Um
dos trabalhos que desempenho é levar até às escolas o yoga. Na verdade uma
grande bênção para quem trilha este caminho do entendimento de si mesmo. Posso
sentir o prazer, a alegria de estar a contribuir para a vida de alguém e
simultaneamente para a minha. Expor-me diante de um grupo de crianças e tentar
transmitir-lhes algo que possa ser útil para um crescimento em harmonia e equilíbrio,
reconhecendo o amor, a beleza de ser e existir, é a maior de todas as
motivações. Em todo o caso ela pode ser atraiçoada pelas expectativas criadas
relativamente à performance de uma aula, à performance das próprias crianças,
ao resultado, etc. Se por um lado eu pretendo transmitir um conjunto de técnicas
físicas, de respiração, relaxamento, meditação, por outro, pretendo fazê-lo com
o interesse espontâneo e livre da criança. E esta tarefa, que aparentemente
parece poder ser tirada de letra com a maior das facilidades, não a é. Constato
que se torna fundamental um amadurecimento emocional, um entendimento dos
nossos sentimentos, dos nossos padrões de pensar e agir, para que possamos
desempenhar um determinado papel com a firmeza de propósito, com a ousadia de
criar e recriar, com a humildade de questionar e se questionar e com a coragem
de reconhecer a criança que também há em nós. Cada vez que me desloco a uma
escola para dar uma aula de yoga, penso que estratégias usar para captar
atenção daqueles pequenos seres, naturalmente curiosos, energéticos, criativos
e lhes ensinar uma determinada ferramenta que contribua para se conectar a si
mesmo e o quanto isso é valioso no seu crescimento. Lá chegando deparo-me com
crianças com tanta necessidade de extravasar, de se movimentar, expressar, que
sentar para me ouvir, aprender, sentar para respirar ou deitar para relaxar, é um
enorme desafio. Aí, entra a firmeza de propósito quando me proponho a
desempenhar este papel… e ousar que se crie um aparente caos numa sala, um
aparente reboliço e pelo meio uma acção que desperte a curiosidade de uma
criança… encher um balão, cantar uma música na viola, imitar um macaco, fazer
simplesmente silêncio e porque não contar-lhes da minha frustração por não
estar a conseguir que me ouçam e pedir-lhes que colaborem, que contribuam…
Se é
maior a minha ânsia de ver objectivos atingidos à luz da perfeição com que uma
criança faz uma postura física, ou o quanto ela é obediente na hora de sentar, fazer
um exercício de respiração e como ela fica quietinha na hora de relaxar, usando
o autoritarismo, coagindo-a, recompensando-a porque fez tudo direitinho, é
garantidamente como plantar uma sementinha que cresce “torta” num lindo e pomposo
vaso…
Vale
a pena reflectir sobre isto. Questionar as nossas acções, motivações,
convicções. E aproveitar a bênção de estar perto de crianças para também
crescer e aprender com elas.
Om
Sónia.
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