tantos nomes supostamente importantes, que para piorar em nada despertavam o meu interesse, curiosidade de saber e reter. Lembro de me condenar por tal. Pois o meu desinteresse era bem maior que a minha ambição de ser um “ás” a cultura geral. E isso, isso era tomado em linha de conta na hora de “rotular” alguém de muito ou pouco inteligente, de muito ou pouco interessante e por aí fora. Óbvio que ninguém gosta de ser “rotulado” de burrinho, ou ignorantezinho, coitadinho… pois isso não te espelha de verdade. Profundamente, tu sabes que não és isso e que tal julgamento fica muito aquém daquilo que tu sentes ser. E é muito triste permitir que alguém possa fazer tal coisa contigo. Em todo o caso somos permissivos e até sorrimos. Como nos maltratamos!
Hoje, e revendo tudo aquilo que um dia me fez crer ser mais ou menos, muito ou pouco e ainda ouvindo “ Mas como é que tu não sabes? Onde anda essa cultura geral?”, predisponho-me a analisar o facto e sinceramente não encontro qualquer sentido lógico para que isso seja tão importante, necessário e critério para o quer que seja. Cada ser tem um determinado tipo de mente, determinado tipo de valores, interesses, curiosidades, gostos e aversões, que logicamente irão contribuir na hora de ouvir, memorizar e reter. Porque razão tenho de saber o nome do Presidente da França? Para além de não me interessar por política, o Presidente é uma pessoa que desempenha um determinado papel, que tem família, necessidades, os seus gostos, as suas aversões, a sua história e que por não ser diferente daquilo que eu sou, me basta! Como alguém pode ser avaliado segundo este critério que depois de bem amassado, mastigado em nada contribuiu para a minha felicidade?! Como alguém pode incutir tais valores numa escola? O que andamos a priorizar afinal?! Quem conhece a Diana que está a fazer um trabalho memorável no Quénia? Será que alguma vez isto seria pergunta para um teste de cultura geral? Ou quem é Swami Dayananda? Ou quem é aquele palhaço de nariz vermelho que todos os dias leva sorrisos e gargalhadas a tantas crianças oncológicas?!
Enfim… é pobre a forma como usam esse critério para avaliação, posição e distinção…
Portanto, vale a pena pensar nisto toda a vez que alguém decidir te rotular de acordo com o muito ou pouco culto. De verdade isso é muito superficial para expressar o que efectivamente és e podes, ignorando o nome do Presidente de França, todas as capitais do mundo, rios, etc. 
Om
Sónia.    

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Reflexão #22 - Viver Numa Bolha...

                                                                     imagem retirada da internet 


Um dia percebemos o quanto vivemos enclausurados numa bolha de pensamentos, sentimentos que nos roubam paz, sanidade, energia, criatividade, capacidade de produzir, de se relacionar ou simplesmente relaxar. Rotula-mo-nos de ansiosos, depressivos, inadequados, miseráveis criaturas condenados a uma triste sina. Assistimos com grande agonia à nossa busca incessante por algo que possa curar uma espécie de ferida, buraco existencial. Talvez pessoas mais sensíveis, observando claramente essa realidade nas suas vidas, achem que têm efectivamente um problema pessoal, incomum e do qual não se conseguem libertar. Desesperados e procurando resposta para as nossas aflições, desejos de ser de outro jeito, lá vamos experimentando novas formas, nomes e conceitos, ora recorrendo a sessões de coaching, ora recorrendo a sessões de mindfulness, ora lendo as 101 maneiras de ser feliz e por aí adiante. Efectivamente, servimos a nossa mente de óptimos “upgrades” que a habilitam a se posicionar doutra forma nas experiências da vida. Com treino e dedicação lá aprenderei a ter outro discurso comigo mesma, com os outros e lá criarei uma outra imagem de mim, mais positiva, eficiente, prática, etc. Em todo o caso isso parece não ser suficiente para resolver o meu problema… em todas as lições ensinaram-me como falar, dizer, pensar, agir. Ensinaram-me como a vida é bela, como pode ser bela. Ensinaram-me o que não devo fazer, o como posso fazer e até aí tudo certo. Vale a lição. Mas… como eu me livro deste nó no peito quando eu falo determinada coisa bonita, aparentemente bem inteligente e sábia, e um coração por dentro cavalga?! Como fazer caber todas essas coisas ouvidas e aprendidas no peito?! Como eu sossego o meu coração se aprendi que um bom orador discursa de forma segura e como oradora o coração quer sair pela boca?! Como encontrar a paz se me ensinaram que um pai consciente não usa determinado discurso com o seu filho e por dentro sinto enorme fúria?! Como esta controvérsia me pode ajudar? Qual é a saída? Como encontrar paz?! Serei eu digna de amor? Ou esse amor é apenas uma maneira romântica de ver a vida? Será mais uma fantasia? 
Incrédulos  e resignados a uma visão, boicotamos a possibilidade de nos ver um tanto além e de poder analisar, abraçar e acolher o problema em mim. Boicotamos a possibilidade de descobrir um amor e felicidade que não é uma fantasia, mas a razão pela qual uma criança sujeita às condições mais miseráveis e precárias ainda tem espaço para sorrir. 
Vale a pena dar-se a oportunidade e espaço para pensar, reflectir. Vale a pena observar-se verdadeira e honestamente, o que nem sempre vai ao encontro do que é ensinado. Vale a pena mergulhar nas profundezas, tocar a ferida e ser responsável pela sua cura. Vale a pena questionar cada pensamento, emoção, sentimento ao invés de questionar pensamentos, emoções e sentimentos de outros. Nunca saberemos de verdade. E ainda que eles possam ser comunicados nunca o serão perfeitamente. Vale a pena ser responsável pelos seus próprios pensamentos ao invés de responsabilizar outros. Vale a pena estar com os seus pensamentos ao invés de tentar adivinhar os de outros. Afinal o que pensamos de outros é apenas o que vive no nosso pensamento.
Vale a pena a chance de se ver livre.
Vale a pena a chance de estar livre.
E olhando a imagem escolhida para acompanhar estas palavras, vale a pena descobrir a beleza de viver com a bolha, na bolha, feliz com todas as bolhas que possam existir ao seu lado!

