terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Pensamentos Soltos # 97

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Não é o quanto o outro é capaz de brilhar, ser feliz, alegre e próspero que incomoda…
É a ignorância que cega e nos aponta uma perspectiva de nós completamente falsa e equivocada…
Perdemos demasiado tempo com tentativas frustradas de parecer mais brilhante, alegre, feliz, próspero, realizado, desperdiçando a oportunidade de através do incómodo, mergulhar profundamente e analisar a sua raiz, propósito… Os holofotes logo, logo se apagarão e a escuridão tomará conta…
Talvez tenhamos de desejar que o outro brilhe mais e mais, agradecendo o fenómeno do incómodo e a possibilidade de através dele ir ao encontro de uma amorosa, pura e inocente criança que precisa do nosso amparo, compreensão, disponibilidade para lhe mostrar como o brilho é sol que nasce para todos…
Problema não são os fenómenos mas o que escolho fazer com eles…

HarihOm
Sónia A. 

Reflexão # 90 - A Importância Das Tradições de Ensinamento

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Sofrimento é uma espécie de droga injectada aos personagens que habitam a mente, viciando-os e impulsionando-os a correr atrás de novas e outras doses, capazes de curarem momentaneamente um estado de ressaca. Podemos perceber como actua no nosso corpo e mente e o primeiro passo num processo de cura, é expor-se à ressaca e munir-se de ferramentas que fomentem firmeza, amor, compaixão, vontade própria, genuíno desejo de se libertar, pensamento crítico, questionador e predisposição para se abrir à nova experiência.
Sofrimento é só um estado alterado que nos conduz numa espécie de alucinação relativamente à realidade. É prazeroso e capaz de trazer até nós momentos de felicidade, paz, libertação, expressão como também doloroso, capaz de trazer momentos de raiva, ódio, violência, angustia e aflição. Transitamos por eles incessantemente até à exaustão e entendimento de que me tornei um dependente patológico, que se contorce quando é convidado a reconhecer outra realidade.
O processo é tão delicado e preciso, que não se atravessa de forma autodidata e por si mesmo.
São necessários remédios e uma espécie de médicos da selva que extraem o veneno e apresentam antídotos. Por essa razão existem métodos e tradições de ensinamento que atravessam os tempos, as décadas, os milénios, sempre atuais e indo ao encontro da experiência humana.
Não é um conhecimento como todos os outros e ainda que o possamos buscar com a ilusão de tal, saberemos tarde ou cedo, da sua preciosidade, subtileza e pura inteligência.
É misteriosa a forma como chega até nós e isso confere-lhe a beleza capaz de nos humildar e capacitar para o receber.
Que possamos agradecer a bênção de entrar em contacto, isso já é um mérito.
Depois, que possamos orar para que ele chegue até nós da forma e no tempo que é preciso.
O desejo está iluminado e o restante é por conta de Deus.

HarihOm
Sónia A.  

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Reflexão # 89 - Uma Flor Perdida no Deserto

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Se nascemos completamente abertos para pedir, receber e expressar-se espontaneamente, por onde nos perdemos e como nos perdemos?
Como nos transformamos em exímios construtores de muralhas, muros que arrefecem o coração? Contidos nos afectos mais doces que escancaram a nossa vulnerabilidade e fragilidade, na exacta forma e medida da nossa força interna, integridade, dignidade.
Inábeis a comunicar sentimentos, emoções, reprimindo a beleza de os manifestar. Presos no medo, orgulho, vergonha de pedir, dividir e se expor.
Giramos ao contrário, incessantemente atrás do próprio rabo, iludidos por imagens que idealizamos, adiando reconhecer o verdadeiro tesouro que se carrega.
Aprendemos a silenciar o que não deveria ser silenciado e gritamos aos sete ventos o que é dispensável. A todo o momento renegamos sensibilidade, embrutecendo o que nasceu delicado e digno de ser cuidado como uma flor que não tem género, idade ou classe social. Basta de criar histórias, de alimentar culpa e culpados, as vitimas e os vitimados, que nos afastam da autorresponsabilidade e da possibilidade de crescer e amadurecer.
Que possamos ter compaixão por cada um de nós que não sabe e soube fazer diferente mas que se compromete com verdade no desejo de o poder fazer.
De facto, todos nós necessitamos ver-nos fontes de amor e por essa razão nos movemos e dinamizamos das mais variadas formas, procurando a relação consigo mesmo, pessoas, animais, natureza.
Essa é a essência da vida e todas as forças nos conduzem para esse reconhecimento.
Que possamos perdoar e nos perdoar e de cabeça erguida, destemido caminhar, viajar, orar, amar e essa flor perdida no deserto resgatar…
HarihOm
Sónia A.   

