imagem retirada da internet
Hoje
reflectia sobre a palavra auto estima e como crescemos a ouvir sobre a sua
importância, num sentido tão equivocado enquanto contributo nas nossas vidas.
Na
verdade, tratamos o fenómeno com tanta superficialidade que a todo o momento
estamos a trabalhar na produção de uma auto imagem, reforçando o nosso senso de
carência, limitação e inadequação. Se nos atentarmos aos estímulos externos,
percebemos como eles simplesmente alimentam a infinita ignorância, fundamental
à natural e espontânea busca do ser humano por felicidade e libertação. Se
prestarmos atenção aos movimentos de uma criança, percebemos que desde cedo ela
procura ver-se através dos olhos do outro. Então, ela vai procurar o colo, o
afecto, o elogio do pai, mãe para se poder ver fonte de amor e assim
sobreviver, realizando, passo a passo, a busca da sua condição humana. Nascer, crescer,
morrer, descobrir, criar, sofrer não é mais do que esse mecanismo dinâmico e
supra inteligente, de perfeita condução ao que se tem e precisa viver,
experienciar, para se reconhecer livre, pleno e feliz.
Até
aqui tudo certo.
No
entanto, é muito comum associar amor-próprio e auto estima à forma como me
apresento fisicamente, intelectualmente, emocionalmente e por aí vai.
Certamente já nos deparámos com a necessidade de pintar os cabelos brancos
porque a sua aparência é sinónimo de desleixe, descuidado por si mesmo,
necessidade de acabar com a celulite, os pontos negros, corrigir o nariz, os seios,
apetrechar-se das roupas da moda, adoptar uma atitude mais rebelde optando pela
diferença e colocando-se com alguma extravagância, usar uma posição de firmeza
e segurança baseada numa performance, numa forma linguística e corporal, usar o
conhecimento intelectual, cultural, usar inclusive formas de se expor
emocionalmente, inteligente e maduro. São infinitas as possibilidades com que
cada um se apresenta ao mundo, expressando a sua personalidade com todas as
limitações e condicionamentos inerentes ao seu papel e propósito. Tudo certo
também. Em todo o caso, nada disso reflecte, verdadeiramente, auto estima ou amor-próprio,
no sentido que a palavra merece.
Estima,
amor por si mesmo é fruto do reconhecimento da minha natureza fundamental que
permite desejar o bom trato, o cuidado, a escuta, a delicadeza, a doçura.
Conduzir um ser nessa direcção, é apontar-lhe o caminho interno que precisa
trilhar, conhecer, proporcionando-lhe momentos de atenção, escuta, amor,
comunicação amorosa e pacífica, aprendizagem de valores e sobretudo, exposição
verdadeira e sincera da vulnerabilidade, carência humana.
De
nada adianta correr atrás do mundo lá fora… serei sempre um sedento que morre
no deserto enquanto mira uma gota de água…
Que
triste, fugaz, cansativo, doentio, doloroso isso é…
De
que vale o cabelo preto, branco, louro, curto ou careca se não me permito
sentir o balanço e o frescor do vento…
De
que vale o nariz pequeno, grande, torto ou direito se não me permito sentir a
fragância fresca de uma essência de sândalo no corpo ou da rosa do jardim…
De
que adianta o meu ventre, os meus seios, grandes ou pequenos, se não me permito
senti-los como obra divina, fruto do prazer, do alimento, da vida…
De
que adiantam os meus pés, orelhas, mãos, grandes ou pequenos, se não me permito
pisar a terra, escutar, apreciar os pássaros a cantar, dar a mão…
Afinal,
para que serve este corpo, esta mente, este fluxo de pensar e sentir, senão
para caminhar na direcção desse amor em mim mesmo, por mim mesmo, que me
impulsiona à estima, ao cuidado básico, fundamental, amoroso e nutritivo?
Porque
tendo a colocá-los à mercê de comparações, competições, desejos de poder ser
aceite, respeitado, amado, valorizado, apreciado? De que base vem o conceito de
amor-próprio e auto estima?
Eu
quero amar e estimar a imagem que tenho de mim mesmo e por sua vez do outro? Ou
quero amar o que sou, aqui e agora, nu, despido, acolhendo, abraçando,
apreciando a beleza que não é susceptível de ser manipulada?
Até
quando eu vou coleccionar "upgrades" que fantasiosamente contribuem para o chamado
amor-próprio?
Quando
eu vou ousar tirar os óculos que carrego, que me iludem, distraem da realidade
e fazem de mim o mendigo de amor que se faz passar por aquele que tem elevada,
reduzida ou nenhuma auto estima?
Saiba
que não precisa sequer dizer ou transmitir que se ama, que se estima…
Amor
é a sua condição… e tais afirmações perdem o seu sentido lógico…
E se
por ventura diz que não se ama ou estima, saiba que é mero fruto da ignorância
que precisa ser removida através de um meio de conhecimento e não de um
conjunto de objectos que saciam momentaneamente carências e necessidades.
Harih Om
Sónia Andrade
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