Para
realizar qualquer estudo que me permita assimilar um conhecimento, seja
matemática, espanhol, filosofia é importante conduzir a minha mente a um
determinado nível de concentração, aquietamento que a permita entender logicamente
factores, variáveis, conteúdos. Por essa razão é tão comum verificar estudantes
que se isolam nas suas casas para estudar, mesmo que às vésperas de exames e
provas orais. Nesse período de tempo, e na proporção do quanto fui capaz de me
concentrar, raciocinar, entender e memorizar, assimilei um conhecimento que me
aprovará ou não e me qualificará como detentor de conhecimento de uma determinada
matéria.
Quando
iniciamos um estudo de vedanta é comum que esse padrão nos acompanhe. É o que a
mente reconhece, fruto de uma educação, de princípios e valores incutidos por
uma sociedade de “fast food”. Falando na primeira pessoa, e condicionada pelo
meu tipo de mente, facilmente me impressionava com a quantidade de conhecimento
que um professor tinha, quantas palavras sabia em sânscrito, quantos mantras,
quantos rituais, quantos ásanas. Fantasiava um perfil de professor assim como o
conhecimento. Procurava o reconhecido e mergulhava numa tentativa meio
desesperada de absorver todas aquelas coisas que supostamente me trariam o
conhecimento e fariam de mim um professor capaz. Mas, não funcionou… como
poderia estar a minha mente disponível para tudo aquilo se dentro do meu peito
reinava o caos? E mais, como poderia eu sentir-me motivada para aprender tudo
aquilo? Parecia que o desejo do meu coração em encontrar paz era superior ao
desejo de saber todas as coisas, ser reconhecido do tal que é detentor de
conhecimento porque domina muito…
Parecia
que aqueles trilhos do yoga não eram muito diferentes dos de outrora… como se
eles apenas estivessem disfarçados por novas práticas, novos hábitos, escolhas.
Começara
então a perceber que teria de haver algo mais. Certamente haveria forma de me
conectar com aquelas palavras que lera nos livros e até mesmo aquelas que
ouvira de um ou outro professor. Elas eram músicas para os meus ouvidos. Por
instantes o meu peito ganhava um fôlego de esperança. Mas porque me pareciam
tão distantes e inalcançáveis? Este episódio do meu processo trouxe até mim o
entendimento da importância de satya, da verdade. O que me move em direcção ao
estudo de vedanta? O que pretendo efectivamente? “Fast food” que alimenta o desejo
fugaz da mente em se apropriar de nobre e grandioso acervo, ou alimento que
nutre a fome do meu coração em se livrar de tanta amarra, de tanta arrogância e
pretensão?
Depois
de me encarar olhos nos olhos, sem rodeios e paninhos quentes outros valores se
reflectiram essenciais. A capacidade de confiar, de se conectar com a verdade
que é desvendada em cada palavra contida nos textos escutados. A capacidade de
se entregar a uma tradição de ensinamento e à pessoa que assume o papel de
professor. Não se trata de dizer apenas que confio ou que me entrego… isso é
pouco e a qualquer momento estarei a tirar as garras de fora, a engendrar mil e
uma formas de me escapar, de fugir, de me defender…
Essa
confiança e entrega, reconhece-se no coração… como se visse no do outro o meu…
Depois
de tal estabelecido urge a necessidade de reconhecer outros… como a coragem, a
determinação, a firmeza, persistência e resiliência.
Desmascarar-se,
despir-se de tanto adorno e fantasia é doloroso…
Caminhar
em direcção ao reconhecimento do mais puro, natural, simples em si, traz
consigo muita aflição… como se voltasse no tempo para me sentir, para me ver e
voltar a viver a mesma dor… só assim poderei perceber o meu sofrimento, o meu
problema existencial e quem sou além de tudo isso. O reconhecimento da nossa
criança interior, o papel da família, o papel da mãe, do pai. Este entendimento
tem tanto de libertador como de triste. Portanto preciso estar certa ao que me
proponho, confiante e entregue para não bacilar e correr a sete pés, e
corajosamente resiliente para chegar ao final deste grande enredo.
Vedantanão é um conhecimento igual a todos os outros que nos acostumámos a absorver. O
seu processo é peculiar e exige de cada um de nós o uso dos valores mais
fundamentais e essenciais que são causa da criação. Satya, sraddha, virya não
se criam…reconhecem-se no âmago do nosso coração, como se pertencessem a uma
inteligência, a uma ordem que nos conduz nesta busca humana.
Posso
exercitar a minha mente e torna-la hábil a cultiva-los, para que por fim os
possa reconhecer como sempre presentes e parte integrante de mim e do todo.
Om
Sónia.
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