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Reflexão # 88 - Anjos Caídos Dos Céus e a Fantasia

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Pessoas não são anjos caídos dos céus escolhidos para iluminar a vida de um outro.
Essas fantasias, crenças apenas reforçam a separação, distanciando-nos cada vez mais de um olhar puro, sincero e essencialmente amoroso. Estas e outras afirmações fantasiosas, apenas alimentam as delícias de um corpo carente por se ver especial, superior, saciando um senso de inferioridade por ausência de entendimento da natureza fundamental do ser.
Se nos apoiarmos na lógica e discernimento, capacidades inerentes à mente humana, veremos como tais afirmações são equivocadas e sem sentido.
Todos viemos ao mundo vulneráveis, puros, inocentes, sem qualquer estatuto, rótulo, classe, totalmente dependentes, carentes e com capacidade inata de confiar, amar e se doar. Por lógica, nada nos separa, nos torna diferentes, especiais e portanto seriamos todos “anjos caídos dos céus” que vêm para realizar o propósito de vida e dentro de uma ordem inteligente que não divide e que se encontra muito além do que é lógico e ilógico.
De facto, não cruzamos a vida uns dos outros ao acaso e há uma inteligência envolvida, no entanto, profundamente, não existe uma espécie de elo mais forte e elo mais fraco. Não existe o anjo que cumpre a sua missão ou o diabrete que a repudiou. Isso são meras criações da mente. Profundamente, todos estão a fazer a sua parte nesta espécie de teia humana. Profundamente não há nomes, palavras, homem, mulher, bonito, feio, gordo, magro. Profundamente há amor ilimitado, infinito, para lá do tempo e espaço, que ilumina e dá realidade a toda a força oposta, dualidade e humanidade.
Talvez possa estar livre quando olhar cada ser ao meu redor e no mais intimo, sentir e reconhecer como são sol, céu, anjos, diabretes e rio que corre no caudal para desaguar no mar…
HarihOm
Sónia A. 

Pensamentos Soltos # 96

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Pessoas, seres humanos não se querem relacionar como deuses e deusas que alimentam fantasias, senso de inferioridade ou superioridade, tampouco como indivíduos que a toda a hora precisam se provar, aprovar e enaltecer…
Seres humanos querem corações que permitem as suas necessidades bailarem, com a graça e leveza de um corpo que desperta para a dança da alma…

Sónia A. 

Pensamentos Soltos # 95

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Profundamente não são pessoas, objectos que se desejam… é conhecimento, entendimento do ser feliz sempre presente…
Pessoas, objectos e toda a dinâmica existencial, a ferramenta perfeita e super inteligente que nos move nessa direcção, entre linhas misteriosas…
De facto essa é a beleza e o que dá realidade à percepção de algo bem maior que nós…

Sónia A. 

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Reflexão # 87 - Relacionamentos Conscientes

