imagem retirada da internet
Todos
nós carregamos uma ferida existencial e sem ela seria inexistente qualquer
forma de impulso e irrelevantes as palavras como amor, compaixão, felicidade,
libertação, realização, autoconhecimento. O que nos move numa busca é a espécie
de inquietação que habita os recônditos dum coração sem forma, espaço ou tempo,
que conduz corpo e mente num processo de maturidade, reconhecimento da realidade
que sou. Como se caminhassem no meio de um nevoeiro cerrado que lhes impede uma
visão mais ampla de si mesmos, impulsionando-os naturalmente a caminhar, querer
sair daquela névoa e finalmente encontrar a visão que lhes traz relaxamento, paz,
contentamento e aquele “descanso do guerreiro” que cessou a sua luta e busca,
abrindo os seus braços para a vida e para a morte.
Este
processo é longo e recheado de intempéries, bonança que jamais poderão nos
desviar do propósito do caminho, dos passos e do “descanso do guerreiro”.
Naturalmente vamos desesperar nas tempestades, sentir dor, desconforto e
desejar sair debaixo dela, lutando, fugindo, procurando sobreviver, adiando o
contacto com o fenómeno, de peito aberto, destemido, confiante, que me revelará
a sua mutabilidade, relatividade, inteligência e propósito maior. Da mesma
forma posso distrair-me na bonança, aliviar, compensar carências, fragilidades,
alimentar as minhas fantasias e passar o verão a cantar como a cigarra, que se
esquece que o Inverno está à porta e se não trabalhar vai morrer de fome…
Quando
decidimos expor-nos a um método, a uma tradição milenar estamos a receber uma bênção
dos deuses, uma oportunidade de ser o menino que caminha por entre nevoeiro,
tempestades, bonança, de mãos dadas com o pai e a mãe, até as suas pernas
deixarem de tremer e ficarem fortes, firmes para seguir em frente. A tradição é
esse pai e mãe que guiam o seu filho, ensinando-o a ter as rédeas da sua vida,
escolhas, decisões, resgatando, alimentando a sua integridade, dignidade. É o
pai e a mãe que nutre, ampara no seu amadurecer e que pouco a pouco vai
largando a mão do seu menino para que ele caminhe por si só, inteiro,
confiante, pleno e feliz.
Nesse
processo muitas serão as emoções, sensações. A tradição vem pelas palavras,
acções de pessoas, seres que abençoadamente recebem esse papel e que
amorosamente dão o seu melhor a desempenhá-lo. Por vezes vamos amá-los, outras
odiá-los. Vamos sentir alegria, tristeza, raiva, revolta, medo, ciúme, inveja,
amor, compaixão. Vamos iludir-se e desiludir-se. Vamos apaixonar-se e desapaixonar-se.
Vamos querer parar, depois terminar, mais tarde continuar e aprender a segurar.
O “bicho vai pegar”, a catarse operar mas ainda assim se vai querer ficar,
porque é o pai e a mãe que estão a falar, é o pai e a mãe que estão a contar e
com todo o seu amor a ensinar…
De
toda esta trama, cenário, drama, história, ficará de herança o conhecimento de
uma cultura, histórias épicas, rituais, língua, poesias sagradas, mas acima de
tudo um individuo que ao entrar em contacto com os arquétipos que carrega
dentro de si, consegue ser mestre ao relacionar-se com cada um deles. Um
individuo que aprende a ser pai e mãe de si mesmo, descobrindo o infinito amor
que o permite.
Que
possamos seguir em frente passando adiante tamanha beleza e proeza.
O
meu namaskar aos mestres e professores que decidem fazer das suas vidas a
representação de um papel tão intimo, puro, inocente e profundo.
Bem
hajam.
HarihOm
Sónia
A.
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