sábado, 18 de agosto de 2018

Uma História de Amor # 8



Meu amor,
Que sempre estás, que sempre és
Que repousas em silêncio
E me convidas gentilmente para sentar…

Meu amor,
Que me ofereces a mão para sentir o bater do teu coração
E de olhos fixados nos meus contas aqueles segredos
Que libertam a dor destes fantasiosos enredos…

Meu amor,
Que nesta pele de mulher me desafias a Ser
O corpo, a alma que se esqueceu de viver
A beleza, a doçura de poder renascer…

Meu amor,
Que não te espantas entre os devaneios
E não me abandonas diante dos anseios
Que permaneces de lábios serenos sorrindo
Prontos para beijar enquanto me vou despindo…

Meu amor,
Sabes que nada tem troca
Nenhum caminho é de volta
E a ti eu chego sem nenhuma revolta…

(Sónia Andrade)


Pensamentos Soltos #124

imagem retirada da internet 

O coração maduro oferece espaço para ser cuidado e amado para que outro coração se veja cuidado e amado também…
É uma dança, de um passo para lá, outro passo para cá, que ambos decidem aprender…
O pulsar da melodia habita os dois e como crianças, ousam aprender a compor uma canção e acertar o passo diante da delicadeza de tamanha composição…
Não têm ansia de chegar… não têm ansia de galgar e um desperdício querer dominar…
Não é um saber para se conquistar mas uma arte de aprender a saborear…
Não é um fim, não é um meio
Mas uma vida por inteiro…
Amar e reconhecer-se fonte de amor…
Deixar-se amar e poder chorar a dor…  

( Sónia Andrade )

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Reflexão #114 - O Poder Da Imagem...

imagem retirada da internet 


Quando olhamos uma imagem de Lakshmi não invejamos a sua beleza, riqueza, prosperidade, abundância. Os nossos olhos são um encontro com a contemplação do imenso que habita o peito e a apreciação da natural limitação, ignorância que dá forma à vida. Ela está lá, sempre presente e de joelhos diante do altar, se eleva o coração para chorar tudo o que é preciso ser chorado. As lágrimas que correm pelo rosto são água, sal que purificam e a força que transforma. Toda a imagem é meio de comunicação, expressão e um espelho para perceber a visão de nós mesmos. Passamos a maior parte do tempo a querer ser uma imagem que admiramos do lado de fora e em nome de nos ofertarmos a estima, o amor, reconhecimento que carecemos. Vivemos tentando aprimorar o corpo, o intelecto, a conquistar, possuir, galgar, entretidos em poder chegar ao espaço e lugar que aquela imagem desperta em nós. Assim nos vamos inspirando uns nos outros, dançando de roda em roda, motivando-nos num caminho de redescoberta e resignificação da vida. Quando olhamos a imagem de Krishna e Rada e nos emocionamos com o que ela nos transmite, não estamos necessariamente à procura de um Krishna ou de uma Rada na nossa vida mas sim o espaço em nós para percepcionar a delicadeza e beleza da partilha, do companheirismo, da vulnerabilidade, força e firmeza de quem se nutre de amor e por amor. Essa pequena palavra é complexa de ser compreendida, reconhecida e necessita de um mergulho às profundezas. A todo o momento é colocado nas nossas mãos essa possibilidade. No entanto perdemo-nos nos ruídos, imagens, desperdiçando a oportunidade de fazer deles o trampolim, impulso para se voltar na direcção, cujo rumo é “casa”.  
Assim deveria ser quando admiramos, contemplamos uma imagem, mensagem nas redes sociais, por exemplo. O que ela desperta em nós? O que nos conta de nós? Porque tentar adivinhar o que conta dos demais é perfeita loucura e nada mais do que o reflexo de si mesmo.
De verdade ninguém quer parecer ou ser um outro. Ninguém quer ter a vida do outro. Isso é mentira e mero mecanismo de quem pretende alimentar uma espécie de ratinho numa roda.
Todos, sem excepção, quer a sua vida, quer ser ele mesmo. E é tanta atracção, estimulo, dinâmica, informação, que ficamos tontos, perdidos e muitas vezes caímos para o lado porque não tem como impedir um jogo que é existencial e ao nível consciente e subconsciente.
HarihOm
Sónia A.   


