sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Reflexão # 54 - Uma Semente Nas Nossas Mãos

imagem retirada da internet 

Filho é uma semente oferecida em nossas mãos…
Se as fechar, cerrar com toda a força, possuindo, temendo a sua perda…
Já a terei perdido, ainda que possa estar diante dos meus olhos, entre as minhas mãos…

Semente para germinar precisa de ser colocada em terra fértil…
Precisa de espaço para crescer, de água, sol…
Precisa ser cuidada, regada, olhada e compreendida... 
Flores, frutos germinarão com todo o esplendor…
Cumprindo os seus papéis existenciais…

Flores e frutos não me pertencem…
Não quererei possuir, agarrar de todos os lados e formas…
Estarei erguida, apreciando, sorrindo, chorando e amando…
O crescimento, amadurecimento…
Doando palavras, gestos, atitudes…
Acolhendo e amparando nas vicissitudes…

Certamente precisarei podar, tratar, trabalhar
Mas que seja à luz de um necessitar, respeitar e não expectar…

(Sónia Andrade) 

domingo, 10 de janeiro de 2016

Nas Asas de um Beija-Flor...

imagem retirada da internet

E ela disse:

Vem e ama-me…
Ama-me como se ama uma flor…

Mas… e como se ama uma flor? - Perguntou

Passeia pelo jardim e contempla-a…
Toca as suas pétalas com firmeza e delicadeza…

Aprecia a sua textura…
A cor que assume…

A poeira que liberta com os ventos…
A fragrância que subtilmente deixa soltar…

Passa os dedos pelo seu caule sem a quebrar…
E tampouco as suas raízes arrancar…

Cuida, protege…
A sua beleza elege…

Vai e volta com as asas de um beija-flor…
Que poisa e bebe néctar de amor…

(Sónia Andrade) 

Reflexão # 53 - A Perfeição da Imperfeição Humana...

imagem retirada da internet

A perfeição das relações, gestos, palavras, acções encontra-se na simplicidade, espontaneidade da aparente imperfeição humana…
Então, que se busque o entendimento da imperfeição humana à luz da perfeição que a sustenta e ampara…
Saberei que a todo o momento vivo, sinto, vejo, aprecio o momento que preciso… que é sagrado, perfeito, fundamental… que me move, posiciona, dinamiza na direcção do reconhecimento de quem sou e o que faço aqui…
Que se aprenda a sentar, respirar profundamente…
Que se aprenda a aquietar e acolher esta condicionada mente…
Que se aprenda a confiar…
Que se aprenda a parar…
Que se aprenda a observar…
Que se aprenda a abraçar…
Que se aprenda a esperar…
Que se aprenda a rezar…
Que se aprenda a amar…
Que se aprenda a apreciar a beleza do caminho…
Com toda a dor, agonia, tristeza, medo e desejo de se ver livre, feliz…
São essas as forças que me empurram…
Deixai-as vir…
Saberei reconhecer a luz verdadeiramente se conheço a escuridão…
Escuridão só é real na ausência da luz…
De nada adianta querer iluminar a escuridão com luzinhas de positivismo mentalizado…
De nada adianta mentalizar eu sou feliz, eu sou amor, eu sou paz, eu sou livre, escamoteando a tristeza profunda que me habita, ou a dor que apenas são o produto, reflexo do amor que eu sou…
Como poderei reconhecer uma coisa querendo a todo o momento fugir, escamotear, eliminar a outra? Não tem sentido lógico…
Preciso reconhecer a natureza fundamental onde me incluo e que se encontra além de corpo, mente, emoções, sentimentos…
Poderei passar os dias da minha vida focado em “melhorar” a minha personalidade, identidade, corpo, emoções, sentimentos, relações, preso à ilusão de que isso será a porta de entrada para a minha libertação, entendimento de quem sou… mas estaremos apenas actuando superficialmente...
Preciso ir mais além… entender que eu não sou a minha personalidade, identidade, corpo, emoções, sentimentos, relações… que isso apenas é uma pequena composição daquilo que sou…
Assim poderei olhar cada um desses objectos observáveis em mim e conduzi-los, guiá-los, nutri-los, abraçá-los, amá-los, livre do equivocado valor que lhes atribuo relativamente à felicidade que sou, aqui e agora.
A acção será dotada de presença, simplicidade, genuinidade, responsabilidade…
Cada dificuldade, obstáculo no caminho, uma pedra preciosa que se esculpe…
Harih Om
Sónia.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Pensamentos Soltos # 61


Sofrimento é alimentado pela mente que nos cega e incrustado no coração pela intolerância, incompreensão, arrogância, medo e culpa. 