Om
Sónia.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Reflexão #21 - O nascer de um filho e o amor...



Gerar um filho, fazê-lo nascer, crescer na e para a vida, é uma bênção…
Uma oportunidade de me ver e rever profundamente…
Um amor maior brilha calorosamente no peito…
A sensação de que nada é tão significante…
Um desejo de renascer …
O renascer …
Sou capaz de me ver outra…
Não porque os meus seios e ventre não sejam mais os mesmos…
Ou porque revi prioridades…
Ou porque as minhas rotinas são diferentes…
Ou porque mais responsável…
Mas porque sou capaz de sentir e perceber o amor sem tamanho que vibra dentro de mim…
Um amor que aquele pequeno ser veio espelhar…
Um amor que por tão belo e grandioso deve ser entendido…
Um amor que o faz agarrar no seio da mamã com doçura, carinho e saciar a fome,
Que o faz sorrir de satisfação,
Que o faz chorar quando carente de atenção,
Que o faz querer ser amado, querido, abraçado,
Que o faz amar, querer, abraçar…
Um amor que faz pai e mãe mover montanhas a fim de proteger e cuidar…
Um amor que não possuiu, retém, condiciona…
Um amor que nada pede em troca...
Um amor que apenas é a todo o momento,
Manifestado na típica cena de apreciar o filho enquanto dorme,
Na vontade de cheirar, beijar e ficar ao lado em silêncio…
Um amor que não se escreve ou fala…
Um amor sem e além palavras…
Um amor que eu sou, tu és…
Um amor que dá voz à ignorância…
Ao desespero, à dor, ao sofrimento…
Um amor sem tamanho…
Sem espaço ou lugar…
Um amor que se reconhece e que floresce…
Em cada pensamento, sentimento, gesto e acção…

Om
Sónia


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Yoga? Yamas de Patanjali? Porquê?