segunda-feira, 23 de julho de 2018

Uma História de Amor # 7




Meu bem,

Quem dera que o brilho do amor calasse a minha voz, toda a vez que te quero dominar e diante de ti me afirmar…

Que o sorriso do meu silêncio e a presença da tua escuta, fosse suficiente para profundamente te abraçar sem nos meus braços te amarrar e assim poder contemplar-te…

Quem dera saber falar-te, palavras bonitas diante das estrelas que bailam neste céu escuro…
E de mansinho confidenciar-te ao ouvido, que a arte de saber amar-te é o meu porto seguro…  

(Sónia Andrade)

sábado, 14 de julho de 2018

Pensamentos Soltos # 123

imagem retirada da internet

Não é o mundo que grita, o dedo que aponta, a voz que acusa ou acção que vinga…
Lá fora não tem nada se dentro há amparo, abraço, amor suficiente para se acolher e reconhecer…
Assim sendo, o movimento do mundo e suas pessoas, uma bela pintura, que rindo e chorando, aprendemos a apreciar…

Sónia Andrade

Uma História de Amor # 6

imagem retirada da internet 

Meu amor,
Primeiro ajuda-me a cair…
Depois deixa-me erguer…
E no final, permite-me em teus braços permanecer…

(Sónia Andrade)

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Reflexão 113 - Sentir-se em Casa? Como assim?

imagem retirada da internet 

A dor assim como o amor são dos fenómenos mais complexos de se entender.
Na verdade um não é dissociado do outro e toda a vez que queremos fugir à dor estamos a fugir ao amor…

O que nos dói de facto? Nós ousamos responder a esta questão toda a vez que o peito aperta, o desconforto espreita?

O que é o movimento do mundo, das pessoas, as situações, as circunstâncias senão a tentativa de descobrir o amor? A tentativa de aprender a expressá-lo através deste corpo, mente, fala, gestos, tão limitados em si mesmos…

O que quero levar de facto desta vida?

Conseguirei eu ajoelhar-me diante dos meus próprios pés e reverenciar tudo que me foi oferecido para poder crescer? Conseguirei eu agradecer? E no meio da adversidade? Pode o meu coração fortalecer-se diante de um corpo e mente que se rendem à sabedoria do devir?

A partir de que lugar eu ergo os alicerces da casa que gostaria habitar?
E de onde vem esse senso de sentir-se em casa? O que é sentir-se em casa?
Quantas vezes nós estamos em família sem conseguir sentir-nos em casa? O problema é a família? O problema é a casa?

Se assim fosse talvez mudar de casa e de família resolvesse a questão… mas, parece que o fenómeno é mais complexo do que isso… não tem casa, não tem família que nos ofereça tal grandiosidade. E talvez seja preciso muito orgulho e arrogância para pensar o contrário, roubando a possibilidade de nos ofertarmos à casa e família de forma despretensiosa, abrindo um real espaço para que tanto uma como outra sejam na exacta forma e medida que se apresentam.

HarihOm
Sónia Andrade

quinta-feira, 28 de junho de 2018

imagem retirada da internet



Ele pegou na mão dela…
Levou-a de olhos vendados…
Ensinou-a a reconhecer a firmeza e amparo do chão…
Que abre as portas ao coração…
 Para se despir da ilusão…

Brincou um pouco com ela…
 Apontando para a quimera…
 Que a sua alma tanto quisera…

Sentou-a, desvendando-a daquele velho tecido usado…
Convidando-a a reconhecer um tempo acabado…
E seguir em frente sem um olhar amargurado…

A dor chegou…
A voz calou…
Pensamento o vento levou…
E a saudade espreitou…
De um amor que não tocou…

A alma se despediu da esperança impostora...
Daquela intuição abusadora...
Para se entregar à vida de lavoura…

Hoje dá a mão ao devir...
Sem ter de ao amor resistir...
Saboreando o prazer de existir...
Sem esperar o amor por vir...
Ou a verdade por sentir…

