terça-feira, 9 de maio de 2017

Reflexão # 101 - A Relação entre Professor e Aluno

imagem retirada da internet 

Iniciei a prática de yoga com maior compromisso e profundidade após o nascimento da minha filha e através de uma formação intensiva em asthanga vinyasa yoga. Expor o meu corpo, mente ao método iniciou um processo de escuta, observação, trazendo à superfície padrões de pensar, sentir, agir e com isso os abençoados conflitos internos que me fizeram chegar até aqui e me impulsionam na busca pelo entendimento de quem sou. Essa é uma longa jornada que nos espreme para dar lugar ao néctar que nos habita. Desengane-se aquele que acha que é no conforto, segurança, controle, conveniência que se apresenta para nós. Usando lógica e raciocínio talvez tampouco houvessem mestres, tradições, obras sagradas, métodos, terapias e tudo mais, se afinal a vida e o entendimento do seu propósito fosse assim tão fácil e no primeiro virar de esquina. Não… talvez isso agrade os nossos sentidos, a covardia da nossa mente e o apego à identidade que carregamos. É tão subtil que até mesmo posso construir a imagem do tal professor, do iluminado, do grande conhecedor de todas as coisas ou até mesmo a imagem do descontraído que deixa a vida fluir, que é muito seguro de si e das suas convicções e que usufrui a vida com a dança que mais gosta, insensível à percepção daquela que mais precisa.
Tenho-me exposto a várias experiências, entrado em contacto com vários professores, grupos e constato que o que faz a diferença neste universo de yoga, autoconhecimento, espiritualidade é a capacidade de doar amor desinteressadamente e com a maestria de fazer do aluno um ser digno, integro pelo reconhecimento da sua natureza fundamental. Esse processo é tão profundo, inteligente, minucioso, preciso tal qual uma cirurgia, que de facto é muito raro e uma bênção quando presenteados com tal. Vestir um papel de professor e aluno requer um compromisso interno que exige de nós a capacidade de colocar fora de jogo por instantes, os nossos desejos, as nossas fantasias, as nossas carências para ser capaz de dar força ao outro de se descobrir por si mesmo. Por essa razão se diz que essa relação é tão intima, sagrada e para lá do que nos convém, do que nos dá prazer. Tarde ou cedo, esgotar-se-á e a pressa de viver, saborear roubará a oportunidade de saber o que isso é de verdade. Saber esse, que um corpo e coração reconhece numa paz inabalável, numa firmeza gentil, amorosa, compassiva que tudo acolhe, ampara.
Podemos passar a vida no ponto socorro a levar o soro necessário para se sentir melhor, com mais ânimo. O corpo e a mente aparentemente mais fortes porque as dependências são alimentadas mas logo, logo o soro acaba e o que resta é a dor da dependência que precisa ser compreendida na sua origem e raiz. Para tal, não são as palavras bonitas, os sorrisos rasgados, as belas imagens, as deliciosas experiências ou o acumulo de conhecimentos. É o compromisso interno, é o desejo de querer descobrir a força criativa da vida, a força vital por detrás da ignorância relativamente a sexualidade, segurança, sobrevivência, amor, raiva, inveja, ciúme, vingança, competição e a própria prática de yoga, métodos, meditação, técnicas de respiração e etc.  
É o compromisso de saber que yoga, energias e as mais variadas terapias são meros pontos de socorro que desempenham um papel importante, mas que por si só não respondem à força maior que nos habita e que por essa razão nos coloca num conjunto de dinâmicas que esgotem todas as tentativas frustradas.
Porque necessitamos de levar o corpo físico à performance de 6 ou 7 series de posturas propostas, por exemplo, no método do ashtanga? O que está efetivamente por detrás desse método, dessa proposta? E se por qualquer motivo ficar incapacitado de praticar? E se com todas as condições eu praticar, alcançar uma condição física aberta para percecionar energia, força, vitalidade e ainda assim sentir um vazio dentro de mim, que preciso compensar com mais e mais técnica, conhecimento, acreditando ser Deus ao invés de sentir Deus? E o que é isso de sentir Deus?
Tenho observado que é esse entendimento profundo que inspira neste meu processo e colocar-me diante das dificuldades, experiências as ferramentas necessárias para clarear a mente, direcionar os passos, escolhas, decisões e sobretudo descobrir o calor de um coração que nutre, alimenta este corpo, esta mente para que assim se possa doar, livremente, diante dos demais.  
Talvez seja esta a prosperidade, abundância da vida…
Jaya Mahalakshmi!
HarihOm
Sónia Andrade. 

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