                                                                  imagem retirada da internet 

Quando lemos os sutras de Patanjali observamos que Yoga foi sistematizado em oito partes, chamado de ashtanga Yoga. A sua obra é uma espécie de manual prático que nos auxilia e nos conduz na direcção de um estilo de vida favorável ao entendimento da nossa natureza essencial que é ananda, ou seja, felicidade e plenitude. Então, quando nos dirigimos a uma determinada sala de prática de yoga e olhamos à nossa volta tapetes estendidos e pessoas a fazer as mais elaboradas posturas físicas, contracções abdominais, respirações, a vocalizar sons e palavras “estranhas”, sentados, imóveis por largo período de tempo, etc, julgamos e resumimos yoga àquelas actividades. Com facilidade dizemos, eu pratico yoga.
Em todo o caso a prática de yoga, uma vida de yoga é bem mais profunda do que aquilo que nos traz um certo nível de satisfação, bem-estar, equilíbrio, saúde e felicidade. É necessário entender-se fundamentalmente, além actividades, além si mesmo e para isso a mente precisa de estar qualificada, preparada. Então, os oito passos que Patanjali propõe cumprem esse propósito, aquietar a mente para o autoconhecimento.
Interessantemente, o primeiro passo, a primeira prática que Patanjali apresenta é Yama.
Yama é uma palavra em sânscrito que significa abstinência, como podemos ler nos Sutras de Patanjali. Mas abster-se do quê? Qual o intuito?
Efectivamente sem atender a este primeiro passo, Yoga não brilha em nós, na nossa vida e tampouco nos leva ao vislumbre, entendimento claro e objectivo do ser livre, simples, espontâneo e feliz que somos. Naturalmente amoroso e compassivo. No máximo caminharemos num corpo esbelto, saudável, forte e cheio de energia, com uma mente focada, objectiva, cheios de planos, acumulando grandes feitos e realizações, com um estilo de vida “zen”, mas com um coração insaciável que não reconhece a sua natureza e à qual não pode fugir.
Patanjali diz-nos que violência, roubo, ganância, possessividade com pessoas, objectos, ausência de verdade, de harmonia entre pensamento, palavra e acção, distancia-nos da nossa natureza livre e amorosa. E que portanto nos condicionam e nos causam dor e sofrimento.
Apesar de Patanjali escrever e lembrar quais os princípios, de forma inata nós os sabemos. De facto trata-se de valores humanos que não se aprendem, que vibram naturalmente em cada um de nós. Para saber isso basta parar um pouco e questionar sentimentos e emoções quando alguém me agride com actos e palavras, quando alguém mente ou me rouba, como me sinto sufocada em querer realizar tudo o que desejo, tudo o que anseio, como é triste a minha suposta felicidade depender do amor de outro, de coisas, de situações. Esta realidade está aí para nós a podermos analisar, abraçar e acolher. Talvez ainda camuflada em grandes ilusões, expectativas, mentiras, medos, etc,  mas  a vibrar em cada lágrima de raiva, ódio, mágoa e desespero, em cada corrida contra o tempo e aparente sucesso.
Yamas são alicerces na construção de uma vida de yoga que se traduzem numa atitude favorável para que a minha mente seja capaz de entender quem sou eu.
De nada adianta a habilidade de executar magníficas e exuberantes posturas de yoga, de nada adianta escrever amor, falar amor, de nada adianta uma mente clara, objectiva, determinada, focada, de nada adianta o conhecimento de tradições, de nomes, conceitos, se não reconheço a humanidade e sensibilidade em mim. Então, a proposta de Patanjali inicia-se assim… cultivar princípios e valores que vão ao encontro da minha natureza essencial e que permite à mente atingir uma paz relativa, que contribuiu para ser capaz de vislumbrar o que sou, aqui, agora, sempre presente, imutável e eterno.   
Como disse o Swami Sai Baba, primeiro ser de coração, segundo ser de cabeça e terceiro ser de mãos.

Om

Sónia.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Pensamentos Soltos #41

  imagem retirada da internet

Entender que na verdade nenhuma experiência acrescenta ou diminui o que sou, 
é dar oportunidade ao experienciador de se posionar inteiro, pleno, aberto e disponível perante a experiência...
De facto nada pode ser tão rico e construtivo para a mente...tão libertador para um coração...

(Sónia Andrade)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Reflexão #20 - Crescer Pelo Amor

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A dificuldade que tenho em saber relacionar-me com o outro é proporcional à dificuldade que tenho de relacionar-me comigo mesmo…
E essa inabilidade é fruto de um padrão de pensar, agir, comunicar.
Todos nós somos seres com necessidades básicas, fisiológicas, de segurança, de amor, criação, diversão, verdade, compreensão, empatia, etc. Nada de errado há com essas necessidades, elas fazem parte da inteligência da criação. Ignorar o que necessito será sempre como caminhar, se mover no escuro e às cegas se agarrar a outro alguém, derrubando, pisando, culpabilizando e dependendo. Observando uma criança podemos perceber como essas necessidades se manifestam. Quando lhe é dito que “não” e automaticamente ela esperneia, grita e tira um objecto para o chão, quando se sente triste porque a amiguinha não lhe deu a mão, quando fica assustada e nervosa porque a professora falou alto ou porque teima em não vestir determinada roupa que a mamã escolheu. Emaranhados em padrões de pensamento, em conceitos, teorias e projectando a nossa experiência, os nossos traumas e as nossas necessidades, exercemos sobre elas um modo de agir que não vai ao encontro do que é efectivamente importante. A criança compreender que aqueles fenómenos são fruto das suas necessidades e portanto o desejo de determinada acção. Tipicamente, retribuímos com autoridade, exigindo obediência, convictos que essa é a forma certa de educar, de contribuir para o crescimento da criança e como tenho ouvido imensas vezes, ensinar a lidar com as suas emoções e frustrações. Na verdade apenas estamos a contribuir para o distanciamento de si mesmo e com isso contribuindo para sentimentos de insegurança, inadequação, revolta, mágoa, desespero. Talvez por isso, e à medida que vão crescendo, queiram ser tudo menos elas mesmas, queiram conquistar o mundo, as pessoas a  todo o custo, desenvolvam doenças psicossomáticas, distúrbios alimentares, paranóias, ansiedades e por aí fora. Talvez por isso testemunhamos tantas aberrações como bullying, abuso sexual, suicídios. Dizer à força e reproduzindo violência o que é certo e errado, não será certamente solução. No máximo poderemos ver crianças muito bem-educadas e aparentemente bem-sucedidas, amarguradas e em constante conflito interior por ausência de maturidade emocional. Maturidade essa que provem desse contacto com os seus sentimentos e necessidades, que lhes fará entender com clareza, pensamentos, desejos, contribuindo para acções conscientes, livres, inteligentes, espontâneas e em harmonia com a sua natureza.
Para desempenhar este papel com uma criança ou com quem seja, teremos necessariamente de o fazer connosco mesmos. Questionar a tendência de transferir a responsabilidade dos nossos sentimentos para os outros, para coisas, situações e circunstâncias e dar-se a oportunidade de observar por outro paradigma, que somos seres com necessidades fundamentais e essenciais que nos dão vida, movimento, relacionamentos, capacidade de raciocinar, criar, sentir, emocionar e que profundamente nos impulsiona a querer ser pessoas melhores, a querer ser amada, querida, atendida, ouvida e compreendida. Quando ousamos olhar por este prisma veremos que todos nós somos feitos do mesmo, não tem porquê “lutar” para ser o primeiro, o maior, o poderoso. Não tem porquê se achar diferente, especial. E de verdade chegaremos à conclusão que isso é um esforço desnecessário que nos rouba eficácia e eficiência.     

