foto de João Benjamim Pereira
Certamente
que alguns de nós já há-de ter tido a experiência de se embriagar, intoxicar de
comida, bebida, droga e sair para “curtir” os amigos, a música, a noite e
sentir que assim está a viver, aproveitar a vida que afinal é tão curta…
E
assim vamos por muito e muito tempo, porque é de facto difícil entrar em
contacto com a dor que nos liberta e nos devolve a sanidade.
A
mente é bombardeada com imagens e formas que aliciam os nossos sentidos, que
aliciam a nossa ignorância, que aliciam o propósito da nossa vida e busca.
Podemos tomar como exemplo as redes sociais que estampam a todo o momento um
conceito de felicidade, vida, liberdade, beleza que engoda o nosso senso de
incapacidade, escamoteado nas tentativas de também parecer muito feliz, livre,
cheio de vida, projectos, afazeres e tudo mais.
Não
há nada de errado com os factos, eles são a beleza do jogo. No entanto, é
importante tomar consciência para que eu possa efectivamente sorrir a par com
eles.
Certamente
que também há-de estar na memória de alguns de nós os efeitos colaterais de um
estado tóxico de euforia, alegria, alienação, alucinação e "curtição" momentâneas.
Um corpo quebrado, uma mente pesada, lenta, indisposta e pouco disponível para
o mundo, a vida, as pessoas, incapaz de apreciar o mais subtil, natural e
fresco da natureza. Chama-se ressaca e a tendência de a curar é voltar ao mesmo
ciclo e ritmo que me leva para bem longe de mim e dos outros.
Assim
nos tornamos viciados, dependentes com probabilidade de patologia, doença e
dispostos a trata-la superficialmente e à conta de outros e outros mecanismos susceptíveis
de dependência e que de facto não nos tiram desse ciclo sem fim. Tudo apenas e
só por medo imposto e, ou criado por falsas crenças acerca de nós mesmos…
Não
muito diferente fazemos com as nossas relações. E também elas podem tornar-se, pelas nossas mãos, tóxicas e susceptíveis de nos tornar dependentes emocionais. Fazemo-lo
por ignorância, por sobrevivência, imaturidade e desespero. Aparentemente
felizes, alegres, satisfeitos até a “droga” fazer o seu efeito… quando ele vai
embora vem a ressaca e com ela, dor, agonia, confusão e desejo de correr a sete
pés em busca de outra dose… e assim vamos coleccionando relacionamentos,
experiências, frustrações, amarguras, ilusões, fantasias, em busca daquilo que
só está sob a responsabilidade das nossas mãos, mente, corpo, emoções.
Curar-se
de si mesmo talvez seja a maior declaração de amor, talvez seja o mais íntimo
de todos os relacionamentos. A forma que essa cura toma pouco importa, contando
que seja o mais sincera e honesta à luz de um velho e sábio coração que na
ausência de palavras conta e aponta.
Que
possamos ser aquele fruto que permanece sabiamente na árvore despida, entregue
à tempestade e à bonança com confiança inata de quem vê inteligência suprema.
Possa ele amadurecer o quanto precise, possa ele desprender-se do tronco quando
é tempo, possa ele cair ao chão, servir com as suas sementes para que outros
frutos possam nascer, crescer e amadurecer.
HarihOm
Sónia A.
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