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Certa vez é preciso ousar ver e sentir o que nos motiva a relacionar, o que nos empurra, atrai…
Sem julgamento, juízo de valor, mas com um peito bem disponível para se desencantar, desiludir de forma a poder ir ao encontro de algo bem maior que se ergue para acomodar cada contorção de dor… não é drama, não é poesia, não é magia… é pura alquimia que se faz sentir em cada célula…
Diante de nós um castelo de areia que se vai desmoronando… segredando ao ouvido a necessidade e carência de se ver através do outro especial, bonito, poderoso, valioso, amado, seguro, protegido, por conta da imagem que criamos de nós mesmos, pessoas e mundo… seres não merecedores, seres inferiores, seres superiores, indignos de pureza, inocência, prazer e bem-aventurança…
É triste, é comovente, sufocante até… tamanha carga que carregamos e fazemos carregar inconscientemente… como o mundo lá fora alicia, provoca os nossos personagens deslumbrando-os… o carente, o sem valor, a vítima, o feio, o não desejado, que fácil, fácil vai socorrer a sua dor diante daquilo e daquele que supre o seu desconforto, agonia.
Que haja compaixão para com isso, que haja acolhimento, mas com um sentido crítico de quem ousa olhar, questionar e fazer por se descobrir livre dentro dessa realidade.
Relações podem ser campo de crescimento, amadurecimento mas também de poder, manipulação, controle, dependência, roubando a dignidade de cada um… é tão subtil que o fazemos através dos mecanismos mais amorosos, atenciosos, bondosos…
Que possamos abraçar a nossa ignorância, limitação, experienciando, mas de olho e coração presente, atento, aberto para poder sentir, reconhecer e transmutar.
Relações são de facto a beleza da vida e conduzi-las na direção da base essencial, amorosa e compassiva a grande missão, propósito de viver o dharma. De facto, vivê-lo requer de nós a força interna para sair do conforto, do que é aparentemente certo, lógico, comum e dentro de todos os requisitos que nos fizeram crer um dia… a força para entrar gentilmente em cada fantasia, desejo e abraçar com toda a compreensão, aceitação, amparo, tal qual a mãe que acolhe o filho no seu regaço, ora para rir, ora para chorar…
Talvez num primeiro momento o desencanto pareça insuportável, assustador, deprimente que nos conduz ao impulso e desejo de morte, tamanha a luz que se revela para nós…
Talvez tudo pareça não ter sentido, entusiasmo, adrenalina, paixão tamanho o hábito, costume do corpo e mente presos, viciados, manipulados…
Talvez tenhamos de dar tempo e espaço a um novo corpo, olhar, que renascem para contar uma outra história…
Que possamos nos entregar ao mistério do que nos aproxima e afasta com uma mente desperta para conhecer, entender, crescer, amadurecer, ao invés de uma mente que busca apenas os arrebatadores prazeres fugazes, sem tampouco usufruir do tanto que eles têm para nos confidenciar…

HarihOm
Sónia A. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Reflexão # 86 - Libertar o Monstrinho Interno

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O mundo é um lugar seguro e todas as dinâmicas externas apenas a tradução da realidade interna que cada um carrega.
Tem muita dor e ela é tão profunda que podemos senti-la, observá-la no colectivo. Uma dor ancestral que necessita de delicados e amorosos cuidados vindos de um entendimento profundo da existência de cura em si mesmo.
Até quando vamos reagir às provocações do mundo externo com uma mesma moeda de competição, orgulho, arrogância?
Está na hora de baixar as armas, permitir-se abrir o coração e realizar um namaskar diante de todo o ser que cruza o nosso caminho. Está na hora de verbalizar, de descer do pedestal, de dar a mão e descobrir que o Sol é um só e brilha para todos e em cada um. O ar que respiramos, a energia vital, inesgotáveis e sempre presentes.
Que possamos aprender a falar a mesma língua que nos une, não por desejo de possuir, conter, mas porque é universal, humana.
Que possamos falar de medo, de inveja, de raiva, de ciúme, de tristeza com a mesma franqueza, alegria com que falamos dos nossos dons, talentos, sonhos e desejos.
Que possamos dar colo, mimo e amor ao pequeno monstrinho que nos habita sem exigir que se apresente de outro modo, se disfarce ou se faça parecer bomzinho.
Que possamos olhar nos olhos uns dos outros para contar como se sente ferido, atacado, humilhado, desprezado, desacolhido, com a responsabilidade e maturidade sobre si mesmo. Que possamos partilhar como desejaríamos que fosse diferente e como a cada momento é o melhor que se pode e sabe. Como gostaríamos de ser crianças amorosas, compassivas, monstrinhas, traquinas, compreendidas por nós mesmos, libertando mundo e pessoas ao nosso redor de tamanha carga, fardo, que definitivamente não lhes pertence…
O peso, a carga, o fardo que fazemos o outro sentir é só o peso, o fardo, a carga em si mesmo, que de forma cruel propagamos impedindo o outro de encontrar um alívio, uma liberdade em si mesmo e um genuíno desejo de ir ao encontro da sua criança, essência, beleza e força interna.
A vida é um presente que se desembrulha com a espontaneidade, simplicidade, amorosidade de criança, curiosa em descobrir, destemida de sentir e completamente aberta, inocente no se doar.
Vale a pena caminhar…
HarihOm
Sónia A. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Reflexão # 85 - As Conquistas e os Conquistadores