Om
Sónia.  

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Reflexão #19 - Paz

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Quando me permito parar para olhar os meus pensamentos e abraçar todas as emoções que dai advenham, firme e destemido do tudo que possa descobrir e perceber, livre do que me convenço ser certo e errado, livre de culpabilizações, livre de justificativas que me poupam de responsabilidade, focado no que sinto e na vontade genuína de soltar todas as amarras que não permitem o meu coração “respirar”, se fazer ouvir, se doar, caminharei para o vislumbre de uma realidade tão cheia de energia, vida, presença, consciência, que todo e qualquer movimento de pensar, sentir, será abraçado, ouvido e escutado à luz de um amor sem condições… de uma inteligência sem definição.
A dor e a tristeza de me reconhecer tão carente de amor e atenção, de reconhecer que essa “ferida” jamais poderá ser curada por alguém ou coisa alguma, que isso é obra de si mesmo, que enquanto pessoas apenas somos companheiros de partilha de “feridas”, de reconhecer que vivemos fantasiosamente no pensamento e pelo pensamento, julgando, avaliando, medindo nossas verdades absolutas, que de tão distantes da realidade que somos nos condiciona, prende, insatisfaz, limita, de reconhecer como vivemos aquém do nosso potencial por medo, preconceitos, apego ao institucionalizado, iludidos em conceitos, emaranhados num acumulo de conhecimento como garantia de reconhecimento, valorização, poder, de reconhecer como isso cansa, esgota, de reconhecer como isso não me sacia, de reconhecer que preso ao tempo vou sentindo o meu tempo chegar ao fim… e sem poder gritar bem alto “sou livre”… livre do tempo, livre da idade, livre da velhice, livre da doença, livre da dor, livre do sofrimento, livre da morte.
É essa dor e tristeza de me reconhecer profundamente que me dará espaço para um olhar mais amplo, luminoso, belo, real, claro, objectivo. E por entre lágrimas de desencanto e desilusão, haverá um prazer de constante e permanente reconforto, fruto de uma paz inabalável...
Om
Sónia.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Os símbolos e as crianças...


O contacto com a tradição védica e o estudo de vedanta ampliam a nossa visão, trazendo à mente o entendimento claro e objectivo de determinadas acções, como rituais, práticas e uso de deidades como Ganesha, o menino com cara de elefante. Óbvio que não se pretende acreditar que existiu um menino cuja cabeça foi cortada pelo seu próprio pai e que desesperadamente correu em busca de uma cabeça para o seu filho, e que a sua barriga enorme era porque comia imensos doces, e por aí fora. Esse é o obstáculo que pretendemos exactamente transcender apoiando-nos no estudo e na preparação de uma mente que seja capaz de vislumbrar a sua limitação e de vislumbrar além de si mesma.
Rituais, imagens, práticas funcionam como símbolos que ajudam a mente nesse processo, dotando-a de conhecimento sobre si mesma, dotando-a de valores que a permitem encontrar um estado favorável ao entendimento dum conhecimento que não pode ser equiparado ao conhecimento que se acostumou a adquirir e assimilar.   
É comum depararmo-nos com uma espécie de resistência interior, fruto de ignorância, ausência de compreensão clara, objectiva e lógica. É precisamente porque existe essa resistência, esse desconforto que nos devemos questionar, olhar com sinceridade, livre de dogmas, ideologias, doutrinas sociais, politicas, religiosas.
Talvez possamos ser abençoados com a possibilidade de nos ver iguais, livres da identificação com grupos sociais, políticos, económicos. Livres de hierarquias, status, elites e tudo aquilo que erroneamente me traz a noção de ser maior, melhor, especial, merecedor ou não merecedor, etc.
Mas, porque decidi fazer a actividade de criar um “altar” de Ganesha versão lúdico-infantil?  
Precisamente porque estou convicta da importância de uma criança, que se encontra no seu estado mais puro, crescer valorizando o momento onde possa sentar e “conversar” consigo. Um momento de fechar os olhos, respirar profundamente e escutar o seu coração. Um momento de entrega e de oferenda. E perceber o quanto isso pode ser prazeroso e libertador.
Contar a ela o significado das orelhas grandes de Ganesha, o significado de ser barrigudo e de ter o amigo rato sempre ao seu lado, o significado da sua tromba e dos seus olhos.
Contar a ela que Ganesha é um mestre e que tem muito para nos revelar e ensinar. Que podemos nos divertir imenso aprendendo, descobrindo e reconhecendo.
Om
Sónia.


