sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Reflexão #16 - Voa Borboleta...

imagem retirada da internet


Observando-me, observando situações, circunstâncias constato o quanto somos vítimas de nós mesmos, o quanto somos responsáveis não só pela escolha das nossas acções, como pelo processamento dos nossos sentimentos e emoções.
Não há nada de errado com as emoções! É uma bênção poder senti-las, experiencia-las. Elas são ferramentas para que nos possamos ver mais um tanto. Elas são a linha mestra que nos conduz ao entendimento da humanidade em nós, das necessidades que nos fazem olhar uns para os outros fundamentalmente, sem diferença. Emoções e sentimentos são o que são e estão aí para me ajudar, para me virar do avesso, para aprender amar e ser amado, para rir de alegria, chorar de tristeza, para sentir raiva com injustiças, para sentir revolta com incompreensões, para me posicionar, para decidir, para criar, para desejar, para me mover, fazer crescer, descobrir, reconhecer.  
Como vivemos em armaduras de ferro! Como nos defendemos do mundo, das pessoas, da vida! Como tememos nos ver vulneráveis, frágeis, carentes! E como desejamos descobrir-nos espontâneos, simples, amorosos, felizes e em paz!
Aparentemente um “beco sem saída” … a ânsia de controlar as pessoas, o mundo, a ânsia de ser amado, reconhecido, valorizado… a ânsia de ser especial, maior, melhor, diferente… a alegria porque tenho, a tristeza porque não tenho, a euforia porque consegui, o desespero porque não… a sede, o desejo de correr, fazer, saber, descobrir, experienciar, determinar… não tem fim… e neste movimento dinâmico, fluido, julgamos, condenamos, punimos pessoas, nós mesmos, ideias, situações, circunstâncias, apenas e só porque ignoramos que tudo é um mero espelho do que vibra em nós… um espelho que reflecte as minhas necessidades, as minhas carências, o meu amor frustrado, a cor, a luz que sou e não enxergo…
Culpa, medo, vergonha, depressão, raiva são meros "disfarces" de algo bem maior e belo sempre presente.  
Querer viver uma vida equilibrada, objectiva, focada e em paz, não passa por querer controlar emoções, ter domínio sobre as emoções ou o quer que seja… Isso será sempre uma busca sem fim, disfarçada em erróneas convicções de que afinal controlamos alguma coisa…
Talvez tenhamos de nos dar a oportunidade de viver e sentir emoções na sua plenitude… sem reprimir, sem condenar. Deixar que se manifestem, acolhendo e abraçando cada uma delas tal qual fazemos com uma criança.
 E de coração leve e solto, com mente desperta e aguçada, entender que a “saída” é reconhecer quem sou eu apesar de mim mesmo!
Como diz a Sara Tavares “ Voa borboleta, abri bôs asas e voá, mesmo se vida bai amanhã”
Om
Sónia

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Reflexão #15 - Porquê ouvir vedanta?


Ouvir vedanta tem contribuído para estruturar o pensamento relativamente ao ser emotivo, psicológico e cognitivo que somos. Esse entendimento e compreensão por si só, já produz um determinado efeito. Um olhar mais solto e leve é percebido. Como se outrora nos encontrássemos num quarto escuro apavorados com o turbilhão de emoções e pensamentos e logo que uma brecha de luz se vê, esse pavor se vai desvanecendo… não porque as emoções e pensamentos não continuem no quarto… mas porque nele há uma brecha de luz, de conhecimento, de compreensão. 
Ouvir sobre o que faz de nós um ser humano e propor-nos a um olhar profundo, despido de tudo o que criámos e construímos ao longo dos tempos é uma viagem tortuosa, tenebrosa até… mas ao mesmo tempo de uma beleza incomparável e indescritível… a dor, o sofrimento, a tristeza que há no fundo do poço tem na sua base uma força sem tamanho que nos impulsiona a subir, um brilho e calor que nos ampara e embala na experiência de todas as experiências, que é a vida. Uma força que inspira a escrever palavras, que emociona e motiva a trilhar o caminho da verdade, despindo-nos de adornos, fantasias, fardos, para que assim nos possamos ver vulneráveis, simples, espontâneos e dignos da maior de todas as riquezas que é o amor. Felicidade será efectivamente o que sou, aqui, agora, rindo, chorando, vivendo devotamente esta passagem pela terra, contribuindo com o que tiver de contribuir e experienciando o que tiver de experienciar.
Esta atitude de entrega é realmente efectiva quando há compreensão clara, objectiva. E de forma inata confiamos e caminhamos para o vislumbre dessa realidade.
Só assim será possível olhar pessoas, situações e circunstâncias como objectos de conhecimento, objectos da consciência, permeados pela consciência, que é satcitananda, que é a natureza do Eu.  
Só assim nos poderemos ver como um ser livre de limitação e fonte de felicidade.
Sónia.