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Profundamente não há pessoas, sonhos e mundo que se conquistam…
A fantasia é tão elaborada que nos desconectamos do que é essencial, montados na pretensão que de tudo e muito se sabe, sem tampouco parar para se olhar e questionar…
Esta é a nossa realidade adoçada por belas frases de amor e sabedoria que nos desviam da responsabilidade…
Lá fora tudo parece provocação, estimulo, brincadeira de criança que saboreia o gosto de exercer poder, de ganhar, vencer, galgar, alcançar…
O jogo é tão intenso, viciante e alienante que desaprendemos a amar com verdade, pureza e inocência um ser, agarrados ao orgulho, à ilusão, ao medo de se despir, de se doar, viajando incessantemente entres montanhas e vales, perdidos do que é invisível aos olhos e que não se faz reconhecido quando se quer mas quando é tempo…
Triste e bem-aventurada realidade essa, que nos conta sobre o desamor uns para com os outros, nascido da ignorância e sustentado por tantos papéis e personagens diferentes que teimo em não querer largar…
Triste e bem-aventurada realidade essa, que nos mostra como nos precisamos humildar e libertar…
Triste e bem-aventurada realidade essa, que nos empurra para o silêncio, apreciação do movimento frenético desse cavalo selvagem que cavalga pela miragem…
Triste e bem-aventurada realidade essa, que nos confidencia os segredos mais doces, simples e inteligentes, que nos conduzem na delicadeza e amparo de um ser que deseja ser ninado pela sabedoria das nossas mãos…
Triste e bem-aventurada realidade essa, que não usa máscara, que não passa a mão pela cabeça e se faz amor presente… que não se esconde mas tampouco se faz parecer… que não reclama tampouco estatuto de dama… que ampara até a maior queda no salto de vara… que acolhe o insensível com maestria imperecível e não calando gigante emoção, é presente em todo o coração…
De verdade não somos os conquistadores e os conquistados… somos meros seres humanos com desejo profundo de realmente serem amados… crianças que apenas desejam brincar de coração para coração com leveza e compaixão… e isso? Isso é a grande missão…
HarihOm

Sónia A. 

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Reflexão # 84 - Sair do Ninho Para Aprender a Voar...

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O mundo externo vai emprestar os cenários que mais precisamos para sair de um ciclo vicioso de dependência ou para permanecer nele, alimentando-o incessantemente. É muito ténue a linha entre uma coisa e outra o que requer entendimento dos mecanismos da mente e um olhar profundo sobre si mesmo. O mundo externo sempre vai aliciar, estimular as tendências, padrões, vícios que carregamos e portanto, com toda a lógica, não responderá aos anseios mais profundos do ser humano por libertação e reconhecimento de paz, felicidade, satisfação. Tudo é temporário, impermanente e a casa, essa, encontra-se nos recônditos do coração, numa morada autoevidente que a mente pode efetivamente reconhecer no silêncio e em silêncio. As palavras mera expressão limitada, condicionada que apenas apontam e conduzem um olhar.
Somos como crianças que jogam e brincam entre si, estimulando o natural desejo de querer reconhecimento, admiração, sucesso, amor. Como se estivéssemos numa roda onde um e outro vai tocando o que mais se quer ver, escutar, saborear. Numa roda de interesses mútuos e oportunidades desejáveis. É tão atraente e sedutor que procurarei com maior facilidade carregar o botão que aparentemente convém, do que aquele que efectivamente necessito, preciso. É mais confortável ser afagado e soprar a ferida do que olhá-la e fazer por curá-la.
Tem uma hora que a mente precisa ser como aquela mãe no ninho que empurra o passarinho para voar…
Ele vai querer ser alimentado de várias formas e feitios no ninho construído para sobreviver, desejando outras mães ao seu redor, mas um dia a mãe vai contar-lhe que é importante sair dele e voar para crescer e aprender a viver… vai contar-lhe que é para isso que servem as suas asas…para dar-se oportunidade de conhecer o céu, as árvores, a tempestade, a bonança…
E essa, talvez seja a maior e mais bela declaração de amor…