(Sónia Andrade) 

Pensamentos Soltos # 60


Dor é dissolução do sofrimento na luz do amor… 

(Sónia Andrade)

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Pensamentos Soltos # 59


Perder é só o produto da falsa ideia que ganho o quer que seja…

Não sou um ganhador mas um recebedor de possibilidades onde se inclui as aparentes perdas…

(Sónia Andrade)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Reflexão # 52 - Pais e Filhos Esculpindo-se...

Quantos de nós, pais em constante e permanente aprendizagem, crescimento, já não se viu a cometer aqueles velhos padrões de sempre, que saltam no momento menos esperado, automáticos e com tanta força que nos cegam e nos levam a fazer e dizer tudo aquilo que gostaríamos que fosse diferente? Pois bem, eu sou um desses, uma dessas… um adulto que carrega feridas, traumas, frustrações profundas e que decidido a olhá-las de frente, assume a sua ignorância, impotência, limitação e desejo de com tudo isso fazer diferente, melhor e de acordo com a natureza amorosa, sensível, compassiva, que fundamentalmente nos compõe.
Vestir o papel do pai ou mãe que pretende adquirir um estatuto de bom, perfeito, dedicado, consciente, porque fala de determinado modo, defende determinadas ideologias, age segundo formas, maneiras e propósitos teorizados por estudiosos e pessoas reconhecidas pelo imenso know how, sem assumir, reconhecer as suas dores, fragilidades, vulnerabilidades, expondo abertamente para um filho com toda a humildade, amor e vontade de poder fazer melhor e diferente, é como ir à beira do mar mergulhar uma onda e ficar convencido que por isso conhece o oceano.
Que adianta falar de sentimentos, emoções, de gestão de conflitos, stress, educação consciente e por aí vai, se sou intolerante aos meus erros, rotulando-me de incapaz, de mais ou menos que este ou aquele? Se na mente desenhei um ideal para se conquistar, um monte de tralha a se provar, de toda a culpa me livrar e fantasiosamente ver-me amar? Sem chance… na primeira contracurva vou espatifar-me entre um grito, um estalo, um castigo, uma ordem… e o pior é que vou lamentar-me pelo sucedido e tentar reparar o estrago com abracinhos, beijinhos, facilidades, permissividades, passividades e por aí vai… 
De verdade não estarei a contribuir para que uma criança reconheça e se reconheça… não estarei a contribuir para que ela cresça confiante com as suas fragilidades, erros, dificuldades…
Estarei a pintar na sua mente uma mera imagem e miragem...
Estarei num mesmo ciclo de sempre mascarando-o apenas de novas formas e cores…
Educar de forma autêntica e genuína é contribuir para seres autênticos e genuínos. Para isso preciso escancarar os meus medos, descer do pedestal, ver quanto sou limitado e condicionado, ver como carrego dor, sofrimento e fazer de tudo isso o barro com o qual vou esculpir uma peça que comunica amor, paz e liberdade.
Juntos nos esculpiremos…
Juntos nos ajoelharemos num abraço que grita: “Amo-te” …
Juntos lamentaremos, manifestaremos nosso desejo de aprender, escutar e crescer…
Juntos pediremos aos deuses, às fadas, ao universo, sabedoria, acolhimento, amparo…
Juntos daremos as mãos, caminharemos com a leveza de um coração que não exige, apenas É, e uma mente que pacientemente se vai esculpindo manifestando e expressando palavras, gestos amorosos, delicados, harmoniosos e pacíficos…
Juntos nos comprometeremos e respeitaremos… a dor de uma criança que vê o seu cavalo imaginário ser destruído e desconsiderado é a mesma do adulto que igualmente vê as suas palavras, indicações e desejos…
Possamos nós através das nossas crianças contar uma outra história e simultaneamente fazer as pazes com a nossa…
Harih Om
Sónia


domingo, 3 de janeiro de 2016

Pensamentos Soltos # 58


A vida na forma deste corpo, mente, emoções é um breve suspiro…
Uma inspiração e expiração profundas num acto de entrega, desapego e rendição demorado…
Vem e vai com a mesma complexidade, mistério, infinitude de um pensamento…
Vem e vai com a mesma inteligência de uma flor que brota nos campos na primavera, para no inverno desaparecer e por ciclos infinitos renascer…

