Todos os dias nos são ofertadas ferramentas para crescer, aprender, desenvolver, evoluir, compreender.
Enquanto pratico asana, pranayama, enquanto estudo a lição de viola, enquanto desempenho as funções domésticas que me habituei a não gostar, enquanto sonho e imagino viagens pelo mundo, enquanto dou aulas, enquanto brinco com a filhota, enquanto me zango, enquanto escrevo, enquanto leio, enquanto choro, enquanto rio, enquanto danço, enquanto canto, enquanto penso, enquanto desejo, enquanto perco, enquanto ganho.
Tudo não passa de um universo por mim e em mim criado onde medos, valores, gostos e aversões têm mais para me ensinar do que para me fazer sofrer. E nesse ciclo do aprender pouco adianta querer atalhar. Tudo tem a sua ordem natural de acontecer, tal como o rio que nasce no alto da montanha e desagua no mar.
Estar consciente a cada instante, aberto ao conhecimento, à aprendizagem é o primeiro passo. Aceitar condições e circunstâncias que a vida nos apresenta, o segundo. Entregar e confiar na ordem de todas as coisas, o terceiro. E se genuinamente, lá no fundo do meu coração, conseguir ficar, estar, grato a tudo, então é certo que estarei caminhando em direcção ao Sol, à Luz.
"Ah, gostava de viajar, estudar e praticar com um mestre, um sábio durante uma temporada, penso" "Mas...não há dinheiro, nem trabalho suficiente para realizar esse dinheiro, a filha é pequena, precisa de mãe, circunstâncias da vida."
Empenhar-me na aceitação não é ficar de braços cruzados, à sombra da bananeira e passiva. Aceitar é compreender o que é certo e errado. É aprender a viver o dharma. É saber colocar rédeas aos cavalos. É estar consciente do que é justo para todos. É entender com humildade e serenidade que existe uma ordem.
Roubar, extorquir, enganar, usar de forma vil tudo e todos, viver amargurada, frustrada, cheia de mágoas e rancores em nome da ambição, de conseguir a todo o custo a concretização de desejos e vontades, não é certamente sinónimo de inteligência, sucesso, vida próspera, plena e auspiciosa. E isto é válido tanto para aquele que deseja estudar com um mestre, como para aquele que deseja adquirir um roll royce.
Entregar e confiar não é esperar que um dia a ordem das coisas seja favorável à concretização dos meus desejos...
Entregar e confiar é estar presente, consciente de cada momento e movimento. É estar atenta e receptiva ao aprender, ao saber, ao conhecer em cada situação, circunstância, condição...se um dia poderei viajar, estudar, praticar com mestres, que bom! Se não, que bom também! Se um dia comprarei um roll royce, que bacano! Se não, que bacano também!
E se a gratidão que emana do meu peito for a mais pura verdade, então estarei certamente a viver no paraíso!