HarihOm
Sónia A. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Reflexão # 83 - Empatizar com a Criança Interna

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Quando escrevo, dou oportunidade à criança interna de se revelar, expressar, manifestar o que pensa, vê e sente…
Recomendo vivamente pois trata-se de uma verdadeira terapia…
Quando o faço não só tenho a possibilidade de tocar o seu mundo, como acolher a sua dor, revolta, angustia e constatar como aprendeu a percecionar-se e ao mundo.
Hoje pensava, onde aprendemos a esconder as chaves da sensibilidade, doçura, cuidado e empatia? O que nos leva a passear e como resgatar?
Como podemos nós ser sensível ao outro se tampouco somos sensíveis a nós mesmos?
Como posso criar empatia se tampouco a conheço em mim?
Como tolerar, compreender, abraçar, acolher se não o pratico em mim?
Como fortalecer-se quando se teme desistir?
Como vulnerabilizar-se quando se insiste sobreviver?
Lembrei da meninice e da nossa tendência em minimizar, compensar a dor de uma criança…
Quando ela chora porque tiraram a sua boneca favorita da mão, ou quando fazem pirracinhas, gracinhas com a sua tristeza, ou quando culpam por não ter feito como devia, ou quando mostram como é ridícula a sua conduta…
Essa criança cresce e vira o adulto que treinou muito bem a mascarar tal realidade, que para ser aceite, reconhecido e amado esconde a sua sensibilidade, fugindo ao silêncio como quem foge da cruz, calando com mil e um artifícios a doçura, pintando de cinza a inocência, renegando a pureza da presença…
A todo o momento somos os primeiros a desconsiderar essa criança, a roubar-lhe o espaço, tempo que precisa, a menosprezar a sua conduta enquanto nos deliciamos com bombons e chupa chupas que adoçam o vazio, a dor, compensando-a sem tampouco ter consciência.
Não que isso seja certo ou errado mas que possa vir à luz do nosso entendimento para poder ir ao encontro dessa criança, dessas emoções contidas, reprimidas, e saber o verdadeiro sabor de se oferecer um docinho na sua boca…
Quando ousamos tal, talvez fique mais natural o silêncio, respeito, consideração, amor perante a dor, agonia e tristeza do outro.  Não é assim tão distante da nossa…

HarihOm
Sónia A.

Reflexão # 82 - Desconexão Emocional e os Relacionamentos

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A desconexão emocional, que podemos vivenciar desde cedo, é a razão de relacionamentos baseados em carência e dependência. E por incrível que pareça ela é montada em cima de pensamentos e palavras de amor, gratidão, liberdade, generosidade, humildade e tudo mais, sem o mínimo entendimento da “armadilha” por de trás de cada uma delas.
Quando seres se conectam pela base da autenticidade, reconhecendo o corpo carente, dependente, como isso é humano e insaciável pelas mãos de qualquer humano, algo muito bonito se ergue para se posicionar na vida, não como uma espécie de vampiro mas como uma fonte de amor fundamental, compassivo, que nutre, liberta e verdadeiramente humilda.
Tal requer um olhar muito sincero sobre si mesmo…
Requer virar-se do avesso e questionar cada movimento, motivação, propósito…
As respostas, essas, nunca estarão do lado de fora e normalmente longe do que gostaria ouvir, sentir ou realizar… são as menos prováveis, as mais surpreendentes, desafiadoras e bem longe do que planeamos…
A beleza delas está no poder de gerarem uma verdadeira alquimia interna que se projecta em cada escolha, decisão, relação consigo, mundo e demais.
De facto, mudar uma palha de um palheiro para o outro não significa absolutamente nada se essa palha não contiver em si um compromisso genuíno de se ver para lá da sua condição de palha…
Podemos nascer, crescer, viver e morrer infinitamente, saltando de palheiro em palheiro, construindo grandes obras de palha, tentando ter ao seu lado muitas palhas possíveis, carentes e dependentes, e brincar de muitas formas e feitios…
Um dia reconhecerei como é necessário atear fogo ao palheiro e saber que palhas vão e vêm à mesma velocidade de todas as forças opostas que governam a existência, a cada recolher e expandir, a cada inspiração e expiração…
Um dia vou querer descobrir a real beleza de ser palha que salta de palheiro em palheiro apenas por prazer de se ver, sentir, crescer, reconhecer e contribuir…
HarihOm
S.    