(Sónia Andrade)

terça-feira, 19 de junho de 2018

Pensamentos Soltos # 122

fotografia de João Benjamim 

Por aquele seu jardim algumas flores haviam brotado...
Mas, as leis do Universo decidiram plantar uma que lhe parecia tão grandiosa e bela que correu, instintivamente, na sua direcção desejando agarrar, cheirar e senti-la nas suas mãos… 
Um dia uma voz sussurrou-lhe ao ouvido que corria por uma miragem… 
Convidou-a a sentar e contemplar…
Diante da tamanha força e inteligência da natureza, os seus olhos perderam-se, as suas mãos largaram, o coração caiu aos seus pés e de joelhos reverenciou o amparo, aconchego e sustento do chão, que em silêncio lhe ofereceu a mão…

(Sónia Andrade)

terça-feira, 10 de abril de 2018

Reflexão # 112 - Nós e a Corrupção

imagem retirada da internet 

Faz muito tempo que não vejo televisão. Cá em casa existe uma e é para total usufruto da filha. No entanto, acompanho minimamente, escutando, lendo, aqui e acolá, as tristezas e alegrias que se vivem no mundo. É bem verdade que a tendência é exacerbar o que é ruim gerando em nós um constante estado de pânico, medo que parece alavancar e sustentar uma sociedade cujo desejo é viver bem rápido e de preferência satisfazendo os desejos que acalentam as nossas dores, frustrações, medos, ansiedades, sem refletir com alguma profundidade sobre eles, pois isso pode roubar o tempo que é precioso, ainda que internamente miserável.
Hoje reflectia sobre corrupção e como de verdade todos nós o somos. Se ousarmos olhar para a natureza dos fenómenos, saberemos que não estamos assim tão separados deles e que o resultado externo das acções do ser humano não são mais do que a visão de si mesmo. Estamos corrompidos, vivemos corrompidos e alimentamos esse estado de corruptos em nós.
Os valores da sociedade actual só sobrevivem nessa vibração. A democracia é fictícia, a estrutura organizacional, as hierarquias e todas as tentativas de impor regras para a boa gestão de um país e até mesmo de uma casa. Dentro de casas, instituições existem seres humanos, crianças físicas, crianças emocionais e mentais que lutam por sobreviver à ignorância da sua existência, propósito de vida.
Enquanto cada um de nós não reconhecer o corrupto que há em si, com a dor, lamento, amor, compaixão que merece, abraçando com humildade os seus erros e limitações, jamais encontrará no mundo lá fora a paz, a honestidade, sinceridade, alegria, prazer e bem-aventurança de viver, criar, servir.
As revoltas, manifestações, indignações precisam acontecer dentro. Resgatar a força interna e a coragem para fazer diferente diante das pequenas corrupções a que todos estamos sujeitos por conta das nossas limitações e condicionamentos. Viver com o dedo apontado, elegendo e reelegendo alguém digno de tomar conta da insanidade, imaturidade que cada um carrega não parece a solução para os problemas do mundo. Talvez se precise parar para pensar que não é o mundo lá fora que está doente, mas sim cada um de nós. Talvez o maior e mais complexo compromisso não seja acabar com as guerras mas sim aprender a largar as armas. Infelizmente talvez tenhamos de assistir a inúmeras barbaridades, atrocidades que cortam o coração mas que elas nos possam servir de introspeção. E para aqueles que creem ser uma perda de tempo porque o tempo urge, a vida é curta, a morte é certa, a sua vida já passou…
HarihOm
Sónia A.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Pensamentos Soltos # 121

imagem retirada da internet 

O que a nossa criança interna pede de nós é um olhar sobre ela sem julgamento ou juízo de valor. 
É uma escuta ativa e presente das suas necessidades. Elas são básicas, fundamentais e de uma profundidade que nos convidam a um abraço profundo, mesmo que a compreensão não seja clara. Reconhecimento, valor, amor incondicional, espaço para ter voz, escuta, é um presente que aprendemos a desembrulhar com ela. Nem sempre a nossa conduta externa vai parecer coerente com o que é estereotipado, politicamente correto e muitas das vezes, talvez sujeitos a uma avaliação e julgamento externo de que frios ou egocêntricos. Se estivermos sintonizados com esse espaço em nós, que nos pede amor, atenção e reconhecimento, estaremos fortes e firmes para receber esse movimento com a mesma doçura, compreensão e disponibilidade interna com que decidimos nos abraçar. E assim vamos poder experienciar uma real alquimia que se estenderá aos nossos órgãos dos sentidos, à nossa forma de caminhar e olhar o mundo, ao nosso modo de falar, interagir, relacionar, escolher e decidir. 
A leveza, a alegria, o amor, satisfação que conquistamos é a mesma daquela criança que sente a sua mão segura pelo pai e mãe que se comprometem a conduzi-la diante dos seus gostos, aversões, medos, sonhos, desejos, dificuldades.
A vida transforma-se numa tela onde posso pintar e contar uma história, expressando uma obra de arte...