domingo, 9 de novembro de 2014

Reflexão #18 - As Palavras

    imagem retirada da internet

As palavras são modo de expressão…
Elas podem ser doces, cruéis, românticas, poéticas, rudes, traiçoeiras, simples, complexas, sofisticadas, confusas, desagradáveis, lógicas, ilógicas…
Palavras são só palavras…
Têm peso e valor na proporção do que pensamos e do como sentimos…
Têm propósito, intenção…
Tal como o olhar, o sorriso, o gesto e até mesmo o silêncio…
Unem, afastam, dividem, emocionam, condenam, determinam, clarificam, apontam, definem, teorizam…
Contam histórias, descrevem fantasias, crenças, desejos, anseios, medos, amor, ódio, esperança…
E na sua relatividade,
Consolam e confortam...
Iludem e desiludem…
Constroem e destroem…
Formam e transformam…
Acariciam…
Espancam…
Atentamo-nos nelas…
Sejamos hábeis a não as desapropriar da beleza que habita em cada um de nós…
Seja na dor, na alegria, na mágoa, revolta, desespero…
Seja na raiva, no ódio, na profunda tristeza…
No ganho ou na perda…
Cantemos palavras…
Dancemos palavras…
E no ritmo comuniquemos nossa forma...
Nossa essência e existência…

Sónia.
Om

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O Yoga e as Crianças...


Um dos trabalhos que desempenho é levar até às escolas o yoga. Na verdade uma grande bênção para quem trilha este caminho do entendimento de si mesmo. Posso sentir o prazer, a alegria de estar a contribuir para a vida de alguém e simultaneamente para a minha. Expor-me diante de um grupo de crianças e tentar transmitir-lhes algo que possa ser útil para um crescimento em harmonia e equilíbrio, reconhecendo o amor, a beleza de ser e existir, é a maior de todas as motivações. Em todo o caso ela pode ser atraiçoada pelas expectativas criadas relativamente à performance de uma aula, à performance das próprias crianças, ao resultado, etc. Se por um lado eu pretendo transmitir um conjunto de técnicas físicas, de respiração, relaxamento, meditação, por outro, pretendo fazê-lo com o interesse espontâneo e livre da criança. E esta tarefa, que aparentemente parece poder ser tirada de letra com a maior das facilidades, não a é. Constato que se torna fundamental um amadurecimento emocional, um entendimento dos nossos sentimentos, dos nossos padrões de pensar e agir, para que possamos desempenhar um determinado papel com a firmeza de propósito, com a ousadia de criar e recriar, com a humildade de questionar e se questionar e com a coragem de reconhecer a criança que também há em nós. Cada vez que me desloco a uma escola para dar uma aula de yoga, penso que estratégias usar para captar atenção daqueles pequenos seres, naturalmente curiosos, energéticos, criativos e lhes ensinar uma determinada ferramenta que contribua para se conectar a si mesmo e o quanto isso é valioso no seu crescimento. Lá chegando deparo-me com crianças com tanta necessidade de extravasar, de se movimentar, expressar, que sentar para me ouvir, aprender, sentar para respirar ou deitar para relaxar, é um enorme desafio. Aí, entra a firmeza de propósito quando me proponho a desempenhar este papel… e ousar que se crie um aparente caos numa sala, um aparente reboliço e pelo meio uma acção que desperte a curiosidade de uma criança… encher um balão, cantar uma música na viola, imitar um macaco, fazer simplesmente silêncio e porque não contar-lhes da minha frustração por não estar a conseguir que me ouçam e pedir-lhes que colaborem, que contribuam…
Se é maior a minha ânsia de ver objectivos atingidos à luz da perfeição com que uma criança faz uma postura física, ou o quanto ela é obediente na hora de sentar, fazer um exercício de respiração e como ela fica quietinha na hora de relaxar, usando o autoritarismo, coagindo-a, recompensando-a porque fez tudo direitinho, é garantidamente como plantar uma sementinha que cresce “torta” num lindo e pomposo vaso…

Vale a pena reflectir sobre isto. Questionar as nossas acções, motivações, convicções. E aproveitar a bênção de estar perto de crianças para também crescer e aprender com elas. 
Om
Sónia.

domingo, 2 de novembro de 2014

Reflexão #17 - Devoção rima com coração...