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Reflexão # 81 - Apego ou desapego não tem conta nem medida...

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As grandes e transformadoras mudanças não são externas.
Isso apenas monta o cenário preciso para olhar profundamente o que necessitamos deixar ir. O que agarramos subtilmente no nosso peito, na nossa mente, impedindo-nos de Ser com o fluxo vital que cura, purifica, liberta e conduz com sabedoria.
Se prestarmos bastante atenção, as nossas emoções e pensamentos apontam essa realidade e a possibilidade de descobrir uma liberdade…
Se ousar analisar cada sensação, conflito, medo, raiva, com objectividade, honestidade e responsabilidade, caminhando no encontro de necessidades, desejos, abraçando e acolhendo amorosamente o tudo que se manifesta, saberei que pessoas e mundo são mestres do caminho, são a personificação de Deus, inteligência divina.
Não se abre mão de pessoas, objectos, desejos ou fantasias. Elas não têm de facto uma realidade própria. Apenas são produto da minha percepção interna. Ninguém de verdade gosta ou não gosta, quer bem ou não quer, inveja ou não inveja, aprecia ou não aprecia um outro…
O outro apenas espelha gostos, aversões, feridas, traumas, falsas percepções em si mesmo e de si mesmo e a natureza fundamental de todos nós. 
É tão complexo e subtil que parece louco, arrogante e até pretensioso…
Mas não é… e descobri-lo traz a possibilidade de olhar todos e cada um à luz de algo bem maior que nos oferece prazer, gozo, maturidade para escolher e decidir o que é preciso ser vivido.
Que possamos treinar a nossa mente, dando-lhe tempo e espaço. Que possamos ganhar coragem e aventurar-se com o espírito de criança curiosa que quer saber, aprender e crescer.
Que possamos nos questionar bem profundamente sem medo de ter medo…
O que será de mim se de repente deixar de ter tudo o que tenho?
O que representa o carro, a casa, o projecto, a família, o corpo, a imagem, a crença, o desejo, o sonho?
Qual o propósito de vida se ela não me colocasse à disposição todas essas possibilidades?
Como me sentiria não fazendo ou realizando?
E como sinto, sentindo o sentimento de não fazer e realizar?
Esgotando possibilidades infinitas, o que está presente?
A vida é a maior beleza e riqueza ao nosso dispor…
Que cada pé no chão, na terra, que cada inspiração, expiração do ar mais puro e fresco da natureza, traga até nós essa imensidão…
Que por aqui caminhe aberto para descobrir que as formas serão sempre infinitas para poderem responder à busca de todas as buscas por felicidade, amor e liberdade…
Talvez assim possa acordar e porque desperto, capaz de saborear a mais bela história de amor...
HarihOm
Sónia A.



terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Pensamentos Soltos # 93

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O palco que é a vida vai ofertar-nos muitos arquétipos de pai e mãe que nos vão conduzir, guiar por estradas sinuosas, desafiantes ajudando a escrever a história que nos fez subir ao palco…
Vamos poder representar vários personagens, dramatizar, fantasiar, adornar cada um deles e com tanta intensidade, que estonteados julgaremos real…
No entanto, essa é a beleza do palco e de subir ao palco…
Talvez não a consiga ver com clareza por não me dispor a sentar, contemplar, apreciar e com honestidade analisar…
Como disponho dela orgulhosamente alimentando mais o capricho do que a necessidade fundamental…
Como dependo de tantos pais e mães que parecem oferecer o mundo e a resolução do problema essencial, sem entender que apenas o apontam…
Como desesperado tendo a suplicar que me dêem a mão para não cair, ignorando que é na queda que se aprende a erguer com força interna e dignidade…
Como carente e frágil nego a natural capacidade de poder caminhar com a inteligência e forma dos meus pés…
Como cego me perco entre amor, gratidão que saciam a solidão e tampouco respondem à grande questão…
E assim de mão em mão, entre um e outro trambolhão vamos aprendendo a reconhecer um coração que não deixa ficar na mão, que ampara na solidão, ilumina a escuridão e faz valer todo este teatrão!

