imagem retirada da internet
Profundamente,
não é perder pessoas e coisas que tememos mas sim a dor da desconstrução que
nos coloca num espaço de vulnerabilidade…
Se
pensarmos bem, pessoas, coisas despertam em nós boas e más sensações, agradáveis
e desagradáveis memórias, conscientes e inconscientes, afloram necessidades,
carências, satisfazem desejos, pintam uma fantasia e por ai fora. Através delas
somos ofertados com a possibilidade de nos ver e rever, crescer, amadurecer e
aprender a dar um e outro passo na direcção dessa essência pura, simples e espontânea
que todos nós carregamos.
Quando
o fluxo da vida, existência, recheado de forças opostas, contradições,
impermanência, ignorância nos sacode e move, pedindo de nós as mãos que se
abrem para deixar ir o que é preciso ir, sofremos com a ilusão de que estamos a
perder alguém ou alguma coisa. É tão duro para um ego que não se reconhece a si
mesmo, que novos cenários, histórias, fantasias, conceitos, ideias e ideais se
montam para apaziguar tamanha dor e ter força nas pernas para realizar um tanto
mais da travessia.
Faz
parte e profundamente uma bênção. Até aquilo que nos parece cruel, errado,
desonesto e tudo mais. Na verdade meros julgamentos de uma mente que pensa de
acordo com os valores e crenças que construiu. O certo e errado está além das
próprias necessidades, carências e não tem palavra, conceito, definição.
Decidir o certo ou realizar o errado é uma linha muito ténue entre a mente que
arquitecta e os olhos de um coração que vê o que sente e sente o que vê.
No
final saberemos que é como se estivéssemos num tabuleiro de jogo andando duas
casas para a frente, duas casas para trás, lançando o dado que nos oferece a
pontuação necessária e precisa para ganhar conhecimento e saber o processo, as
armadilhas, os obstáculos, os prazeres e aflições do jogo.
Temer
a solidão e escassez é um artifício alimentado pelo ego que se ignora, esconde,
disfarça na tentativa de se ver controlando, manipulando, dominando. Inimigo de
si mesmo, saciando pequenas mentiras que lhe trazem um senso de conforto,
segurança, bem-estar. Frágeis, fugazes que conduzem ao cansaço, conformismo e
negação da possibilidade de resgatar o mais digno e integro em si.
Tocar
a solidão é dar-se a oportunidade de entender que muitas vezes estamos juntos e
rodeados de tudo o que gostamos, queremos conquistar, completamente sós,
desnutridos de amor. Por isso não é obra de tudo o que o externo me oferece
senão o que sou capaz de reconhecer e abraçar em mim, sozinho ou acompanhado.
Talvez até tudo ganhe um outro sabor e valor. Talvez até possa humildar a
mente, abrir o coração para usufruir do imenso prazer de estar em companhia
doando e recebendo sem cobrança, exigência, padrões estereotipados, nutrindo e deixando-se nutrir.
HarihOm
Sónia A.