                                                                imagem retirada da internet

Devoção não é uma operação mental que toma pessoas, palavras, ideologias como guias…
Devoção não é uma fé cega…
Devoção encontra-se além do intelecto…
Devoção é algo que coração valida…
Devoção é algo que se entende além palavras, pessoas, símbolos, deuses, ideologias e portanto capaz de as acolher e abraçar...
Devoção não limita, não condiciona, não impõe…
Devoção reconhece-se …
Quando estendo um tapete e pratico…
Quando oro…
Quando aprecio a beleza dum pôr-do-sol…
Quando mergulho nas águas geladas do mar…
Quando cheiro uma flor…
Quando abraço…
Quando aprendo puja…
Quando realizo puja…
Quando aprendo um mantra…
Quando me reúno para um satsanga…
Quando me proponho a sentar, ouvir, aprender…
Quando me proponho despir de toda a pretensão de saber, conhecer…
Devoção habita o coração e todas as acções apenas contribuem para a poder experienciar, sentir, viver, em movimento, numa dinâmica…
Devoção encontra-se no silêncio da acção…
Devoção é uma melodia sempre presente… uma chama… luz sagrada e divina.   

Devoção rima com coração.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Reflexão #16 - Voa Borboleta...

imagem retirada da internet


Observando-me, observando situações, circunstâncias constato o quanto somos vítimas de nós mesmos, o quanto somos responsáveis não só pela escolha das nossas acções, como pelo processamento dos nossos sentimentos e emoções.
Não há nada de errado com as emoções! É uma bênção poder senti-las, experiencia-las. Elas são ferramentas para que nos possamos ver mais um tanto. Elas são a linha mestra que nos conduz ao entendimento da humanidade em nós, das necessidades que nos fazem olhar uns para os outros fundamentalmente, sem diferença. Emoções e sentimentos são o que são e estão aí para me ajudar, para me virar do avesso, para aprender amar e ser amado, para rir de alegria, chorar de tristeza, para sentir raiva com injustiças, para sentir revolta com incompreensões, para me posicionar, para decidir, para criar, para desejar, para me mover, fazer crescer, descobrir, reconhecer.  
Como vivemos em armaduras de ferro! Como nos defendemos do mundo, das pessoas, da vida! Como tememos nos ver vulneráveis, frágeis, carentes! E como desejamos descobrir-nos espontâneos, simples, amorosos, felizes e em paz!
Aparentemente um “beco sem saída” … a ânsia de controlar as pessoas, o mundo, a ânsia de ser amado, reconhecido, valorizado… a ânsia de ser especial, maior, melhor, diferente… a alegria porque tenho, a tristeza porque não tenho, a euforia porque consegui, o desespero porque não… a sede, o desejo de correr, fazer, saber, descobrir, experienciar, determinar… não tem fim… e neste movimento dinâmico, fluido, julgamos, condenamos, punimos pessoas, nós mesmos, ideias, situações, circunstâncias, apenas e só porque ignoramos que tudo é um mero espelho do que vibra em nós… um espelho que reflecte as minhas necessidades, as minhas carências, o meu amor frustrado, a cor, a luz que sou e não enxergo…
Culpa, medo, vergonha, depressão, raiva são meros "disfarces" de algo bem maior e belo sempre presente.  
Querer viver uma vida equilibrada, objectiva, focada e em paz, não passa por querer controlar emoções, ter domínio sobre as emoções ou o quer que seja… Isso será sempre uma busca sem fim, disfarçada em erróneas convicções de que afinal controlamos alguma coisa…
Talvez tenhamos de nos dar a oportunidade de viver e sentir emoções na sua plenitude… sem reprimir, sem condenar. Deixar que se manifestem, acolhendo e abraçando cada uma delas tal qual fazemos com uma criança.
 E de coração leve e solto, com mente desperta e aguçada, entender que a “saída” é reconhecer quem sou eu apesar de mim mesmo!
Como diz a Sara Tavares “ Voa borboleta, abri bôs asas e voá, mesmo se vida bai amanhã”
Om
Sónia

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Reflexão #15 - Porquê ouvir vedanta?