HarihOm
Sónia A. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Pensamentos Soltos # 92

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Quando alguém nos responde com silêncio, e por mais que isso desperte em nós dor, memórias conscientes e inconscientes da forma como aprendemos a percepcionar o mundo e as pessoas, talvez possa ser a mais sábia, generosa e amorosa atitude perante um ser que desaprendeu a acomodar isso em si com a confiança, firmeza e sabedoria que carrega.
Por vezes será importante desistir, deixar passar, largar e deixar ir… viver com toda a presença e intensidade o que daí advém… sentir no corpo, na mente, no coração cada grito e choro da criança que se viu em algum momento da sua vida abandonada emocionalmente, lutando e defendendo-se por sobreviver a esse choque…
Hoje, com a possibilidade de um intelecto mais discriminativo, podemos voltar até esse lugar e contar a essa criança uma outra história e através de nós mesmos oferecer-lhe o que necessita para amadurecer, sabendo que não está desamparada, abandonada, sozinha…

E quando achar que se perdeu, talvez possa compreender que nunca esteve tão perto de si…  

HarihOm
Sónia A. 

Pensamentos Soltos # 91


A sombra não tem existência própria. Ela é só o produto do reflexo da luz do sol sobre o corpo físico.
Também assim é com as nossas emoções, pensamentos...
Eles não têm existência própria, apenas nos indicam a presença da luz do sol em nós. 
Talvez tenhamos de aprender a respirar mais profundo, a parar quando a tempestade se montou. O barulho, o turbilhão e o tanto que a tempestade traz consigo, não vai deixar que os olhos vejam com clareza o caminho e o pé no caminho...
Não que isso me tire dele, mas talvez tenhamos de ficar retidos e contidos por algum tempo mais, agonizando e sofrendo. 
Se apreciarmos a natureza e os seres vivos verificamos essa inteligência inata.
As andorinhas esperam a primavera para se lançarem de novo aos céus. As árvores permanecem, firmes e resilientes  para novas folhas brotarem. 
Talvez a nossa mente precise conectar-se a essa ordem sábia, de modo a amadurecer, estabelecendo-se numa visão mais ampla, liberta e amorosa.
Talvez ela necessite do nosso cuidado, atenção, dedicação.
Deixá-la à mercê dos impulsos naturais do que carece e necessita é como colocar uma andorinha debaixo do ápice da tempestade...
Tudo o que ela vai tentar fazer é sobreviver...pouco importam as asas, a potencialidade de voar e em que galho de árvore poisar,  contando que elas batam e a coloquem no lugar mais seguro...   

Harih Om
Sónia A. 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Pensamentos Soltos # 90

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Problema não são as carências, necessidades, desejos…
Problema é ficar à sua mercê, sem um espaço para poder acolher cada momento desagradável de dor, fugindo a sete pés, agarrando a primeira bomba de oxigénio para poder dizer: “poxa, desta já me safei”…não que isso precise ser reprimido, mas olhado com clareza, relatividade, objectividade que merece... 
O que acontece é que o movimento é infinito e vai repetir-se incessantemente até à exaustão, onde nem mais uma bomba de oxigénio tem efeito… saberei que a estou a usar e que não vai resolver o que é preciso...
E aí, talvez possa ficar frente a frente com o medo da morte e todos os outros que compõe a estrutura mental…
Tenho para mim que quanto antes se crie empatia com a dor, quanto antes a possibilidade de a desmistificar e de não fazer dela o monstro que atormenta as nossas vidas…
Não é por se abrir à dor que sou mais ou menos feliz…tampouco isso se mede por sorriso ou ausência de sorriso, por palavras proferidas ou quer que seja…
Não é por reconhecer carências, fragilidades, necessidades que vou enfraquecer as pernas ou a espinha…
Pelo contrário… vou descobrir a maior força interna que me habita e que se expressa na sensibilidade de um gesto, atitude, palavra, escolha, decisão…
Talvez seja necessário desconstruir tantas fantasias relativamente ao amor, à felicidade, à vida, à morte e trazer até aos nossos olhos a simplicidade, autenticidade, espontaneidade de um coração sábio, despretensioso, tolerante, generoso, que ampara todas as emoções e criações da mente.
Que possamos aprender a desistir para poder persistir no reconhecimento do amor compassivo que move a experiência humana e toda a sua diversidade.
No final de gritar, espernear, fazer birrinha, beicinho, batalhar pela melhor chupeta, o bombom mais delicioso, o lugar no pódio e o troféu, está tudo certo!
Que possamos dizer “Eu cá tenho as minhas carências, necessidades, desejos, fantasias e trabalho para relacionar-me com o facto de forma tolerante, amorosa e generosa. Sou responsável por cada uma delas, proponho-me a acolhê-las, escutá-las e atendê-las dentro do que está disponível para mim. 
Um namaskar a todo o semelhante, a todas as circunstâncias, a todos os caminhos possíveis que contribuem para essa proposta tão bela e singela.
HarihOm
Sónia A. 