Reflexão #14 - A Beleza do Desencanto

                                                     imagem retirada da internet

Quando ouço e aprecio os ensinamento de vedanta, eu pergunto porque não cresci ouvindo estas palavras… certamente elas me poupariam de tanto sofrimento, de tantas dúvidas, de tantos medos, da tamanha agonia de me ver sem me reconhecer, entender. Da crueldade de menosprezar o mais puro e simples. Das infâmias. Das tentativas frustradas de parecer alguém porque alguém te fez crer que precisas ser alguém… mas o que é alguém?
Escrevo estas palavras com muita emoção no peito! Choro de alegria! Como se a uma criança enclausurada, amedrontada, tímida, fechada, fosse dada a chave da libertação, da vida, do amor, do reencontro… uma chave que sempre esteve ali, com ela, por ela, camuflada em coloridos e sedosos véus com o dom de atrair, distrair e por ignorância da sua natureza, destruir…
Escrevo estas palavras com um tanto de revolta! E choro! Choro de tristeza. Quão miserável é caminhar desconhecendo o que se encontra por detrás de fantasias, sonhos, dramas, romances, paixões, terrores, desejos, raiva, medo… Quanta guerrilhas, batalhas em nós…
Que tristes e fugazes vitórias…
Como lamento… a exacerbada corrida de chegar algum lado…
Como lamento as descabidas tentativas de me ver, de me fazer ver, especial, diferente, importante…
Como tenho vontade de me abraçar, de ficar a sós comigo, de sentar e conversar sobre o tanto que se passou, sobre o tanto que se passa, sobre o tanto susceptível de se passar… sem exigências, sem ais ou lamúrias, sem querer nada em troca, sem expectativas…
Como tenho vontade de me sentir profundamente! De caminhar em direcção ao essencial e fundamental e aí permanecer… acomodando, amando, acolhendo devaneios e loucuras, tristezas e alegrias, amores e desamores, ora rindo, ora chorando…
Basta! O que sou já É…
Deus… conceda-me a clareza, o discernimento, a sabedoria, que permitam o disfrute dessa realidade! Que permaneça na roda, no jogo da vida, activa, presente, consciente e no repouso da paz, amor, compaixão!
Deus… conceda-me a sua mão para que aprenda este estar e caminhar… eu o desaprendi…
Deus… conceda-me coragem para expressar verdade… eu a temo…
Sónia.    

domingo, 19 de outubro de 2014

Reflexão #13 - Apreciar aqui e agora...

                                                                       imagem retirada da internet

A vida é a experiência de todas as experiências…
Se me posiciono nela procurando e expectando que corpo e mente sejam estereótipos de saúde, beleza, equilíbrio, sucesso, almejando ver-me especial e “todo-poderoso” como meio de libertação e felicidade, ignorando o quanto tudo isso é frágil, relativo, efémero, limitado… ignorando a subtileza de sofisticadas e ardilosas armadilhas sempre à espreita… caminharei inebriada, anestesiada em mais nomes, formas, teorias, conceitos, conhecimentos, perdendo a oportunidade de apreciar a perfeição das “imperfeitas” emoções, pensamentos, desejos, gestos, acções…
De apreciar o que dá forma à forma de um corpo…
De apreciar o alimento que alimenta a mente…
De apreciar o que a todo o momento vibra e nos faz vibrar…
De apreciar o que permanentemente nos move e conduz…
Então, que possa estar perante as experiências da maior de todas as experiências, que é a vida, presente, consciente, aberta, disponível e humildemente entregue à sabedoria que transcende a minha limitada noção de sabedoria e conhecimento, observando e apreciando a beleza de Ser…