(Sónia Andrade)

sábado, 2 de janeiro de 2016

Pensamentos Soltos # 57


É certo que o ser humano é capaz dos actos mais bárbaros, cruéis e repugnantes.
Somos diariamente informados de grandes atrocidades e desconhecedores de tantas outras omitidas, oprimidas e escondidas.
Falar que pessoas, situações e circunstâncias são luz nas nossas vidas, que contribuem para o conhecimento de nós mesmos, para a possibilidade de tocar, curar as nossas feridas mais profundas e transmutá-las, soa a algo meio romântico e longe de ser uma realidade constatável. No entanto isso é fruto de uma ignorância, de um sofrimento que nos cega, limita, condiciona e nos faz repetir incessantemente padrões, vícios, condutas destruidoras e auto destruidoras.
Quando ousar ver o outro como um ser de luz, amor e olhar atentamente o que manifesta, desperta em mim, caminharei para a escuta activa dos contornos emocionais da minha história, para a narrativa da minha personalidade, para a pintura do negro e colorido em mim e para a execução de um namaskar em jeito de agradecimento.
Libertar-me-ei de falsos conceitos de amigo e inimigo para dar lugar a relações mais genuínas, verdadeiras, responsáveis.
Quererei o silêncio e a presença à aprovação, consolo e simpatia.
Quererei um olhar sincero, profundo ao sorriso rasgado e engraçado.
De todo o coração direi: Não quero ser teu amigo, amigo. Obrigada amigo!

Sónia.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Reflexão # 51 - Ano novo, vida nova?!



Ano novo, vida nova?! O que efectivamente muda? Não repetimos nós velhos padrões de sempre usando apenas uma nova forma de maquilhar a máscara?
Poderei eu assumir isso e ver-me autêntico, nu, vulnerável, condicionado, limitado, impotente e por isso livre, pleno, amoroso, compassivo e disponível para oferecer dons e talentos a uma mente que desce do trono de cabeça erguida, certa de que não quer aquele posto?

A transição de um ano para o outro é celebrado como um momento de renovação, de festa por mais um ano que se viveu, de reflexão, de balanço do que se perdeu, conquistou, dos sucessos, das alegrias, das tristezas e por aí vai. Cada um à sua maneira comemora de acordo com o valor atribuído a cada uma dessas coisas. Uns comem como se o mundo fosse acabar amanhã, outros bebem para esquecer, outros para extravasar uma aparente felicidade e alegria, outros chorando e lamentando uma triste sina, outros refastelando-se em luxo, soberba, outros rezando, confraternizando e comungando, outros criando rituais que exaltam a beleza da vida, mas todos movidos por uma força comum… a força de uma dor existencial.
Todos estamos num mesmo barco…. uns remando à frente, outros mais atrás mas juntos num mesmo sentido…
É bonito perceber como por instantes a mente humana é invadida por uma lufada de generosidade, bondade, votos cheios de felicidade, amor. Como se por instantes ela relaxasse e abrisse as suas janelas para receber alguns raios de luz, sol e calor. Uma super onda se forma e por momentos rende-mo-nos à evidência da nossa natureza amorosa, simples e espontânea.
Tudo certo mas insuficiente.
Insuficiente as palavras bonitas, insuficiente as palavras inspiradoras, insuficiente as doses de auto estima, insuficiente todas as infinitas formas de auto desenvolvimento pessoal, insuficiente a escuta dos mais entusiastas, envolventes, comoventes personagens com o dom da palavra, insuficiente, inclusive, a presença do mais sábio mestre. Insuficiente todos os sonhos do mundo, insuficiente toda a boa vontade, insuficiente toda a fantasia, magia e até mesmo a maior alegria.
Para que tudo deixe o seu carácter transitório, superficial, efémero e fugaz eu preciso ver além. Preciso tocar a dor existencial que não é só minha mas de todos. Para isso preciso desmascarar-me… preciso de força, coragem para olhar nos olhos o monstro em mim, criado na ardileza da mente e por vezes assumindo formas tão subtis, revelando-se nos gestos aparentemente mais puros e ingénuos. Preciso mudar o meu ângulo de visão e expandi-la. Preciso de atenção e humildade no coração. Preciso assumir o orgulho, a arrogância, ganância, o ciúme, a inveja, o medo, com toda a doçura, tolerância, desapego do coração, com toda a agudeza, clareza, lógica e objectividade da mente. Preciso colocá-la a serviço de algo maior que ela mesma, que lhe trará em gesto de oferenda a real vitória, o real sucesso, a real alegria e bem-aventurança… a luz, o amor, a liberdade que a sustentam e a possibilitam de criar um novo mundo, uma nova era, uma nova sociedade.

Que todos os seres sejam prósperos e felizes
HarihOm
Sónia.