Ouvir vedanta tem contribuído para estruturar o pensamento relativamente ao ser emotivo, psicológico e cognitivo que somos. Esse entendimento e compreensão por si só, já produz um determinado efeito. Um olhar mais solto e leve é percebido. Como se outrora nos encontrássemos num quarto escuro apavorados com o turbilhão de emoções e pensamentos e logo que uma brecha de luz se vê, esse pavor se vai desvanecendo… não porque as emoções e pensamentos não continuem no quarto… mas porque nele há uma brecha de luz, de conhecimento, de compreensão. 
Ouvir sobre o que faz de nós um ser humano e propor-nos a um olhar profundo, despido de tudo o que criámos e construímos ao longo dos tempos é uma viagem tortuosa, tenebrosa até… mas ao mesmo tempo de uma beleza incomparável e indescritível… a dor, o sofrimento, a tristeza que há no fundo do poço tem na sua base uma força sem tamanho que nos impulsiona a subir, um brilho e calor que nos ampara e embala na experiência de todas as experiências, que é a vida. Uma força que inspira a escrever palavras, que emociona e motiva a trilhar o caminho da verdade, despindo-nos de adornos, fantasias, fardos, para que assim nos possamos ver vulneráveis, simples, espontâneos e dignos da maior de todas as riquezas que é o amor. Felicidade será efectivamente o que sou, aqui, agora, rindo, chorando, vivendo devotamente esta passagem pela terra, contribuindo com o que tiver de contribuir e experienciando o que tiver de experienciar.
Esta atitude de entrega é realmente efectiva quando há compreensão clara, objectiva. E de forma inata confiamos e caminhamos para o vislumbre dessa realidade.
Só assim será possível olhar pessoas, situações e circunstâncias como objectos de conhecimento, objectos da consciência, permeados pela consciência, que é satcitananda, que é a natureza do Eu.  
Só assim nos poderemos ver como um ser livre de limitação e fonte de felicidade.
Sónia.

Reflexão #14 - A Beleza do Desencanto

                                                     imagem retirada da internet

Quando ouço e aprecio os ensinamento de vedanta, eu pergunto porque não cresci ouvindo estas palavras… certamente elas me poupariam de tanto sofrimento, de tantas dúvidas, de tantos medos, da tamanha agonia de me ver sem me reconhecer, entender. Da crueldade de menosprezar o mais puro e simples. Das infâmias. Das tentativas frustradas de parecer alguém porque alguém te fez crer que precisas ser alguém… mas o que é alguém?
Escrevo estas palavras com muita emoção no peito! Choro de alegria! Como se a uma criança enclausurada, amedrontada, tímida, fechada, fosse dada a chave da libertação, da vida, do amor, do reencontro… uma chave que sempre esteve ali, com ela, por ela, camuflada em coloridos e sedosos véus com o dom de atrair, distrair e por ignorância da sua natureza, destruir…
Escrevo estas palavras com um tanto de revolta! E choro! Choro de tristeza. Quão miserável é caminhar desconhecendo o que se encontra por detrás de fantasias, sonhos, dramas, romances, paixões, terrores, desejos, raiva, medo… Quanta guerrilhas, batalhas em nós…
Que tristes e fugazes vitórias…
Como lamento… a exacerbada corrida de chegar algum lado…
Como lamento as descabidas tentativas de me ver, de me fazer ver, especial, diferente, importante…
Como tenho vontade de me abraçar, de ficar a sós comigo, de sentar e conversar sobre o tanto que se passou, sobre o tanto que se passa, sobre o tanto susceptível de se passar… sem exigências, sem ais ou lamúrias, sem querer nada em troca, sem expectativas…
Como tenho vontade de me sentir profundamente! De caminhar em direcção ao essencial e fundamental e aí permanecer… acomodando, amando, acolhendo devaneios e loucuras, tristezas e alegrias, amores e desamores, ora rindo, ora chorando…
Basta! O que sou já É…
Deus… conceda-me a clareza, o discernimento, a sabedoria, que permitam o disfrute dessa realidade! Que permaneça na roda, no jogo da vida, activa, presente, consciente e no repouso da paz, amor, compaixão!
Deus… conceda-me a sua mão para que aprenda este estar e caminhar… eu o desaprendi…
Deus… conceda-me coragem para expressar verdade… eu a temo…
Sónia.    

domingo, 19 de outubro de 2014

Reflexão #13 - Apreciar aqui e agora...