Sónia. 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Reflexão #12 - Felicidade Sou

imagem retirada da internet

Ouvir sobre ananda svarupah conduziu-me à reflexão e à escrita destas palavras que inquietam e simultaneamente aquietam o meu coração. Observando-me, observando o que me rodeia, constato, efectivamente, que o que estamos acostumados a chamar de felicidade são migalhas que saciam momentaneamente mas que na verdade não suprem a fome de paz, amor, contentamento, quietude, plenitude. Isso é obra de quem ousa se recusar alimentar de doces e amargas sobras. Poderão estas palavras soar a pretensão quando escutadas no ruído de uma sinfonia mental. Mas se por instantes nos permitirmos ficar em silêncio e escutar a sinfonia do coração, saberemos que se trata da mais pura e bela verdade.
Colocar a responsabilidade de me ver inteiro, pleno e feliz em pessoas, coisas, situações e circunstâncias é como agarrar no passarinho e prendê-lo numa gaiola. Ainda que estimado e alimentado jamais poderá saber o quanto as suas asas batem forte, jamais poderá saber de que formas pode voar, em quantas flores poisar e se nas intempéries pode cantar. Na verdade será mais um ser a desconhecer a sua natureza. E profundamente amargurado, triste e só, se conformará com migalhas, se distrairá com o pequeno baloiço e os esporádicos assobios. Mas nunca a sua natureza deixará de ser e existir e a cada momento que a porta da gaiola se abrir, ele vai querer bater as asas e voar. 
Assim é com o nosso coração… que aparentemente se contenta com os doces da vida desesperando-se com os amargos. Na verdade também ele é um passarinho na gaiola desejando bater as asas e voar, pois liberdade, felicidade é a sua natureza.
Muitas são as vezes que questiono, como dar expressão ao imenso que habita no peito? Como viver a vida tal qual gostaria? E num processo mental já se estrutura, idealiza, projecta e se define um propósito de vida. Mas… algo não bate certo, algo não é suficiente, algo carece por entre os mais belos e brilhantes sorrisos, actos de bondade, obras dignas, prestigiadas e as mil e uma formas de se expressar amor… porque o imenso que habita no peito não tem inicio, não tem fim, não tem forma, espaço, tempo… como pretender que algo ilimitado assuma a forma de uma experiência que é logicamente limitada? Como desejar que corpo e mente sejam hábeis na representação de tal grandiosidade? Como a sua natureza limitada e condicionada pode traduzir o que é livre e ilimitado? Não faz sentido.
Ananda reconhece-se porque sempre presente e por isso o impulso, o desejo, a força interna de querer viver a vida de um determinado jeito, inconformada com as gaiolas, profundamente triste de saber que seus semelhantes se maltratam, se violentam, se destroem de forma atroz.
Ananda reconhece-se no sorriso de uma piada, no abraço da filha que espontaneamente diz “obrigada mamã”, nas lágrimas de saber que mulheres e crianças são brutalmente violentadas, escravizadas, assassinadas.
Ananda dá realidade ao “quarto escuro”, ao desespero de não entender os meus sentimentos, emoções, pensamentos. O quarto é escuro porque ananda é luz e as janelas estão fechadas. Logo que se abram pequenas brechas ele deixará de ser totalmente escuro… e se ousar abrir as janelas completamente entenderei que afinal o quarto é luz. E de coração leve, destemido poderei finalmente apreciar o quarto.

Sónia

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Reflexão #11 - "Tristeza por favor vai embora"


Não há nada de errado com a tristeza…
Tristeza vem e vai…
E se vem que se abrace, que se viva…
Consciente, presente…
Observando e aproveitando a oportunidade do tanto que tem para nos revelar, confidenciar…
Para quê pintá-la com sorrisos forçados?
Para quê repudiar?
Para quê tentar fugir?
Para quê fantasia-la, colori-la?
Tristeza disfarçada de alegria será sempre tristeza…
Então que se chore, que se grite a dor…
Com toda a intensidade que ela tem…
Tristeza é só tristeza
Como alegria é só alegria
Naturalmente voláteis, fugazes…
Porque temo tristeza?
Porque desejo alegria?
Porque escondo tristeza?
E porquê rejubilar alegria?   
O que busco?
E se busco onde busco, porque busco?
Será que o que busco pode ser buscado?
O que me leva a dizer “tristeza por favor vai embora”?
Serão meras palavras?

Sónia.