(Sónia Andrade)

terça-feira, 20 de março de 2018

Pensamentos Soltos # 120

imagem retirada da internet 


A inveja, a cobiça, o ciúme não é mais do que uma identificação com um conjunto de crenças que parecem aliviar a nossa carência e necessidade por nos reconhecermos fontes de amor. 
Esses sentimentos, emoções são a expressão da ignorância que a mente carrega e que a conduz num conjunto de acções e reações que estimulam o jogo de opostos, o conflito interno e a sensação de insuficiência. 
A tendência é querer conquistar, acumular outras coisas, situações, circunstâncias, pessoas, para que possa sobreviver e de algum modo defender-se e proteger-se do choque de dor de se ver e sentir para lá de tudo isso. 
É um processo complexo, visceral, cujo ego é convidado a uma entrega, a um amparo, amor, compreensão, doçura que tem em si associado o vislumbre das dores, traumas, fantasias, ilusões, vícios no qual se estruturou, ganhando a voz e o papel principal.
Profundamente, todas essas emoções são meras crianças feridas que cresceram a olhar o mundo de um jeito muito próprio, único e que o interpretaram à luz do que viram e escutaram ao seu redor. Formaram um conjunto de valores, gostos, aversões que alimentou conceitos e preconceitos de família, amigos, amor, vida, certo, errado, bonito, feio, bom, mau.
Nós, fontes de amor, somos a sua expressão limitada e condicionada. Por essa razão podemos sentir no peito dor, porque ela não é mais do que amor a vibrar. 

Sónia Andrade

domingo, 11 de março de 2018

Pensamentos Soltos # 119

imagem retirada da internet 

Quando decidimos realizar um mergulho profundo sobre nós mesmos, auto-responsabilizando-se pelas suas feridas, dores, traumas, condicionamentos e limitações, saberemos quão complexo e delicado é lidar com essa realidade. Saberemos como estamos carentes de amor-próprio, atenção e cuidado consigo mesmo. Não mais estaremos pedindo ao mundo que alivie os nossos desconfortos e portanto saberemos colocar os nossos limites e procurar uma acção que vá ao encontro das nossas necessidades, momento que vivemos. Não mais queremos desperdiçar tempo em ser agradado ou agradar. Queremos apenas conquistar espaço interno para ser e assim poder permitir de facto que os outros também o sejam. Não é um processo intelectual ou montado à luz de ideais e conveniências. É um processo visceral de quem deseja renascer para aprender a viver com verdade e a morrer com dignidade.
(Sónia Andrade) 


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Uma História de Amor # 5



Meu amor,
Caminhamos lado a lado, de mãos dadas…
Longe de saber quem és de verdade…
E como a cada instante te apresentas diante de mim…
Sei apenas que me roubas um sorriso toda a vez que sinto o calor que sai da tua boca, para sussurrar baixinho ao meu ouvido, um dialecto que não aprendi…
As palavras? Sempre parecem escassas…
O silêncio? Nosso maior confidente…
A força do abraço? Nossa presença…
O sal das lágrimas? Emoções que bailam…
O calor dos corpos? Fogo que queima e transforma…
O êxtase do coração? Nossa ousadia de se largar diante do mistério de nada conhecer ou saber para saborear o doce amargo de viver…

(Sónia Andrade)


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Uma História de Amor # 4



Meu bem,

Aprecio quando chegas com a firmeza, calor, sorriso interno de quem não se abala com os episódios de uma mente em maturação e sentas para escutar, amparar, sem me condenar…

Aprecio o respeito e a doçura, de não te propores a distrair-me… tão pouco minimizar a minha força de levantar, toda a vez que possa cair…

Aprecio a amizade silenciosa, presente que não passa a mão pela cabeça nem ousa dizer que tudo está perfeitamente bem…

Aprecio a compassividade, a disponibilidade dos teus olhos, braços para sentir os meus dramas, fantasias e até mentiras, sem tirar-me a graça…

Aprecio o teu permanente convite para uma dança que me traz o prazer de viver e também a dor de existir…

Aprecio o teu amor incondicional que aquece o peito diante da frustração de sentir, tantas vezes, as nossas mãos e olhar distantes…

Aprecio a tua leveza e doçura que não exige, que não troca, que não domina, manipula…
Porque tu sabes, meu bem…. Que o maior e mais belo jogo de todos os jogos de amor, é desaprender a jogar...

