domingo, 26 de junho de 2016

Reflexão # 62 - O Ego tem um quê de impostor...

imagem retirada da internet 

Se ousarmos olhar e analisar os nossos pensamentos, desconstruindo cada um deles, analisando a sua raiz, perceberemos como na maioria das vezes apenas são o fruto do que alimentamos à luz de gostos, aversões, carências e desejos. Como são voláteis, mutáveis e dentro de um puro interesse pessoal de se ver fonte de amor.
Quantos de nós já não se viu a criar as mais hilariantes fantasias, a alimentar, criar discursos, teorias, justificativas para fenómenos, situações, circunstâncias? A adivinhar o que outros pensam, sentem sem tampouco ousar questionar, intuindo e concluindo como verdade absoluta? A deduzir, arquitectar, crendo no que supostamente o coração diz? O ego tem um quê de impostor… com facilidade encontrará os mais sofisticados e ardilosos mecanismos para assumir o controlo. Vai criar deuses, fadas, duendes, almas do outro mundo, energias suspeitas e tudo mais para continuar no trono… saberá discursar sobre todas essas coisas, reduzindo a realidade a tudo aquilo que alimenta o senso de identidade. É uma atitude meio desesperada de agarrar nas suas mãos o que aparentemente traz segurança, protecção, amor. A todo o momento procuramos as melhores moletas para conseguir realizar o nosso caminho. Elas variam de acordo com o momento que vivemos, o que valorizamos e para onde queremos ir. Óbvio que tudo isto faz parte de um jogo, onde todos estão a jogar, mas é importante trazer consciência e pouco a pouco, ir deixando pelo caminho as moletas, reconhecendo que é possível seguir em frente, descobrir nova forma de ver os passos que dou, a caminhada que trilho e o verdadeiro, real propósito dela.
Cada um está por si mesmo, tentando sobreviver, galgando os muros que impedem a visão clara e precisa de quem sou eu. Tudo o que almejo é reconhecer-me amor, compaixão, plenitude, felicidade. Mas embriagado em ignorância coloco tal feito nas mãos do que é externo a mim e muitas vezes de um jeito tão subtil que só mesmo coragem, determinação, foco, honestidade, objectividade para ultrapassar tamanho obstáculo.
A dor é profunda mas com ela vem um campo interno aberto, disponível para deixar que pessoas, experiências, situações, circunstâncias passem sem querer nenhuma em nossas mãos… sem perder tempo com criações fantasiosas e desprovidas de realidade, aprendendo, sorrindo com cada uma delas, usando-as como ferramenta de observação, interpretação, contemplação, apreciação do que mais puro, simples, espontâneo habita em nós.
Certa vez ouvi do meu professor que normalmente os fenómenos da vida não são o que planeamos e hoje essa frase faz muito sentido na minha cabeça e coração. Que graça, sabor, entusiasmo teria esta vida se só estivéssemos à mercê de uma mente maluca, bipolar, interesseira que usa as mais diversas máscaras e se auto-convence da capacidade de exercer poder, controlo, domínio? Certamente já estaríamos todos exterminados sem tampouco ter apreciado um bom momento, que normalmente acontece quando ela por instantes relaxa e presta atenção no que se encontra ao seu redor… por vezes percebido numa piada, num silêncio, numa emoção…
Que possamos nos reconhecer um belo jardim com flores de infinitas formas, que Deus planta… possam os nossos sentidos, intelecto apreciar essa obra de arte e contribuir com aquilo que compete a cada um… possamos ter o discernimento, clareza, humildade, ausência de orgulho e arrogância para o fazer com a mesma graciosidade.
HarihOm
Sónia A.



  

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