Um dia percebemos o
quanto vivemos enclausurados numa bolha de pensamentos, sentimentos que nos
roubam paz, sanidade, energia, criatividade, capacidade de produzir, de se
relacionar ou simplesmente relaxar. Rotula-mo-nos de ansiosos, depressivos, inadequados, miseráveis criaturas condenados a uma triste sina. Assistimos com grande agonia
à nossa busca incessante por algo que possa curar uma espécie de ferida, buraco
existencial. Talvez pessoas mais sensíveis, observando claramente essa
realidade nas suas vidas, achem que têm efectivamente um problema pessoal,
incomum e do qual não se conseguem libertar. Desesperados e procurando resposta
para as nossas aflições, desejos de ser de outro jeito, lá vamos experimentando novas formas, nomes e conceitos, ora recorrendo a sessões de coaching, ora
recorrendo a sessões de mindfulness, ora lendo as 101 maneiras de ser feliz e
por aí adiante. Efectivamente, servimos a nossa mente de óptimos “upgrades” que
a habilitam a se posicionar doutra forma nas experiências da vida. Com treino e
dedicação lá aprenderei a ter outro discurso comigo mesma, com os outros e lá
criarei uma outra imagem de mim, mais positiva, eficiente, prática, etc. Em
todo o caso isso parece não ser suficiente para resolver o meu problema… em todas
as lições ensinaram-me como falar, dizer, pensar, agir. Ensinaram-me como a
vida é bela, como pode ser bela. Ensinaram-me o que não devo fazer, o como
posso fazer e até aí tudo certo. Vale a lição. Mas… como eu me livro deste nó
no peito quando eu falo determinada coisa bonita, aparentemente bem inteligente
e sábia, e um coração por dentro cavalga?! Como fazer caber todas essas coisas
ouvidas e aprendidas no peito?! Como eu sossego o meu coração se aprendi que um
bom orador discursa de forma segura e como oradora o coração quer sair pela
boca?! Como encontrar a paz se me ensinaram que um pai consciente não usa
determinado discurso com o seu filho e por dentro sinto enorme fúria?! Como
esta controvérsia me pode ajudar? Qual é a saída? Como encontrar paz?! Serei eu
digna de amor? Ou esse amor é apenas uma maneira romântica de ver a vida? Será
mais uma fantasia?
Incrédulos e
resignados a uma visão, boicotamos a possibilidade de nos ver um tanto além e
de poder analisar, abraçar e acolher o problema em mim. Boicotamos a
possibilidade de descobrir um amor e felicidade que não é uma fantasia, mas a
razão pela qual uma criança sujeita às condições mais miseráveis e precárias
ainda tem espaço para sorrir.
Vale a pena dar-se a
oportunidade e espaço para pensar, reflectir. Vale a pena observar-se
verdadeira e honestamente, o que nem sempre vai ao encontro do que é ensinado.
Vale a pena mergulhar nas profundezas, tocar a ferida e ser responsável pela
sua cura. Vale a pena questionar cada pensamento, emoção, sentimento ao invés
de questionar pensamentos, emoções e sentimentos de outros. Nunca saberemos de
verdade. E ainda que eles possam ser comunicados nunca o serão perfeitamente.
Vale a pena ser responsável pelos seus próprios pensamentos ao invés de
responsabilizar outros. Vale a pena estar com os seus pensamentos ao invés de
tentar adivinhar os de outros. Afinal o que pensamos de outros é apenas o que
vive no nosso pensamento.
Vale a pena a chance
de se ver livre.
Vale a pena a chance
de estar livre.
E olhando a imagem
escolhida para acompanhar estas palavras, vale a pena descobrir a beleza de
viver com a bolha, na bolha, feliz com todas as bolhas que possam
existir ao seu lado!
Om
Sónia.
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