                                          (Sónia Andrade) 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Reflexão # 111 - Mulher Além Da Aparência

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Vou andando pelo mundo, colocando-me nas experiências, no movimento e chamado do meu coração. Muitas vezes sem mesmo entender, com toda a clareza, o que tem para me contar e revelar. Diante delas posso viver muitas emoções, em relação com outros seres que se apresentam diante de mim como um espelho do tanto que carrego dentro, escondidinho para não doer muito no peito. Tenho visto mulheres muito bonitas, que carregam uma luz no olhar, na pele, nos cabelos, que atraem os nossos sentidos, a nossa vontade de conhecer, de estar perto. Mulheres que parecem leves na vida, que espalham sorrisos, criações coloridas, comidas saudáveis, mães graciosas, modos de vida mais alternativos e desprendidos. Tenho olhado para dentro de mim e questionado o que me passa no pensamento, o que sinto. Vem uma espécie de lamento. Por não ter a beleza física que estereotipei na minha mente, os cabelos e a pele tão brilhantes, saudáveis, o conhecimento intelectual, as experiências, conhecimento das belezas do mundo, os amigos e amigas e por aí vai. Vejo como internamente carrego um patinho feio, que não sabe valorizar os seus atributos, que não sabe se colocar, embelezar. Vejo como carrego o desejo por leveza, cor, suavidade, luz e movimento. Na casa física, na casa interna. Vejo como me julgo de complexa, pesada porque a vida não pode ser assim tão simples. Mas a verdade é que ela pode. Nós só não sabemos. E promover tanta beleza externa, aparente prosperidade, amor, soa a um ataque, estimula o desejo de querer correr atrás daquelas conquistas externas. Pelo caminho tropeçamos, criamos expectativas para Ser o que não somos. Para minimizar as nossas dores, não reverenciar a nossa história, a nossa família, cultura, educação. Talvez até, promover a vitimização para dizer que se tivesse nascido numa outra família, recebido uma outra educação, cultura, pudesse ser tudo aquilo. Como é tão triste viver lamentando o que se foi, o que não se é, repudiando e negligenciando o que é de verdade, dentro de um farrapo de roupa, de um rosto sem maquilhagem, dos cabelos e da pele que envelhecem e do calor que aquece a limitação da nossa mente.
Tem pessoas muito bonitas sim. Que promovem um estilo de vida saudável, a família feliz, as conquistas, as viagens, as realizações e isso inspira, isso nutre um desejo de poder fazer diferente, coloca a pulga atrás da orelha para rever os seus hábitos, escolhas. No entanto, trata-se apenas de uma imagem interpretada à luz dos olhos de cada um. Colocar essa imagem como algo a ser conquistado é um desperdício, porque de verdade estamos a usar erradamente uma energia que poderia servir a um olhar interno e profundo sobre si mesmo. Nada irá brilhar mais do que isso porque é real. Não queremos a vida dos demais, queremos a nossa. Não queremos o sucesso dos demais, queremos o nosso. Não queremos a beleza dos demais, queremos a nossa. Não queremos a paz dos demais, queremos a nossa. Não queremos a alegria dos demais, queremos a nossa.
A vida é breve mas muito longa para quem lhe rouba a possibilidade de se despir de conceitos, preconceitos relativamente a pessoas, situações, circunstâncias. Para quem sofre na estonteante tentativa de encontrar uma imagem, um status, um brilho, uma beleza que só se alimenta de beleza. O bichinho feio e arredio que habita todos nós, estará bem escondidinho, caladinho para não doer muito no peito, à espera de um doce abraço que o reconhece, aceita, leva para brincar e passear. 
HarihOm
Sónia A. 

