imagem retirada da internet
Quanto
mais permanecemos “cheios de nós” maior as probabilidades de se estatelar a
cada virar de esquina…como diz o provérbio popular “quanto maior a subida maior
a queda”. Nada de errado há em reconhecer os seus talentos, as suas aptidões,
belezas, dons, mas colocá-los como forma de se considerar especial, fora de série,
separado e divido do outro, a maior armadilha da mente humana. Se prestarmos
atenção, fazemo-lo tão subtilmente que inclusive se disfarçam em grandes gestos,
palavras de humildade, generosidade e sorrisos de enorme simpatia e
amorosidade.
Facilmente
deslumbramo-nos com a apreciação, o reconhecimento, os aplausos, as manifestações
de respeito e valor. Também com a mesma facilidade nos desiludimos na ausência
de tudo isso correndo desesperadamente numa busca. Criamos uma auto-imagem e
junto com ela um determinado tom de voz, olhar, postura física, gesto e tudo mais.
Somos os primeiros a dizer a minha presença, a minha atitude, os meus feitos,
as minhas conquistas, a minha energia, a minha história, o meu currículo, o meu
trabalho, as minhas obras e por aí vai. Também somos os primeiros a dizer como
não valho nada, como sou um falhado, como não consigo, como não tenho, como
quero ter, como não sou e como quero ser. Sem querer, desenvolvemos ora uma
arrogância simpática, ora uma arrogância amorosa, ora uma arrogância gentil,
ora uma arrogância sisuda, convencendo-se de tudo menos de um coração que a
todo o momento deseja repousar numa paz inabalável.
Podemo-nos
assistir num verdadeiro ringue ora defendendo, ora atacando, lutando para ficar
de pé, vitorioso, digno de respeito, consideração, valor. E ainda que no final
me venham levantar o braço e entregar um troféu, o coração, esse do qual jamais
poderei fugir, permanecerá insaciável. Na verdade pouco lhe vale as luzes da
ribalta ou os aplausos da malta, pouco lhe vale simpatias ou ironias…
Ele
nutre-se de simples e genuínos abraços… aqueles
que me dou a cada reconhecimento de erro, covardia, orgulho…a cada
reconhecimento de como temo e sou impotente… a cada reconhecimento que nada me
separa do outro… a cada reconhecimento que o outro é presença divina na minha
existência, vida e não um adversário, inimigo ou alguém a quem devo provar,
mostrar, ou ainda, alguém que devo possuir, conter, reter…
Ele
nutre-se das mãos que se abrem, das emoções que dançam e do pensamento que é
livre do seu julgamento…
Ele
nutre-se da ousadia de se despir e sem qualquer preconceito, mostrar-se nu…
Ele
nutre-se da boca que se fecha para que ouvidos escutem…
Ele
nutre-se da cabeça que se baixa para que corações se erguem…
Ele
nutre-se de lágrimas que se soltam para que mentes se purifiquem…
Assim
poderá respirar esplendorosamente…
Livre de nós porque “cheios de nós”…
Harih
Om
Sónia.
Sónia.
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