O
contacto com a tradição védica e o estudo de vedanta ampliam a nossa visão,
trazendo à mente o entendimento claro e objectivo de determinadas acções, como
rituais, práticas e uso de deidades como Ganesha, o menino com cara de
elefante. Óbvio que não se pretende acreditar que existiu um menino cuja cabeça
foi cortada pelo seu próprio pai e que desesperadamente correu em busca de uma
cabeça para o seu filho, e que a sua barriga enorme era porque comia imensos
doces, e por aí fora. Esse é o obstáculo que pretendemos exactamente
transcender apoiando-nos no estudo e na preparação de uma mente que seja capaz
de vislumbrar a sua limitação e de vislumbrar além de si mesma.
Rituais,
imagens, práticas funcionam como símbolos que ajudam a mente nesse processo, dotando-a de conhecimento sobre si mesma, dotando-a de valores que a permitem
encontrar um estado favorável ao entendimento dum conhecimento que não pode ser
equiparado ao conhecimento que se acostumou a adquirir e assimilar.
É
comum depararmo-nos com uma espécie de resistência interior, fruto de
ignorância, ausência de compreensão clara, objectiva e lógica. É precisamente porque existe
essa resistência, esse desconforto que nos devemos questionar, olhar com sinceridade,
livre de dogmas, ideologias, doutrinas sociais, politicas, religiosas.
Talvez
possamos ser abençoados com a possibilidade de nos ver iguais, livres da
identificação com grupos sociais, políticos, económicos. Livres de hierarquias,
status, elites e tudo aquilo que erroneamente me traz a noção de ser maior,
melhor, especial, merecedor ou não merecedor, etc.
Mas,
porque decidi fazer a actividade de criar um “altar” de Ganesha versão lúdico-infantil?
Precisamente
porque estou convicta da importância de uma criança, que se encontra no seu
estado mais puro, crescer valorizando o momento onde possa sentar e “conversar”
consigo. Um momento de fechar os olhos, respirar profundamente e escutar o seu
coração. Um momento de entrega e de oferenda. E perceber o quanto isso pode ser
prazeroso e libertador.
Contar
a ela o significado das orelhas grandes de Ganesha, o significado de ser
barrigudo e de ter o amigo rato sempre ao seu lado, o significado da sua tromba
e dos seus olhos.
Contar
a ela que Ganesha é um mestre e que tem muito para nos revelar e ensinar. Que
podemos nos divertir imenso aprendendo, descobrindo e reconhecendo.
Om
Sónia.
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