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Uma História de Amor # 3


Olhaste nos meus olhos, seguraste a minha mão e falaste ao meu coração…
Querida, não te desejo uma metade em mim porque és íntegra em ti…
Vem com todas as dificuldades, cuidarei de não abusar das tuas fragilidades…
As cores do teu jardim são obra de arte de uma criação sem fim…
Vem, vamos descobrir o doce perfume daquela flor de jasmim…  

(Sónia Andrade) 

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Uma História de Amor # 2



Talvez tu, meu grande amor...
Te apresentes diante de mim na simplicidade de todas as coisas...
E eu, diante da estonteante complexidade desta mente, tantas vezes absurda,
Te ignore…não te reconheça…
Talvez na pressa dos meus anseios e até na loucura dos desejos…
Oh meu amor! 
Sacia os olhos meus, no vislumbre do brilho teu…
Talvez possa lembrar do que nada se esqueceu…

(Sónia Andrade) 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Uma História de Amor # 1


Bem sei que estás aí amor…
Sinto a presença dos teus dedos, que na sua invisibilidade tocam o meu ombro…
O amparo na retaguarda que leva o meu medo e convida-me a mergulhar, de olhos vendados, no colo dos teus braços…
O sussurro leve e quente que confidencia a força destes meus passos, acalentando a marcha que segue em frente com a confiança inata da criança que não teme a queda do corpo sobre as suas próprias pernas, enquanto aprende a caminhar e nelas se equilibrar…
Bem sei meu grande amor! 

Não conheço as formas do teu rosto…

A cor dos teus olhos…
Ou o cheiro da tua pele… 
Mas sinto meu bem, que tocas o mais íntimo e profundo…
Por isso posso sorrir…
Contorcer-me de dor e de prazer…
E num doce respirar, completamente me largar…


(Sónia Andrade)

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Reflexão # 110 - A Trama das Relações

imagem retirada da internet 

Quando estamos emocionalmente envolvidos numa trama, a mente assume com muita força a existência dos heróis, os vilões, os malfeitores, os benfeitores e por aí vai. Dependendo do personagem que mais nos alicia, procuraremos no mundo interno e externo a energia que o alimente, pois sem ele comprometo a identidade que criei, o papel, o propósito de viver e por aí vai. Com toda a lógica e de forma bem inconsciente, coloco-me num jogo de dependência que naturalmente é frágil e volátil. Em momentos de grandes perdas e com uma mente não preparada para o tranco, é quase instinto de sobrevivência procurar o fôlego, a mão que nos ajude a descobrir uma nova força, motivação para seguir em frente. Quando presos na roda da vida, no samsara, como falamos na tradição védica e também no budismo, é muito natural procurar a situação que tape aparentemente o buraco que uma perda nos traz. Então, será muito excitante novas relações, novas experiências, novas amizades, novos projectos, novas dinâmicas e elas estarão super ampliadas pela natural carência e necessidades humanas. Dependendo do universo mental de cada um, veremos as mais diversas formas de se apresentar diante do mundo, pessoas, vida. Quando procuramos por autoconhecimento não procuramos fugir da limitação e condicionamento humano, senão ganhar a consciência de tal, a maestria na acção para se relacionar com o fenómeno e o entendimento de que a natureza fundamental do individuo é livre diante desse processo. Quando isso ocorre, estamos na descoberta da fonte de energia vital que nos dá a mão para nos retirar de um jogo de dependência, manipulação, vitimização e etc. Ao conectar-se com essa realidade, estamos a ter oportunidade de ver com clareza onde nos emaranhamos, de onde nos queremos desenvencilhar, como podemos fazer diferente, a descobrir prazeres e desejos mais profundos que nos dão a força necessária para ir largando velhos padrões e tendências. Profundamente, quando nos colocamos diante deste compromisso em crescer, amadurecer, descobrir o real propósito da vida, estamos numa relação intima com nós mesmos que não se opõe a nenhum outro tipo de relação. De verdade, quando procuro relacionar-me intimamente e com maturidade com um outro, estou a desejar tê-la comigo mesmo. Quando assim é, nenhuma interacção é superficial e sempre convida a um agradecimento. As experiências deixam de ter o drama fatídico para passarem a ser o material de estudo que nos ajudam a posicionar diante do que gosto, não gosto, quero e não quero, preciso ou não. Escutar isso com presença e amor é oferecer aos demais a integridade e dignidade que toda e qualquer relação deve ter.  
HarihOm
Sónia A.