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Pensamentos Soltos # 89

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As batalhas, o inimigo, a posição do que ataca e do que é atacado, apenas habitam a mente…
Não é real…
Meras fantasias que nos atraem, seduzem e alimentam as mais sofisticadas máscaras do ego...
Como se tal fosse necessário para me sentir vivo, especial e dar um sentido à vida, à existência…
Tão fácil e subtil propagar a separação, até mesmo nas belas palavras de amor e sabedoria…
Talvez seja necessário questionar profundamente cada motivação, cada escolha, decisão, com o olhar voltado para si mesmo e todos os dedos da mão apontando na sua direccção…
O mundo, as pessoas, as situações e circunstâncias não estão aí, única e simplesmente, para dar energia e calor ao meu umbigo e pretensões … isso só faz parte da loucura natural da mente…
O mundo, as pessoas, situações e circunstâncias estão aí para eu poder ser capaz de as reverenciar como oferendas nas minhas mãos, para ter oportunidade de caminhar largando fardos orgulhosos, arrogantes, disfarçados muitas vezes na conduta do humilde, do bom, do ético e do politicamente correcto.
O passarinho não se sente vitima da cobra...não pensa como está a ser ou não atacado... o passarinho sente a sua vida em perigo e faz por sobreviver...


HarihOm
Sónia A. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Reflexão # 80 - Porque Estendo um Tapete e Pratico Yoga?


Uma prática de Yoga precisa ir além de uma mera performance física para que se possa descobrir o prazer de ter um corpo, independente do que ele carrega em si.
Esse prazer não está associado à estética, beleza superficial de quem cumpre os requisitos impostos pelas crenças do que é bonito ou feio. Trata-se de um prazer além da cor dos olhos, o formato do nariz, o aspeto do cabelo, os contornos físicos, índice de massa gorda e até mesmo, para lá da sua habilidade em se colocar nas mais sofisticadas e desafiantes formas…
Uma prática de yoga necessita de ser o palco onde me posso descobrir artista, compositor de uma melodia única, pessoal e sagrada que dispensa os aplausos da plateia…
Um palco onde me permito dançar com o ritmo e par oferecido nas minhas mãos…
Possivelmente vou ter oportunidade de sentir, viver, emoções e pensamentos que me farão querer esquecer tal possibilidade, ou então, que me estimularão a dar o tudo, por tudo, custe o que custar e por cima do que for…
Nem uma, nem outra irá permitir fluir com a tamanha beleza que este corpo carrega…
Preciso estar na dança com a gentileza, amorosidade, curiosidade, determinação e espaço interno, capazes de nos conduzir pela aprendizagem, dificuldades, obstáculos, exposição, de forma transformadora e construtiva…
Talvez possa descobrir como é maravilhoso aprender a dançar, até mesmo quando o corpo parece pesar toneladas, quando piso e torpeço nos meus próprios pés, quando descoordenada e desconectada do meu par, quando não acerto com o ritmo e tudo parece soar a falta de jeito, habilidade e impossibilidade…
Talvez possa descobrir como tudo isso faz parte da dança, do processo de dançar e como desejo fazê-lo até que os pés me doam… 

HarihOm
Sónia A.