Quando
é oferecido a uma criança espaço para ela se revelar, ser, algo muito belo
podemos apreciar… a inocência, espontaneidade, pureza, amor e sabedoria na hora
de relacionar-se com a ignorância que carrega.
Inteligentemente
não a julgará de boa ou má, tampouco quererá removê-la… abalada por um
sentimento doloroso apenas desejará vivê-lo exatamente como se apresenta,
expressando-o da forma que o seu corpo pede, procurando mecanismos de amparo, nutrição
que lhe permite sobreviver…
Pude
perceber tal fenómeno quando a minha filha me pediu colo, silêncio, abraço,
presença no seu esconderijo secreto, quando experienciava a dor de a sua
amiguinha ter indo embora...
Montou
o drama, chorou, gritou, esperneou e rejeitou qualquer
conversa que justificasse a sua dor… toda a vez que abria a boca ela dizia “
Mamã não quero ouvir nada…só quero ficar contigo em silêncio”…
Foi
uma lição para mim e um objecto de reflexão…
Quantas
vezes nos colocamos diante da dor dos outros com essa postura de grande
conhecedor, querendo transmitir a todo custo fórmulas, métodos, caminhos sem
tampouco dar-lhes tempo e espaço para ser aquela criança que deseja viver a sua
dor, ignorância pedindo apenas presença, amparo e nutrição?
Sem
dar conta apenas estamos a retirar o poder pessoal de cada um, a contribuir
para negligenciar a força interior que carrega e para escamotear o como ela
anda de mãos dadas com a capacidade de expor vulnerabilidades e fragilidades.
Na
verdade, quando nos posicionamos dessa forma, conhecedores de grandes teorias,
charadas, orgulhosamente detentores de fórmulas que curam feridas, apenas
estamos a enganar-nos mais um pouco e a ignorar a incapacidade de ficar frente
a frente com as suas próprias dores, que a bem da verdade não são assim tão
diferentes das dos outros, tampouco das crianças.
O que
acontece é que somos crianças crescidas que aprenderam a mascarar as suas
dores, agonias e a fazer delas objecto de orgulho, arrogância, prepotência,
vitimização e tudo mais.
Talvez
tenhamos de nos dar oportunidade de caminhar em direcção a essa criança
esquecida, perdida e dar-lhe oportunidade de viver todas as suas dores,
exactamente como se apresentam… sem julgar de bom ou mau, certo ou errado e
aprender a ser a mãe que senta com toda a sua presença e fica silenciosamente
amparando, nutrindo.
Sónia
A.
HarihOm
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