                                                                       imagem retirada da internet

A vida é a experiência de todas as experiências…
Se me posiciono nela procurando e expectando que corpo e mente sejam estereótipos de saúde, beleza, equilíbrio, sucesso, almejando ver-me especial e “todo-poderoso” como meio de libertação e felicidade, ignorando o quanto tudo isso é frágil, relativo, efémero, limitado… ignorando a subtileza de sofisticadas e ardilosas armadilhas sempre à espreita… caminharei inebriada, anestesiada em mais nomes, formas, teorias, conceitos, conhecimentos, perdendo a oportunidade de apreciar a perfeição das “imperfeitas” emoções, pensamentos, desejos, gestos, acções…
De apreciar o que dá forma à forma de um corpo…
De apreciar o alimento que alimenta a mente…
De apreciar o que a todo o momento vibra e nos faz vibrar…
De apreciar o que permanentemente nos move e conduz…
Então, que possa estar perante as experiências da maior de todas as experiências, que é a vida, presente, consciente, aberta, disponível e humildemente entregue à sabedoria que transcende a minha limitada noção de sabedoria e conhecimento, observando e apreciando a beleza de Ser…

Sónia. 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Reflexão #12 - Felicidade Sou

imagem retirada da internet

Ouvir sobre ananda svarupah conduziu-me à reflexão e à escrita destas palavras que inquietam e simultaneamente aquietam o meu coração. Observando-me, observando o que me rodeia, constato, efectivamente, que o que estamos acostumados a chamar de felicidade são migalhas que saciam momentaneamente mas que na verdade não suprem a fome de paz, amor, contentamento, quietude, plenitude. Isso é obra de quem ousa se recusar alimentar de doces e amargas sobras. Poderão estas palavras soar a pretensão quando escutadas no ruído de uma sinfonia mental. Mas se por instantes nos permitirmos ficar em silêncio e escutar a sinfonia do coração, saberemos que se trata da mais pura e bela verdade.
Colocar a responsabilidade de me ver inteiro, pleno e feliz em pessoas, coisas, situações e circunstâncias é como agarrar no passarinho e prendê-lo numa gaiola. Ainda que estimado e alimentado jamais poderá saber o quanto as suas asas batem forte, jamais poderá saber de que formas pode voar, em quantas flores poisar e se nas intempéries pode cantar. Na verdade será mais um ser a desconhecer a sua natureza. E profundamente amargurado, triste e só, se conformará com migalhas, se distrairá com o pequeno baloiço e os esporádicos assobios. Mas nunca a sua natureza deixará de ser e existir e a cada momento que a porta da gaiola se abrir, ele vai querer bater as asas e voar. 
Assim é com o nosso coração… que aparentemente se contenta com os doces da vida desesperando-se com os amargos. Na verdade também ele é um passarinho na gaiola desejando bater as asas e voar, pois liberdade, felicidade é a sua natureza.
Muitas são as vezes que questiono, como dar expressão ao imenso que habita no peito? Como viver a vida tal qual gostaria? E num processo mental já se estrutura, idealiza, projecta e se define um propósito de vida. Mas… algo não bate certo, algo não é suficiente, algo carece por entre os mais belos e brilhantes sorrisos, actos de bondade, obras dignas, prestigiadas e as mil e uma formas de se expressar amor… porque o imenso que habita no peito não tem inicio, não tem fim, não tem forma, espaço, tempo… como pretender que algo ilimitado assuma a forma de uma experiência que é logicamente limitada? Como desejar que corpo e mente sejam hábeis na representação de tal grandiosidade? Como a sua natureza limitada e condicionada pode traduzir o que é livre e ilimitado? Não faz sentido.
Ananda reconhece-se porque sempre presente e por isso o impulso, o desejo, a força interna de querer viver a vida de um determinado jeito, inconformada com as gaiolas, profundamente triste de saber que seus semelhantes se maltratam, se violentam, se destroem de forma atroz.
Ananda reconhece-se no sorriso de uma piada, no abraço da filha que espontaneamente diz “obrigada mamã”, nas lágrimas de saber que mulheres e crianças são brutalmente violentadas, escravizadas, assassinadas.
Ananda dá realidade ao “quarto escuro”, ao desespero de não entender os meus sentimentos, emoções, pensamentos. O quarto é escuro porque ananda é luz e as janelas estão fechadas. Logo que se abram pequenas brechas ele deixará de ser totalmente escuro… e se ousar abrir as janelas completamente entenderei que afinal o quarto é luz. E de coração leve, destemido poderei finalmente apreciar o quarto.

Sónia

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Reflexão #11 - "Tristeza por favor vai embora"


Não há nada de errado com a tristeza…
Tristeza vem e vai…
E se vem que se abrace, que se viva…
Consciente, presente…
Observando e aproveitando a oportunidade do tanto que tem para nos revelar, confidenciar…
Para quê pintá-la com sorrisos forçados?
Para quê repudiar?
Para quê tentar fugir?
Para quê fantasia-la, colori-la?
Tristeza disfarçada de alegria será sempre tristeza…
Então que se chore, que se grite a dor…
Com toda a intensidade que ela tem…
Tristeza é só tristeza
Como alegria é só alegria
Naturalmente voláteis, fugazes…
Porque temo tristeza?
Porque desejo alegria?
Porque escondo tristeza?
E porquê rejubilar alegria?   
O que busco?
E se busco onde busco, porque busco?
Será que o que busco pode ser buscado?
O que me leva a dizer “tristeza por favor vai embora”?
Serão meras palavras?

Sónia.